O cinema brasileiro se despediu de Djalma Limongi Batista na última terça-feira (14). Com 75 anos, o cineasta amazonense teve a morte confirmada por um amigo ao jornal Folha de São Paulo.

Nascido em Manaus, Limongi lecionou direção de atores e realização no curso de cinema da Fundação Armando Alvares Penteado. O primeiro curta-metragem da carreira, “Um Clássico, Dois em Casa, Nenhum Jogo Fora” (1968), entrou para a história do audiovisual do país ao ser um dos primeiros a retratar uma relação homossexual. Na primeira metade dos anos 1970, rodou os curtas “Porta do Céu” (1973) e o experimental “Hang-Five” (1975) em paralelo ao trabalho com o diretor teatral Flavio Império.

“Asa Branca: Um Sonho Brasileiro” (1980) foi o primeiro longa-metragem da carreira de Limongi, revelando o jovem ator Edson Celulari. Com o filme, o diretor amazonense ganhou o Kikito em Gramado e o Candango em Brasília, os festivais mais tradicionais do nosso cinema. Em 1987, comandou “Brasa Adormecida” e, 10 anos depois, fez “Bocage – Um Hino ao Amor”. Por este trabalho, voltou a ser premiado no Rio Grande do Sul e participou do Sundance Film Festival em 1998, ao lado de “Central do Brasil”.

O Cine Set falou com importantes nomes do cinema amazonense sobre o legado e a importância de Djalma Limongi Batista:

A importância do Djalma Limongi Batista é que ele foi uma espécie de desbravador do cinema feito por amazonenses no cenário nacional. Enquanto o Cosme Alves Netto abriu espaços no rumo da Cinemateca, ele demonstrava a capacidade criativa e técnica da realização de um longa-metragem como “Asa Branca”.

Não chegava a ser um cinema amazônico, mas trazia a demonstração da capacidade de um amazonense realizar um longa-metragem nos anos 1960 e 1970, o que não é pouca coisa.

Antonio José Vale da Costa (Tom Zé)

Fundador do Cine & Vídeo Tarumã

Djalma é um dos mais destacados cineastas brasileiros dos anos 1980 e 1990. Os filmes dele foram realizados com rigor técnico, onde poesia e irreverência davam a tônica.

“Asa Branca” é o filme mais famoso dele, mas considero que “Bocage, o triunfo do Amor” exige mais do público e que seja assistido diversas vezes. A força e a ousadia da sua imagética cinematográfica arrebatam.

Aurélio Michiles

Diretor do documentário "Segredos do Putumayo"

Conheci os filmes do Djalma Limongi Batista quando estava na faculdade, no período que ficou conhecido como Retomada do cinema brasileiro. Naqueles tempos, poucos eram os filmes brasileiros que estavam sendo produzidos e um número ainda menor chegava às salas de cinema comercial.

Em 1997, tive a grata felicidade de assistir a “Bocage – O Triunfo do Amor” em uma projeção na faculdade com um bate-papo posterior com o diretor. Para mim, eram tempos de descoberta do cinema brasileiro e para o país, de certo modo, de redescoberta do seu próprio cinema. Djalma foi da primeira geração de cineastas que estudou cinema na Universidade no Brasil. Ele era egresso da primeira turma do curso da USP, colega de Ismail Xavier, entre outros nomes importantíssimos da história do nosso cinema.

Uma história interessante que ele contou no livro “Djalma Batista: livre pensador”, publicado pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial, foi de que, nos anos 1960, ele teve a chance de sair do país e estudar cinema na Califórnia, no curso que estava sendo fundado em Berkeley, por uma oportunidade oferecida por seu pai, o importante cientista Djalma Batista. Na Califórnia, ele seria próximo de outros jovens que estavam ingressando nos cursos de cinema naqueles anos por ali, como Steven Spielberg e George Lucas, contudo, influenciado pelo movimento do Cinema Novo e por Paulo Emílio Salles Gomes, com quem chegou a ter aulas na Universidade de Brasília, optou por estudar no recém criado curso da USP, mobilizado pelo interesse em contribuir para promover um cinema nacional autoral.

Ele certamente deixou sua marca nesta história.

Gustavo Soranz

Sócio-fundador da Rizoma Audiovisual