Um filme com quase 14 horas de duração chama a atenção na programação da 12ª Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte (CineBH), que terá início na noite de hoje (28) e vai até o próximo domingo (2).

La Flor mostra a história de quatro atrizes interpretando vários personagens em diferentes histórias e gêneros. Sua exibição será dividida em três sessões distribuídas ao longo do evento.

A obra, realizada ao longo de nove anos, já acumula premiações internacionais e é dirigida pelo argentino Mariano Llinás.

O cineasta é integrante da produtora independente El Pampero Cine, fundada em 2002 e vem se consolidando no continente por sua iniciativa de propor novos modelos de realização.

Ela será a principal homenageada desta edição da Mostra Cine BH, cuja temática central é “Pontes Latino-Americanas”.

“Se pegarmos a maioria dos festivais internacionais de cinema do Brasil perceberemos que são quase automaticamente vitrines do que passou nos principais festivais europeus. E isso em alguma medida acaba criando um discurso sobre o que é o cinema contemporâneo. Mas, ao olharmos para a América Latina, vemos experiências próximas. Em parte, decorrente de uma mesma materialidade concreta e econômica, que gera problemas de distribuição e de produção. E, em alguns momentos, esta realidade fez com que os cinemas desses países se encontrassem e trocassem ideias de maneira mais frontal, a exemplo dos cinemas novos dos anos 1960”, disse Francis Vogner, um dos três curadores da Mostra CineBH.

Distanciamento com o tempo

Segundo ele, o objetivo desta edição é tentar reaproximar as cinematografias dos países latino-americanos.

“Tivemos um distanciamento com o tempo, porque também os países são diferentes entre si e têm suas peculiaridades. Conhecemos hoje muito pouco da cinematografia argentina, por exemplo. De outros países, menos ainda. E eles também conhecem pouco do cinema brasileiro. Então, recriar pontes latino-americanas não é simplesmente fazer uma reprise como podem pensar alguns. É tentar pensarmos juntos similaridades e disfunções”, acrescenta.

A mostra é uma iniciativa da Universo Produções, que também organiza as tradicionais mostras de cinema de Tiradentes e de Ouro Preto.

Sua primeira edição ocorreu em 2007. A promoção foi crescendo ano a ano e ganhando espaço no cenário cinematográfico nacional. Uma das preocupações dos organizadores é levantar debates sobre questões atuais envolvendo o cenário cinematográfico no Brasil e no mundo.

No ano passado, por exemplo, eles optaram por desenvolver a temática “cinema de urgência” e discutiram a produção de filmes em contextos de crise social e política.

Seleção mescla produções contemporâneas

Para abordar a temática da edição deste ano, houve uma seleção que mescla produções contemporâneas com filmes das décadas de 1960 e 1970.

Há obras do Brasil, Argentina, Chile, México, República Dominicana, Colômbia, Bolívia, Uruguai e Cuba. Além de La Flor, outro filme da El Pampero Cine será exibido no evento: La Mujer de los Perros, dirigido por Laura Citarella e lançado em 2015.

Francis Vogner considera que a decisão de homenagear a produtora argentina estimulará o debate sobre os modos de produção.

“A El Pampero Cine vai na contramão da produção mais industrializada. Os cineastas não produzem com verba de editais públicos, trabalham com pouco dinheiro e com fontes de recursos que não são as mais tradicionais. E dessa forma empreendem outros modos de produção e de circulação”, explica Vogner. De acordo com ele, mesmo aqueles que só puderem assistir uma das três sessões do filme La Flor conseguirão extrair sentido da obra.

O curador avalia, porém, que a produtora argentina não é necessariamente um modelo a ser seguido, mas é uma experiência que fomenta a reflexão.

“Permite que toquemos num ponto que alcança o cinema latino-americano em geral. De que maneira vamos fazer filmes e garantir que eles circulem? De que maneira vamos trazer uma inovação cinematográfica? Muitas vezes estamos condicionados aos mesmos modos de produção e consequentemente aos mesmos modos de criação, o que leva ao lançamento de muitos filmes que se parecem. Às vezes não há tanta liberdade criativa”, opina.

Programação gratuita

Na Mostra CineBH, há atividades para todas as faixas etárias, todas elas abertas ao público e gratuitas. Apesar do enfoque desta edição no cinema latino-americano, a programação também inclui títulos da Europa e dos Estados Unidos.

Ao todo, serão exibidos 75 filmes de 13 estados brasileiros e de mais 13 países, incluindo algumas obras em pré-estreia. São 27 longas-metragens, três médias-metragens e 45 curtas.

As sessões cinematográficas estão sujeitas à lotação dos espaços e, por essa razão, senhas serão distribuídas com 30 minutos de antecedência. A programação completa inclui ainda exposições, seminários, oficinas, apresentações artísticas e shows.

As atividades são distribuídas em seis espaços distintos de Belo Horizonte, entre eles, o Teatro Sesiminas, Sesc Palladium, Cine Theatro Brasil Vallourec, Cine Santa Tereza e a Praça Duque de Caxias, no bairro de Santa Tereza, onde foi instalado um cinema ao ar livre.

Outra preocupação é contribuir para o desenvolvimento do mercado audiovidual brasileiro, possibilitando o intercâmbio de profissionais e dando visibilidade a novos autores, atores e outros talentos.

Neste sentido, paralelo ao evento, ocorre desde 2009 o Brasil Cinemundi, um encontro internacional de coprodução que reúne representantes da indústria mundial com interesse em coproduzir com o Brasil e conhecer pessoalmente projetos que muitas vezes não chegam até eles. Neste ano, a programação prevê a participação de 23 convidados estrangeiros, de 12 países.

da Agência Brasil