Amor ao Próximo, de Jairo Freitas, é um filme que se coloca como uma obra a serviço de uma causa: a doação de órgãos. Com esta finalidade, é possível dizer que o filme cumpre o que se propõe. Mostra como a vida de pessoas que estão à beira da morte ganha um mundo de possibilidades com o nobre ato de pessoas que decidem doar os seus órgãos após a morte.

Como obra audiovisual, integrante de um festival de cinema, porém, é um trabalho carente de maior atenção à direção de atores, ritmo, com decisões clichês de roteiro, e que por conta destes problemas, falha na proposta narrativa de emocionar a plateia.

Filmes que lidam com luto, ou com situações semelhantes, carregam uma pesada carga dramática, que exige atenção redobrada de todos os responsáveis pelo projeto. Não que Amor ao Próximo tenha negligenciado a questão. É visível que os atores e o diretor (que também atua no filme) estavam dedicados, fizeram o melhor que podiam, e da maneira mais intensa que podiam. Ao mesmo tempo, fica claro que os esforços foram direcionados pra um lugar errado, o que faz com que acompanhar as duas tramas, a da família que perde uma adolescente num acidente, e a do pai de família que precisa de um transplante, com toda a tentativa de intensidade dramática, seja um verdadeiro teste de paciência.

As cenas no hospital, em que o médico e enfermeiras informam à família da vítima a situação da moça que sofreu o acidente, são levadas para um registro exagerado e clichê, criando uma causa e consequência em que quanto mais se pensou em dar intensidade às cenas, mais equivocadas elas soam. Frases como “salve a minha irmã, doutor”, “Minha irmã tava respirando agora, eu vi!”, sendo gritadas da maneira que são, acabam nos tirando a paciência e boa vontade para com o filme.

É claro que cada um reage ao luto de uma forma, e que quaisquer maneiras podem ser escolhidas para representar isto na tela. Mas fica claro, porém, a ideia da direção de que a história em si, somada a seriedade do trabalho dos atores, já seria emocionante o suficiente para que as cenas ganhassem o peso necessário, e assim se conectassem com o público. Mas não funciona de forma tão simples, evidentemente. Seria necessário maior atenção às atuações, para que estas fossem suavizadas, e acontecessem num registro mais baixo, o que potencializaria o conflito. Do jeito que ficou, está a boa intenção berrada, sem foco e densidade, conduzidas por uma trilha musical artificial praticamente ininterrupta.

O roteiro também cede a soluções fáceis. Toda a narrativa é calcada no peso e na carga dramática da histórica contada, mas não é criada uma estrutura que potencializasse isso. O suposto desejo da adolescente de doar os seus órgãos, virada fundamental do roteiro, é apresentado de maneira repentina, sem que haja uma justificativa plausível para tal. Além disso, as situações seguem uma linha contínua, que faz com que o filme ganhe um negativo ar previsível, que se comprova cena a cena.

Outro problema que está no filme é a sua duração. São 17 minutos que com certeza poderiam ser 12, 11, 10. A longa duração das cenas – que na maioria das vezes são conversas entre os personagens – atrapalha o ritmo do curta, que passa desnecessariamente arrastado. Uma montagem mais sucinta, que reduzisse as cenas ao essencial, tornaria o resultado mais dinâmico e fácil de acompanhar.

Por se tratar de parte da equipe que realizou o ótimo Se Não (2015), tais falhas surpreendem. Talvez por se tratar de um projeto pessoal do seu diretor, isso tenha interferido negativamente, fazendo com que o envolvimento emocional com a história tenha impossibilitado um olhar mais rigoroso na condução do filme.

Por mais boa intenção e função social que desempenhe, este é um tipo de filme que precisa ser visto da mesma maneira que qualquer outro. E assim, é um trabalho que necessita de maior apuro, e uma maior consciência do que é e o que não é necessário mostrar.

Mas isso é com o tempo, com o acúmulo de experiências que se consegue. Jairo Freitas demonstrou enorme força de vontade e determinação neste filme, certamente se colocar essa intensidade para se especializar como diretor, será capaz de realizar trabalhos que demonstrarão toda essa garra.