Jeanne Moreau, uma das atrizes mais emblemáticas do cinema francês e musa da Nouvelle Vague, morreu em Paris, aos 89 anos, informou nesta segunda-feira seu agente.

Moreau, que atuou em mais de 100 filmes ao longo de uma carreira de 65 anos, incluindo “Amantes” de Louis Malle, “Jules e Jim” de François Truffaut e “O Diário de uma Camareira” de Luis Buñuel, foi encontrada morta em sua residência na capital francesa, afirmou à AFP a prefeita de seu distrito, Jeanne d’Hauteserre.

De acordo com várias fontes, o corpo foi encontrado na manhã desta segunda-feira por uma pessoa que trabalhava na limpeza da casa.

“Se foi uma parte da lenda do cinema”, afirmou o presidente francês Emmanuel Macron em um comunicado, no qual descreve Moreau como uma mulher “livre, rebelde e a serviço das causas nas quais acreditava”.

Seu talento, beleza fora do comum e voz profunda fascinaram grandes cineastas, como Joseph Losey (“Eva”), Wim Wenders (“Até o Fim do Mundo”) e Orson Welles (“História Imortal”), que a descreveu como “a melhor atriz do mundo”.

“Tenho dentro de mim uma espécie de energia que não controlo”, explicou a artista, para quem o cinema “não era uma carreira, e sim uma vida”.

“Para mim o cinema nunca foi uma indústria. Não me importa meu valor na bilheteria”, afirmou uma vez.

Moreau, que trabalhou até os 87 anos, pensava que com o tempo e o sucesso fazer seu trabalho estava se tornando “cada vez mais difícil”, sobretudo diante da “tentação, à qual não se deve ceder, de fazer qualquer coisa para agradar o público, ao invés de fazer aquilo com o que estamos profundamente de acordo”.

Ícone feminista

Jeanne Moreau interpretou várias mulheres rebeldes, inconformadas e à margem da sociedade.

Em “Duas Almas em Suplício”, de Peter Brook, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes em 1960, deu vida a uma mulher da burguesia insatisfeita, atormentada.

Protagonista de “Jules e Jim”, de François Truffaut (1962), um dos filmes mais cultuados da Nouvelle Vague, encarnou uma mulher livre e moderna, enquanto em “A Noiva Estava de Preto” (1967) matou cinco homens por vingança a sangue frio.

Em 1998 recebeu um Oscar honorário pelo conjunto de sua carreira das mãos de Sharon Stone. Dez anos depois recebeu um “Super César”, uma homenagem da Academia de Cinema francesa.

Começou sua carreira no teatro aos 19 anos, integrou a Comédie-Française e participou no primeiro Festival de Avignon em 1947, sob a direção artística de Jean Vilar, antes de retornar ao mesmo evento 60 anos mais tarde.

Jeanne Moreau se casou duas vezes, a primeira em 1949 com o cineasta Jean-Louis Richard, com quem teve um filho Jérôme. O segundo matrimônio, com o diretor americano William Friedkin, durou dois anos.