No começo da fase 5 do mais rentável universo cinemático da atualidade, “tempo é tudo”, especialmente, após uma fase que não obteve sucesso nem de público e nem de crítica. O chefão da Marvel, Kevin Feige, sabe bem disso e apostou as fichas em um dos maiores vilões dos quadrinhos – e como seu intérprete, um astro carismático e promissor: Jonathan Majors (de “Lovecraft Country”).  

O conquistador das galáxias Kang é um viajante no tempo. Na verdade, ele e suas centenas de milhares de variáveis viajam através do multiverso e possibilidades infinitas. Majors já havia sido introduzido como Kang na série do Disney+, “Loki” (e inclusive tem uma cena pós-créditos deste novo filme que cria um elo com a história pregressa da série).  

E se no título de “Homem-formiga e a Vespa: Quantumania” não coube o nome de Kang (apesar do mesmo aparecer nos trailers e pôsteres) não altera o fato de que o carisma de Majors e os caprichos vilanescos do personagem dominam os momentos mais dignos de se recordar deste título.   

PUNHADO DE ‘AVATAR’ A ‘GUARDIÕES DA GALÁXIA’ 

Mas é necessário voltar alguns passos para localizar Lang (Paul Rudd) e Van Dyne (Evangine Lily) de onde pararam no filme anterior. Agora, o Vingador é um autor best-seller que não anda sabendo lidar com os rompantes de rebeldia e altruísmo da filha adolescente crescida, Cassie (Kathryn Newton) ou com os despreocupados sogros Hank (Michael Douglas) e Janet (Michelle Pfeiffer).   

Tendo sido resgatada no reino quântico, a mãe de Hope está inquieta com as meias verdades que contou desde que retornou. E é então a partir do “Chamado à Aventura” que o filme de Peyton Reed com roteiro de Jeff Loveness acelera em direção a um filme do gênero aventureiro mesmo. “Homem-formiga e a Vespa: Quantumania” lembra algo do universo “Star Wars” com “Avatar” e mesmo um pouco de “Guardiões da Galáxia” – ainda que o tom seja menos infantilóide ou mais ácido, dosando até optar mesmo pelo drama familiar.   

A família reunida acaba então perdida no verdadeiro mundo quântico, aquele abaixo da realidade subatômica e do que o Homem-Formiga anteriormente conheceu como submatéria, onde Janet revela que conheceu um viajante desmemoriado que queria reconstruir a nave capaz de viajar pelo multiverso. E Kang, a exemplo de Thanos, é um personagem instigante que não foi construído de forma maniqueísta por Jack Kirby e Stan Lee. Afinal, se o tempo “é uma jaula inconsistente” a percepção do que faz Kang ser o certo ou errado é igualmente relativa.  

UM FILME DE DUAS HORAS. AMÉM! 

“Homem-formiga e a Vespa: Quantumania” se organiza como uma aventura especial (ou no caso, subatômica) pitoresca tal e qual o recente Mundo Estranho da Pixar, também propriedade Disney. Também tem lá o conflito entre pai e filho e a passagem de bastão. Mesmo que de maneira bem básica e rasteira, Peyton Reed e Loveness tentam fazer a história ter verossimilhança do filme e em uma das cenas mais bacanas, trabalham o conceito do gato do Schrödinger quando Scott Lang se aproxima do núcleo da máquina que viaja no tempo através do multiverso e se depara com suas múltiplas versões e possibilidades – os Daniels também podem se sentir devidamente prestigiados. 

E que bom que o MCU deu uma pausa na mania de “desperdiçar tempo” e entregou um filme com pouco mais de duas horas, coeso naquilo que se propõe e ainda com uma ou outra gordurinha para gastar em personagens e tramas secundárias. Poderia ter de menos MODOK (forçado e um pouco patético já que adaptaram para ser o Darren) e Jentorra, a Xena do mundo quântico. E podia ter demais as formigas subatômicas evoluídas (sempre há espaço pra crescer!), ótima no VFX não muito agressivo de “Quantumania” Quanto a Bill Murray? Esquecível.  

Conclui-se que Jonathan Majors brilha em seu show e que são muitas as possibilidades pra Kang, que seria em um dos universos um descendente de Nathaniel Richards, pai de Reed Richards do Quarteto Fantástico e em outro a versão teen se tornaria o Rapaz de Ferro, integrante dos Jovens Vingadores. Seja ele ainda um Deus-faraó ou babilônico, um ciborgue ou mesmo parente distante do Doutor Destino, o ditador temporal que destrói linhas temporais inteiras veio para ficar e pintar muitos mistérios com suas variantes no MCU a partir de “Homem-formiga e a Vespa: Quantumania”.