As comédias românticas migraram dos cinemas para os streamings nos últimos anos. Basta lembrar que “Podres de Rico”, de 2018, foi o último filme do gênero a alcançar bilheteria e repercussão significativas nas telonas. Por isso, a ótima repercussão de “Todos Menos Você” – US$ 180 milhões ao redor do planeta – chama tanta a atenção. 

Basta os primeiros minutos para entender a razão do sucesso: Sydney Sweeney e Glen Powell são dois gostosos, um mais bonito do que o outro, o par perfeito, aquelas pessoas criadas pelos deuses do cinema para fazerem ficarmos com inveja de tanta beleza. Quando os personagens dos dois – a estudante de Direito Bea e o empreendedor Ben – se cruzam, o diretor de casting explode de orgulho sabendo que acertou em cheio na escolha do par. A partir da sequência inicial muito bem construída por estabelecer quem é quem em poucos minutos, o jeito enrolado dela e o galã salvador clássico dele criam a tal química que segura qualquer comédia romântica. 

Conhecido por outros sucessos do gênero como “Amizade Colorida” e “A Mentira”, o diretor Will Gluck divide o roteiro com Ilana Wolpert e ambos não escondem beber da fonte clássica do gênero – fator escancarado quando a irmã da noiva faz uma referência ao clássico “Aconteceu Naquela Noite”, o filme mãe das comédias românticas, ao dizer que Bea e Ben terão que dividir o mesmo quarto separados apenas por uma cortina.  

Para as brigas sem sentidos de um casal perfeito é um pulo tal qual os planos infalíveis que sempre falham, o coadjuvante que rouba a cena (Beau, a mistura de Thor com o Daniel do BBB 20 interpretado por Joe Davidson sempre chama a atenção), a música pop que permeia o longa e o final feliz. Justo quando se afasta disso ao buscar algo mais físico, o filme se perde um pouco, mas, nada que o afete totalmente.  

Claro que “Todos Menos Você” corre o risco de soar anacrônico ao ter como protagonistas dois personagens brancos, vindos de famílias milionárias, vivendo em mansões paradisíacas no meio da Austrália sem qualquer tipo de constrangimento, evitando forçar discursos sociais politicamente corretos ou engajados que simplesmente não caberiam aqui. Isso para não falar nas relações líquidas e do cinismo dos tempos atuais em que a ideia do amor para sempre se torna quase uma utopia.  

Buck e Wolpert, felizmente, não parecem se importar e confiam nos dogmas das comédias românticas ingênuas. Pode até não chegar no êxito de clássicos como “Uma Linda Mulher”, “O Casamento do Meu Melhor Amigo”, “Um Lugar Chamado Notting Hill” ou “Simplesmente Amor”, mas, que “Todos Menos Você” distrai de modo satisfatório durante suas 1h40, isso faz com sobras.