Em 1963, Alfred Hitchcock não precisava provar nada para ninguém: ele já havia lançado os clássicos “Janela indiscreta” (1954), “O homem que sabia demais” (1956), “Um corpo que cai” (1958) e “Psicose” (1960). Nessa altura do campeonato, estava claro para os espectadores que ele sabia como trabalhar com nossos medos mais íntimos de forma a expressá-los nas telas de maneira realmente aterradora.

Em “Os Pássaros”, acompanhamos a socialite Melanie Daniels (Tippi Hedren), que conhece o advogado Mitch Brenner (Rod Taylor) e o segue até a pequena cidade de Bodega Bay. O que poderia virar uma comédia romântica toma um rumo inesperado quando milhares de pássaros começam a atacar os moradores da cidade, criando pânico geral.

Com “Os pássaros”, Hitchcock deu um passo à frente de seus trabalhos anteriores. Ele apresentou como objeto de terror algo belo e aparentemente inofensivo (aves), além de deixar sem explicação o motivo delas terem virado armas mortais. O diretor entendia bem que o medo de forças cujas motivações não poderiam ser alcançadas pelo ser humano seria o “inimigo perfeito” para um de seus filmes.

Aliado a isso estão o roteiro bem estruturado, o cuidado com a fotografia, a boa composição dos personagens e a beleza incomparável de Tippi Hedren, que incorporou como ninguém o ideal de loura platinada que Hitchcock tanto gostava. Ainda que hoje os pássaros pareçam bem falsos na tela, o ritmo da narrativa continua perfeito, mesmo após 50 anos.

Se em “Os pássaros” o espectador não compreende que força oculta causa o terror, em “O Bebê de Rosemary” (1968) o inimigo é um velho conhecido da civilização ocidental: o diabo! Ele se manifesta quando o casal Rosemary (Mia Farrow) e Guy (John Cassavetes) se mudam para um novo apartamento. Quando a jovem engravida, ela passa a ter estranhas alucinações e o envolvimento do marido com o bizarro casal vizinho leva a crer que ela está para dar à luz ao próprio “coisa-ruim”.

O diretor Roman Polanski também já tinha uma carreira interessante no cinema à época de “O Bebê de Rosemary”. Dirigira “A faca na água” (1962) e “Repulsa ao sexo” (1965), filmes que captavam bem a atmosfera de desconforto de suas narrativas, o que serviu como um ótimo treinamento para o quão mal ele faz o espectador se sentir vendo o sofrimento e o desamparo da frágil grávida Rosemary.

Além do medo que o filme infringe em si, as histórias que rondam a produção dão um auxílio extra à carreira da excelente obra. Dentre os “causos” mais famosos está o fato de a esposa de Polanski ter sido brutalmente assassinada em 1969 por Charles Manson e seu bando psicopata “Helter Skelter”. O nome do grupo era o mesmo de uma música dos Beatles, banda de John Lennon, que foi assassinado à porta do prédio onde morava, e que era o mesmo local onde “O Bebê de Rosemary” foi filmado.

Achou a história enrolada?

E que tal o boato (depois confirmado) de que Polanski quase fez Mia Farrow ser atropelada ao filmá-la no meio do tráfego carregado para ter uma cena “espontânea”? Segundo o diretor, “ninguém atropelaria uma grávida”. Ele também fez a atriz comer fígado cru de verdade numa cena do filme.

A julgar pelo número de histórias tenebrosas nos bastidores, poucos filmes ganham de “O Exorcista” (1973).

Há relatos de que oito pessoas morreram durante a produção; A atriz Ellen Burstyn sofreu um grave acidente durante as filmagens; o diretor, William Friedkin, pediu a um reverendo para benzer o set diversas vezes. Verdade ou não, o fato é que o filme dá medo com ou sem esses rumores.

Em “O Exorcista”, o “tinhoso” domina o corpo da menina Regan (Linda Blair), o que leva a mãe da adolescente, Chris (Ellen Burstyn) a procurar ajuda. Esta vem na figura do descrente Padre Karras (Jason Miller) e do experiente exorcista Padre Merrin (Max Von Sydow). Com um roteiro extremamente bem elaborado, “O exorcista” desenvolve a narrativa como nenhum outro filme de terror, o que o coloca no topo na lista de melhores filmes não apenas dentro desse gênero cinematográfico.

Assim como “O Bebê de Rosemary”, o filme soube como trabalhar a questão da religiosidade do contexto de uma época (anos 1960-1970, mais liberais e céticos) sem ficar datado. Não por acaso, “O Exorcista” concorreu em diversas categorias do Oscar em 1974, tendo ganhado o prêmio de Melhor Som e Melhor Roteiro Adaptado.

Passados os 50, 45 e 40 anos do lançamento desses filmes, a influência dessa trindade do terror e suspense no cinema permanece forte nas produções do gênero. Apesar do preconceito contra os gêneros, muitas vezes vistos como “inferiores”, essas três dicas são imperdíveis tanto para quem curte ter pesadelos depois de uma “sessão pipoca” quanto para os que desejam ver ótimos filmes.