Uma nova onda de filmes de terror de baixo custo está desafiando os grandes estúdios com uma fórmula que troca o excesso de sangue e os sofisticados efeitos especiais por um bom suspense à moda antiga.

“O homem nas trevas”, que estreou nesta quinta-feira (8) no Brasil, recebeu críticas positivas e se espera que tenha tanto sucesso quanto “Babadook” (2014), “Corrente do mal” (2014) e outros títulos com orçamento pequeno que lucraram muito nas bilheterias.

Sem as possibilidades de comercialização dos hits cinematográficos do verão, esses filmes conseguem sucesso através do “boca a boca”, ganhando impulso a medida que os críticos exaltam sua recusa a usar os recursos de terror habituais.

“O estilo de terror que prevalece hoje é tudo que seja inteligente, uma nova versão de uma viagem histórica ou um trailer incrível”, disse à AFP Jeff Bock, da empresa de pesquisa da indústria cinematográfica Exhibitor Relations.

“Como vimos ultimamente, os filmes de terror ‘inteligentes’ estão na moda nesse momento”, disse, acrescentando que sempre é emocionante que “um ícone do terror reviva para uma nova perseguição.”

“Corrente do mal” (2014), filme inspirado nas obras de mestres da década de 1980 como Wes Craven e John Carpenter, é citado como uma joia dessa nova tendência de filmes.

Seu diretor, o americano David Robert Mitchell, foi aclamado por tecer da melhor forma uma trama que transformou o clichê de adolescentes ameaçados por uma força sobrenatural maligna em uma história original.

Usando o susto
Uma das figuras principais, Daniel Zovatto, é também protagonista do filme de Federico Álvarez “O homem nas trevas”. É o segundo longa-metragem do diretor uruguaio após o remake de 2013 do clássico do terror “A morte do demônio”.

Realizado com um orçamento de apenas US$ 10 milhões, “O homem nas trevas” mostra como um trio de amigos invadem a casa de um ermitão cego e terminam em uma aterrorizante luta entre a vida e a morte.

“Quando apresentamos o filme as pessoas não tinham nem ideia do que se tratava. Não fizemos trailer, não fizemos nada”, disse Zovatto, um costarriquenho de 25 anos.

O que torna o filme diferente é recorrer muito pouco ao susto gratuito, elemento básico nos filmes adolescente de terror.

Zovatto, que aparece junto ao veterano dos palcos e das telas Stephen Lang, a relativamente desconhecida Dylan Minnette e a estrela de “A morte do demônio” Jane Levy, disse que cresceu vendo filmes de terror, mas que com frequência ficava decepcionado.

“Há alguns anos, particularmente na minha adolescência, via filmes desse tipo e ficava devastado porque não tinha a oportunidade de ver algo de que gostasse”, disse.

“Sinto que essa nova onda trouxe uma perspectiva diferente ao gênero e novos diretores como Federico Álvarez e David Robert Mitchell, que estão mudando o panorama.”

Não à história mastigada
Álvarez, que coseguiu quase US$ 100 milhões com “A morte do demônio” a partir de um orçamento de US$ 17 milhões, se orgulha de tentar “ver o que fazem os outros e ir na direção contrária”.

Após dirigir um novo remake relativamente convencional, este uruguaio de 38 anos queria evitar casas encantadas, motosserras, zumbis e recursos facilmente usados nos filmes de terror.

Após crescer vendo com seu pai filmes de Alfred Hitchcock – primeiro “Psicose” e depois “Um corpo que cai”, além de “Pacto Sinistro” –, Álvarez diz que, para ele, o terror “nunca foi os sustos e os sobressaltos, mas sempre foi o suspense”.

“Gosto de muitas coisas e queria trazer elas para essse filme: uma era o suspense e a segunda é que os personagens sempre têm uma dúvida moral.”

“Você vê Janet Leigh roubando dinheiro em ‘Psicose’ ou conspirando abertamente para matar uma mulher em ‘Pacto sinistro’… não são os heróis cotidianos de Hollywood”, lembra.

Ao contrário de oferecer a história “mastigada”, Álvarez acredita na incorporação de nuances ao caráter dos personagens centrais, para que os espectadores possam decidir por si mesmos quem merece sobreviver, quem deveria receber o dinheiro e como tudo vai acabar.

da Agência France Press