Oi Robert,

 tudo bem, cara?

 Preciso admitir que te zoei durante muito tempo.

Grande parte motivado por causa disso:

Cá entre nós, sua atuação em “Crepúsculo” do vampiro brilhoso era ridícula. Você pode ter ganhado milhões de dólares, ter ficado famoso no mundo inteiro, mas, no fundo, tenho certeza que sabia o quanto era vergonhoso estar ali. Havia uma disputa constrangedora no trio de protagonistas para saber quem estava pior e, apesar da vitória de Taylor Lautner, você se “esforçou” o quanto pode para levar o “prêmio”.

Mesmo com o roteiro e os diálogos horrorosos, além de todos os furos e momentos constrangedores da saga, o negócio era tão feio que pensava como alguém o teria escolhido para fazer Edward Cullen e até como alguém nunca dissera que você não tinha talento para ser ator. Sim, cruel, eu sei.

Igual acabei por fazer com “Cinquenta Tons de Cinza”, meu prazer ao assistir “Crepúsculo” era saber até onde ia o fundo de poço. Nas duas franquias, sempre fui recompensado: o pior sempre vinha!

Meu preconceito continuou fora de “Crepúsculo”: “Água Para Elefantes”, por exemplo, era um melodrama sem graça em que você permanecia apático, agora, acompanhado da Reese Witherspoon. Já “Lembranças” nem me dei ao trabalho de ir ver para não alimentar o ódio.

Enquanto crescia o pensamento de que este era o Leonardo DiCaprio que a geração emo merecia, quase por acidente, fui assistir “The Rover – A Caçada”. Era um drama apocalíptico, espécie de “Mad Max” sem grana e mais sóbrio, lançado quase sem alarde nos cinemas brasileiros. E foi um mini-tapa na cara: não é que você estava surpreendente bem? Sem os maneirismos de galã de fala sussurrante e a cara de bobo, havia uma fagulha de um bom ator que estava escondido em algum canto então desconhecido do público e até de si próprio.

As surpresas continuaram com dois projetos seguidos ao lado do mestre David Cronenberg – “Cosmópolis” e “Mapas Para as Estrelas”. Mesmo contracenando com gente do porte de Paul Giamatti, Juliette Binoche, Mathieu Amalric, Julianne Moore, você rouba a cena em todos os momentos. Werner Herzog (“Rainha do Deserto”), Anton Corbjin (“Life”) e James Gray (“Z – A Cidade Perdida”) foram outros gigantes do cinema mundial a terem se encantado com o teu talento.

Nada, entretanto, foi mais marcante que o teu excepcional trabalho em “Bom Comportamento”, dos irmãos Safdie. Talvez seja a síntese do que você procurou após “Crepúsculo”: fugir da escolha óbvia, longe dos papéis certos para as temporadas de premiação ou dos blockbusters sucessos de bilheteria, em produções desafiadoras tão narrativamente como no próprio processo de construção de personagem.

Esta coragem me fez mudar totalmente minha visão sobre o teu trabalho e, inclusive, aguardar com real ansiedade obras como “Waiting for the Barbarians”, de Ciro Guerra (“O Abraço da Serpente”), “The Lighthouse”, de Robert Eggers (“A Bruxa”), “High Life”, de Claire Denis (“Minha Terra África”), e “The Devil All The Time”, de Antonio Campos (“Christine”).

Por tudo isso, gostaria imensamente de saber:

POR QUE DIABOS VOCÊ ACEITOU FAZER “BATMAN”?

Aceitar fazer “Batman” não é apenas deixar esta trajetória ascendente em suspenso, afinal, para fazer uma superprodução são necessários meses e meses de dedicação, fora todo o período de divulgação e os possíveis filmes derivados pelo caminho – aliás, seria surreal você contracenando com o Momoa, mas, divago. Acima de tudo, trata-se de um tiro no escuro completo e com pouco a dar de retorno à carreira (exceto, claro, à conta bancária).

Para começar, temos a dobradinha DC/Warner: qual garantia oferece o estúdio que permite a existência simultânea de um personagem (Coringa) com duas abordagens e dois atores diferentes (Jared Leto e Joaquin Phoenix)? Que anuncia Idris Elba para substituir Will Smith em “Esquadrão Suicida” e depois volta atrás, dando ao ator outro personagem? Que virou piada por uma remoção de bigode malsucedida, via computação gráfica, por completa falta de planejamento? Que iniciou um universo de filmes próprios e, quatro anos depois, tira os dois protagonistas principais (Ben Affleck e Henry Cavill) para recomeçar do zero?

Fora isso, interpretar Batman ajudou a carreira de qual dos intérpretes do Homem-Morcego?

Vamos lá: Michael Keaton, talvez, tenha sido quem mais se beneficiou de fato. Tinha acabado de fazer Beetlejuice em “Os Fantasmas de Divertem” e explodiu mundialmente como Batman. Por outro lado, ao sair da franquia em 1992, emendou um fracasso atrás do outro (exceção feita por “Jackie Brown”), sendo resgatado recentemente com “Spotlight” e “Birdman”.

Val Kilmer fez “Batman Eternamente” e nada mudou, mantendo-se como o galã de filmes de ação e suspense de antes. Com a “obra-prima” “Batman e Robin”, George Clooney aprendeu que precisava escolher melhores projetos. Já Christian Bale se saiu bem, porém, no imaginário popular, estará sempre atrás de Christopher Nolan e de Heath Ledger na trilogia “Cavaleiro das Trevas”. Por fim, Ben Affleck deve estar arrependido amargamente de não ter seguido como diretor depois de vencer o Oscar por “Argo”.

Por fim, precisamos falar sobre Matt Reeves: acho interessante como muita gente nas redes sociais está empolgadíssima pelo fato dele ser o diretor, o que, segundo elas, seria uma garantia de sucesso do filme. Sinceramente, não vejo nada demais no sujeito. Admito que mandou bem em “Cloverfield” e nos dois últimos longas da trilogia “Planeta dos Macacos”. Porém, é muito pouco para se animar a tal ponto. Vale lembrar que Nolan, antes de reinventar Batman, já tinha feito o muito superior “Amnésia” assim como Burton com “Os Fantasmas se Divertem”.

Tenho certeza que pode se sair muito bem como Batman, Pattinson. O problema não é esse. Talvez cale muita gente que ainda tenha os meus preconceitos de seis anos atrás e não conhece o artista que se tornou nos últimos anos.

Porém, sinceramente, não acho que o risco compensa. Muita exposição em um personagem já explorado diversas vezes no cinema para pouco retorno concreto. Para um Jon Hamm, ainda sem um sucesso nos cinemas, ou um ator novato seria uma possibilidade interessante.

Tenho certeza que lerás este texto com o devido cuidado e pensarás sobre o assunto com carinho.

Tudo de bom e manda um beijo para a Kristen se encontrá-la neste verão europeu,

Abraços!