Escrevi aqui anteriormente que um dos temas deste retorno de Twin Peaks depois de tantos anos é a passagem do tempo. Para nós, os espectadores, os rostos dos atores que trabalharam na série no começo dos anos 1990 ficaram congelados no tempo, por isso às vezes é meio desconcertante revê-los velhos, com rugas, cabelos brancos ou sem cabelos. E em episódios anteriores, David Lynch parecia comentar sobre isso – talvez rever seus velhos colegas de seriado tenha sido, às vezes, um choque tão grande quanto é para nós. Afinal, como vimos em episódios recentes, para vários dos antigos personagens de Twin Peaks, envelhecer não foi muito bom.

Alguns sofreram traumas e parecem ainda não ter se recuperado, como Audrey. Outros parecem presos no tempo, como Sarah Palmer – Lynch torna isso visual ao mostrar a personagem sozinha em casa assistindo a um loop infinito de uma luta de boxe na TV. James é outro parado no tempo: Na cena do Roadhouse desta Parte 13, ele volta a cantar a irritante/terna/bobinha canção “Just You and I”, momento marcante lá da segunda temporada da série em 1990. A aparência e a voz meio frágeis do ator James Marshall dão uma pungência a esse momento. E o tio de James, o Big Ed (Everett McGill), aparecendo pela primeira vez, ainda parece arrastar um enorme caminhão pela Norma (Peggy Lipton). É outra figura presa num loop de tempo, e Lynch nos mostra que existem poucas coisas mais tristes no mundo do que ver um homem velho e sozinho tomando sopa numa caneca dentro de uma sala escura.

Este é um dos aspectos mais extraordinários da nova Twin Peaks: Lynch e seu parceiro Mark Frost se recusaram a ceder à nossa cultura da nostalgia. Sua nova versão da série nos mostra a passagem dos anos e não nos faz sentir confortáveis com isso. Rever esses atores e seus personagens nem sempre foi uma experiência bacana e empolgante, muito diferente de reencontrar Han Solo e a Princesa Leia em O Despertar da Força, por exemplo. O passado não volta, por mais que às vezes o desejemos e que alguns personagens estejam presos nele. Já quanto a nós, do lado de cá da tela, também temos que aprender a lidar com isso. Lynch parece querer que saiamos do nosso próprio loop, se pudermos.

Considerações sobre o chihuahua mexicano:

  • A CENA do episódio: Cooper do Mal e os bandidos que queriam mata-lo numa… Queda de braço! Mas o braço dele também evoluiu… MacLachlan é fantástico na sua versão maligna, e ele também está indo para Twin Peaks.
  • Dougie traz uma energia positiva a todos ao seu redor, até mafiosos e corruptos. Mesmo assim… Ele batendo a cara na porta de vidro foi bem engraçado.
  • O tempo está estranho no seriado: Bobby disse que acharam a mensagem do Major Briggs “ontem”? Mas como? Foi há quatro episódios atrás! Será que a cidade vai explodir numa fenda no espaço-tempo? Eu não duvidaria.