Um peixinho perdido de um lado e, do outro, um pai desesperado. De quebra, uma coadjuvante que rouba a cena e frases que já estão no inconsciente. Era uma receita simples até demais para dar certo, mas foi ela a responsável por toda uma geração voltar a assistir filmes ditos “infantis”.

“Procurando Nemo” é visto pela geração anos 2000 com o mesmo carinho que os filhos dos anos 1990 lembram de “O Rei Leão” e a “A Bela e a Fera”, por exemplo. Explicar um fenômeno em poucas linhas é uma tarefa ingrata, mas o Cine Set vai tentar resumir por que, 15 anos depois, o filme ainda encanta quem o assiste.

1. Um filme que dá lições sem ser enfadonho

“Procurando Nemo” narra a história de um pai: Marlin, o peixe palhaço que não tem graça. Mas a falta de humor dele se deve a uma tragédia que cria toda a motivação do enredo. Quando Nemo ainda é uma “ova”, seus irmãos e sua mãe são mortos por um predador. Assim, o pacato recife de coral se torna um lugar ameaçador para o pai super-protetor. Nemo, um jovem peixe curioso, enfrenta seu pai e, por isso, é levado por um pescador.

A aventura começa quando Marlin tem que enfrentar o oceano, com Dory, que, apesar de ter perda de memória recente, se mostra leal do início ao fim da trama. A confiança entre os dois é construída com sofrimento. O roteiro conecta com maestria a falta de confiança nele por Dory ao medo que tinha por Nemo (‘você pensa que pode tudo, mas não pode, Nemo’).

O segundo núcleo da trama, centrado em Nemo, mostra a relação do jovem com os peixes do aquário, que , ao contrário do que se espera, não é pacato. O senso de urgência é marcado pela ameaça da pequena Darla. A menina, que atua como a vilã da trama, receberá Nemo de presente de seu tio dentista. Outros peixes que tiveram o mesmo destino foram parar no esgoto. Os peixes do aquário tentam ajudá-lo a fugir, mas ele não consegue. Porém, quando descobre que seu pai cruzou todo o oceano para encontrá-lo, desperta nele a esperança. Com uma narrativa dramática, com pitadas de comédia, o filme é uma ode a confiança e superação de traumas. Marlin vence seus medos e reconstrói sua família.

2. A genialidade da Pixar

A Pixar já não era nenhuma novata no jogo em maio de 2003, quando “Procurando Nemo” estreou nos cinemas dos Estados Unidos. Entre o êxito dos dois primeiros “Toy Story” e “Monstros S.A.” e o sucesso discreto de “Vida de Inseto”, o estúdio estava dando novo fôlego a uma Disney presa a fórmulas que já não estavam dando certo.

Em contrapartida, outros estúdios já começavam a correr atrás do prejuízo. O primeiro Oscar de Melhor Animação, por exemplo, foi para “Shrek” e o ogro foi o primeiro fenômeno da animação do século 21. Enquanto isso, o Studio Ghibli continuava a entregar pequenas obras-primas, como “A Viagem de Chihiro” e “O Castelo Animado”. Mas se a Pixar mostrava regularidade, foi com “Nemo” que ela emocionou o público de vez – e daí até “Toy Story 3” e “Divertida Mente”, quase não houve acidente de percurso.

3. O roteiro engraçadinho

No papel, “Nemo” poderia ser um drama, mas foi o carisma dos personagens e o roteiro bem construído de Andrew Stanton que fizeram da animação um deleite para o espectador. Frases como “Sou alérgico a H2O”, “P Sherman 42 Wallaby Way, Sidney”, “Nemo? Que nome bonito” e, claro, “Continue a nadar, continue a nadar” são tão repetidas quanto um “Hakuna Matata” ou um “Bibidi Bobbidi Boo”.

Nem só de boas frases se faz um roteiro, obviamente. As situações propostas por Stanton também são impagáveis, das tartarugas centenárias ao tubarão que é amigo dos outros peixes, passando pelos peixes que ajudam Nemo a fugir do aquário na Austrália. Além disso, a ligação entre os dois núcleos da história e os medos de Marlin, já citados no início do texto, é fundamental para que o espectador sinta ligação com o que se passa na tela. Marlin vence seus medos, reconstrói sua família e se transforma em um peixe palhaço engraçado.

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4. A cativante Dory

Se a Disney/Pixar nos ensinou algo nesses anos todos, é que para todo grande protagonista, há pelo menos um coadjuvante ainda melhor e disposto a roubar a cena. No caso do filme de Andrew Stanton, a desmemoriada e desmiolada Dory é tão presente e importante na história que acabou ganhando um filme.

Muito se deve à dublagem – no original de Ellen DeGeneres e na versão brasileira, de Maíra Góes – que imprimiu humor e sentimento à peixe e fez das frases dela (muitas já citadas acima) sucesso de público. Essa é para quem acha que dá para colocar qualquer Luciano Huck pra recitar as falas de um personagem de animação.

*colaborou João Bosco Soares, o fã número 1 de ‘Procurando Nemo’