Com Jogos Vorazes finito (e o fim, aliás, não foi bem o que se esperava), outras duas distopias teen pretendem herdar o seu manto de contundência e subversão: Divergente e Maze Runner. Com histórias similares sobre opressão política, controle social e – pelo menos nas duas últimas – um herói predestinado que restaura a supremacia do indivíduo, esse breve e fugaz subgênero se destaca em meio ao cinema feito para adolescentes, colocando responsabilidade social e manipulação política na mesma receita que as obrigatórias paixões e corre-corres.

A saga de Katniss Everdeen, porém, tinha um senso especialmente atilado para esses ingredientes: o jogo político, que opunha a infeliz e despreparada heroína à poderosa e vingativa Capital, penetrava e corroía todos os relacionamentos da trama, mostrando não só o peso óbvio, social, de um regime autoritário, mas principalmente o sofrimento e a brutalização no íntimo dos cidadãos. É esse elemento particular, pungente, a principal ausência nas irmãs menores de Jogos, e o ponto que separa uma grande história de duas sagas apenas cativantes.

O novo capítulo da série Divergente, Convergente, que estreou neste fim de semana, infelizmente não muda as coisas.

Se, em Insurgente, lançado ano passado, a heroína Tris Prior (Shailene Woodley, que os cinéfilos também conhecem da dramédia Os Descendentes, de 2011) havia enfim derrubado o regime de facções presidido por Jeanine Matthews (Kate Winslet), o dilema que agora se coloca é o que fazer com a liberdade: a vitória dos rebeldes parece apenas ter trocado a ditadura de lado, e as barbaridades seguem à toda, com novas rixas e divisionismos. A conquista do território, porém, permite que se possa ir além da Chicago futurista e desolada dos filmes anteriores, e Tris descobre, para seu desalento, que as injustiças ocorrem numa escala muito maior do que ela imaginava.

Numa coisa, Divergente leva óbvia vantagem sobre Maze Runner: o elenco. Além de Woodley, o novo episódio traz de volta Naomi Watts (Cidade dos Sonhos), Octavia Spencer (Histórias Cruzadas) e Miles Teller (Whiplash: Em Busca da Perfeição, embora nem pareça o mesmo ator), além, claro, do carismático Theo James, par romântico de Shailene, e que promete fazer bonito em filmes de ação. E, se perde Winslet – um golpe duro em qualquer produção –, pelo menos introduz o sempre eficiente Jeff Daniels (Debi e Lóide, Perdido em Marte). Um time para humilhar a saga do Labirinto. Mas, por incrível que pareça, nesse ponto da partida, o placar está mesmo com Thomas e companhia.

E pelo mesmo motivo de Jogos: o roteiro. É que as tramas de Convergente são, todas, lamentavelmente previsíveis. Se Maze Runner: Prova de Fogo (2015) trouxe uma boa reviravolta envolvendo um dos personagens principais, aqui todos os papéis estão bem definidos do início ao fim, e da forma mais imediata e estridente possível. Chega a ser constrangedora a cara de frustração de Daniels, perto do fim, na sequência do túnel. E, com a pobreza do material, os atores acabam penando por tabela: Watts, Spencer e até Shailene estão a passeio no filme, enquanto Teller está simplesmente vergonhoso como o espertalhão Peter Hayes. Resta a Daniels, com sua competência habitual, e ao aplicado James a tarefa de soprar alguma vida a Convergente, antes que assistir ao próximo filme pareça uma tarefa insalubre.

Isso dito, a competência da produção, dirigida por Robert Schwentke, é notável, mas até isso é previsível: não se esperaria outra coisa de uma superprodução teen, e não se nota, aqui, a melhoria gritante que os efeitos tiveram do primeiro para o segundo Maze Runner.

Talvez a culpa seja da decisão de esticar o capítulo final em dois, tática que não deu certo para nenhuma franquia até aqui (acho, mesmo, que Harry Potter teria acabado muito melhor com um único e potente finale), então é aguardar o que o ano de 2017 nos reserva. Mas, se até Jogos Vorazes desapontou, talvez seja melhor evitar pensar nisso até lá. Por ora, Convergente funciona a contento como thriller e filme de ação, mas está longe de ser um dos luminares da temporada.