É sempre interessante notar como uma cinebiografia abraça ou não a personalidade de seu biografado. Em “Meu Sangue Ferve Por Você”, por exemplo, a personalidade de Sidney Magal é traduzida em uma palavra: brega.

Ou pelo menos é assim que Magali, a jovem baiana que irá conquistar seu coração, o percebe. Aliás, é esse um dos atributos que mais lhe chamam atenção na moça: ela não tem papas na língua.

Assim, quando Magali declara preferir Roberto Carlos a Magal (sem saber que é com Magal que está falando), tudo que o Amante Latino pode retorquir, assim meio sem graça, é: “Ele é o Rei, né…”.

O que é uma resposta safada porque Magal deveria se valorizar mais. Ora bolas, eu gosto muito de Magal! Infelizmente, parece que o filme não. Porque embora o longa se esforce para dialogar com o brega (as estampas que adornam cenários e personagens), o excesso (o amor à primeira vista, os clichês clássicos da comédia romântica e do melodrama) e a lógica reiterativa (as inserções gráficas de corações para ilustrar o amor), parece fazê-lo sempre com um pé atrás. Ou seja: apontando como esses elementos são motivos de riso, e deixando bem claro que sabe ser esse o caso.

O resultado: uma cinebiografia que parece ter vergonha de seu personagem principal, o que talvez explique porque o cantor nem tenha tanto tempo de tela assim. O que é uma pena, porque Filipe Bragança faz um bom trabalho como o astro. Ele tem a entonação da voz e os trejeitos, mas sem parecer caricato. Mais importante, ele sabe vestir uma calça de paetês apertada como poucos.

FILME ABAIXO PARA A FORÇA DE MAGAL

Aqui, aliás, talvez seja importante dizer que o filme é um musical sobre como Magal e Magali, sua esposa de décadas, se apaixonaram. “Ótimo!”, você pensa, “eu adoro as músicas de Magal”. Mas não se anime: não só os números musicais são inseridos de forma trôpega no longa, como a obra de Magal resulta imensamente subaproveitada. Duvida? Basta saber que para um número importante, a produção preferiu ignorar a obra do cantor carioca e usar uma canção de Johnny Hooker.

A música em si – “Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito” – é ótima. Todos sabemos disso. Mas que, num musical sobre Sidney Magal, a decisão de usar a obra de outro artista para um dos números é indecifrável, isso é.

A não ser que, como disse antes, os realizadores tenham vergonha da figura do cantor. Ao que só posso dizer: Magal, nunca mude. Você é um dos maiores que temos do jeito que é. Você merece muito mais do que este filme.