Baseado no caso real de Amanda Knox, “Stillwater” traz a história de Bill Baker (Matt Damon), um pai que viaja de Oklahoma para Marseille, na França, com o intuito de visitar a filha Alisson Baker (Abigail Breslin), presa por um assassinato que afirma não ter cometido. Por conta disso, Bill decide ficar na França até conseguir provar a inocência da filha.
Escrito e dirigido pelo Tom McCarthy (vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original por “Spotlight”), o drama perde o foco quando McCarthy demonstra indecisão em ser um potencial thriller de investigação sobre um assassinato ou um denso estudo de personagem – neste caso, centrado em Bill Parker.
Boas performances e crítica ao conservadorismo
Tom McCarthy toma liberdades em relação ao caso Amanda Knox e evidencia um clichê do cinema norte-americano. “Stillwater” traz a clássica história de um homem conservador, morador da zona rural dos Estados Unidos, que busca, a todo custo, lutar contra as adversidades para promover a segurança e bem-estar de sua família.
Matt Damon, por sinal, interpreta muito bem o estereótipo “redneck” estadunidense. O ator encarna um homem que luta contra as barreiras culturais e linguísticas em uma cidade que diverge de seus rígidos princípios morais. É bastante perceptível como ele vestiu (não só literalmente) o personagem, mas como também os trejeitos, sotaque e visão de um norte-americano conservador pró-Trump. A cena em que Bill se irrita com o comportamento de alguns franceses, inclusive, ilustra bem a ideia errada de que a “América é o centro do mundo”.
Há uma tentativa de evocar uma empatia ao protagonista quando Bill conhece a atriz francesa e mãe solteira Virginie (Camille Cottin). Com o desenrolar de uma intimidade entre os dois personagens totalmente diferentes, vemos uma leve “desconstrução moral” de Bill que não convence o público.
A personagem de Virginie, aliás, é importante para que a trama não caia no tédio, pois, em vários momentos, confronta o conservadorismo de Bill. A sensação que fica é que Camille Cottin extraiu o máximo que pode da personagem.
Atmosfera melancólica e roteiro monótono
É impossível não destacar a radiante paisagem francesa de Marseille, quase feita às medidas de Cannes (festival onde “Stillwater” teve sua estreia). Mas, ao mesmo tempo, com uma atmosfera escura e vazia, dificultando o “acolhimento” a turistas introspectivos como Bill.
No entanto, os desvios do roteiro acabam diluindo o poder dessa trajetória de autorreflexão e redenção que o drama pretende mostrar ao espectador. É claro que a intenção de trazer profundidade ao personagem de Damon é válida em um local que o desconforta. Porém, McCarthy perde bastante tempo com repetição de cenas que poderiam ter sido encurtadas.
Exemplo disso é quando Bill Baker mapeia a cidade francesa, buscando pistas sem saber o idioma nativo. A apresentação de uma ou duas sequências ressaltando essa procura é válida. Mas, o personagem de Damon passa quase 30 minutos do filme realizando a mesma ação. Aliás, a trama toda possui um ritmo monótono e sem dinamismo. Pode até ser uma decisão do diretor para dar um ar “melancólico” para a história, mas, definitivamente não funciona para “Stillwater”.
Há a inserção de uma coincidência um pouco desajeita na metade do filme que mais parece uma última tentativa de aumentar a energia da trama. O incidente provavelmente teria um efeito maior no público se tivesse sido elaborado com mais habilidade e com uma construção coerente ao resto do filme. No entanto, há certa autenticidade na escolha de McCarthy para o desfecho do longa.
“Stillwater” aborda temáticas interessantes de caráter político e cultural, somado a boas performances dos atores, mas não o suficiente para apagar os problemas de um roteiro monótono. Se McCarthy optasse por fazer uma abordagem mais investigativa – como trabalhou em Spotlight -, o público pudesse se conectar mais facilmente com a história do filme, sem perder o interesse, especialmente, nos primeiros 30 minutos de duração.
Interessante como nos decepcionamos com o que é diferente de nós. Ese foi um dos filmes mais próximos da vida real que assisti. Ainda que eu não tenha afinidade ideológica com personagem de Matt Damon. Discordo da sua reflexão, inclusive do problema de ritmo. Não conheço a história real. Acho que os personagens estão construídos de forma satisfatória, conhecemos apenas um recorte deles e o filme diz o suficiente. Fui assistir pensando em ver um thriller do tipo que Liam Nesson vem fazendo exaustivamente, e fiquei positivamente surpreso em ver a negação de um heroísmo. A vida da maioria das pessoas é isso mesmo. Nem sempre existe certo e errado, e nem todo mundo é vitorioso. O filme sugere que o esforço dele libertou a filha, mas não há heroísmo algum nisso. O filme bem como a vida das pessoas pode estar “fora de lugar”. E se foi isso mesmo que o diretor tentou expor, foi bem sucedido. E o enorme talento de Matt está discreto, confirmando que seu talento é bem acima da média. Seria desastroso se ele fosse Jason Bourne.
Démerson Dias
A desconstrução do personagem do Matt Damon não convenceu só o autor do texto pq pra mim foi a melhor parte do filme e se não fosse isso, não teria válido as quase 2 hrs que eu passei assistindo. A conexão que ele cria com a Maya em contrapartida a falta de conexão que tem com a própria filha é definitivamente um dos pontos altos do filme. Quando ele finalmente acha o garoto que a filha fala, é mais fácil torcer pra ele deixar pra lá justamente pq o personagem está em outro momento. As vzs, quando leio críticas fico pensando quanto as pessoas estão analisando realmente o filme que assistiram com objetividade e quanto estão apenas dando suas opiniões, baseadas apenas em seus gostos pessoais e acreditando que todas as outras pessoas vão sentir o mesmo.