Como manifestação artística, o cinema sempre apresentou uma concepção amorosa situada no ideal do amor romântico. Ainda que bastante criticada essa visão, por gerar um grau de irrealismo no público mais influenciável, os filmes de romance continuam até hoje, lotando salas e encantando multidões. Por isso, cinema e romance é uma verdadeira história de amor para os cinéfilos. Você com certeza já foi acolhido e abraçado por algum filme depois de levar um fora; já recebeu conselho amoroso de um amigo (a) através de situações e falas de filmes; e por fim, suspirou, emocionou e chorou diversas vezes no escurinho do cinema (ou do seu quarto) com aquele romance cinematográfico que mexeu com suas emoções mais sensíveis, deixando-o como uma manteiga derretida. Não é à toa que a gente diz: uma imagem vale mais do que mil palavras.

No dia dos namorados, o Cine Set não deixaria de prestar uma homenagem aos cinéfilos românticos. Elenquei uma lista de 12 romances cinematográficos e seus motivos que me ajudaram a entender, real significado do amor na sétima arte. Aos enamorados, se sobrar um tempo entre almoços, jantares, trocas de presentes e prazeres carnais, seguem dicas de filmes para assistirem. Aos solteiros neste dia, sintam-se abraçados por alguns filmes, afinal o amor está no ar……e nas imagens.

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1. Beijos Proibidos (1968) 

Não tem como fugir do óbvio neste quesito quando se fala de romance: os clássicos de amor da Nouvelle Vague. Beijos Proibidos é uma das grandes pérolas do mestre François Truffaut e nele acompanhamos Antoine Doinel (o ótimo Jean-Pierre Léaud) que após ser afastado do exército por insubordinação, vira investigador profissional e se apaixona pela charmosa Sra.Fabienne Tabard. Através da sua simplicidade e ingenuidade, Truffaut cria uma comédia romântica com uma narrativa deliciosa e simples, que cativa pelo olhar de mundo do seu cineasta sobre as relações e o amor.

O olhar fílmico em relação ao amor: Beijos Proibidos representa à ode ao amor, a beleza da vida cotidiana e a importância de viver e amar cada momento como se fosse único. É o amor na poesia do cotidiano.

Crítica: Amantes Eternos, de Jim Jarmusch
2. Amantes Eternos (2014) – Disponível no Netflix

Ícone do cinema americano independente americano, Jim Jamursch faz nesta pequena obra cult, uma releitura do mito do vampirismo, ao contar a história de dois vampiros que estão apaixonados há séculos. Amantes Eternos discute o conceito do amor no âmbito da eternidade, da arte e das relações, brincando com o mito de Adão e Eva sob a ótica vampiresca. E conta com atuações inspiradas de Tilda Swinton e Tom Hiddleston.

O olhar fílmico em relação ao amor: Com vampiros, vivendo à margem da sociedade, reclusos, solitários e presos a vida e ao tempo, Amantes Eternos sinaliza para a verdadeira natureza e validade do amor como única saída possível frente a apatia da vida.

3. As Pontes de Madison (1995) – Disponível no Now 

Um dos sujeitos mais durões e conservadores do cinema, Clint Eastwood conduz com extrema sensibilidade e emoção, As Pontes de Madison. Ele atinge uma beleza impressionante ao mostrar o relacionamento de uma mulher casada, Francesca (Meryl Streep, óbviamente pura excelência) com Robert (o próprio diretor), depois que o marido e filhos viajam durante um final de semana. Pontes fala sobre a tolerância do amor e como ele é importante para nossa independência emocional, principalmente em desconstruir a imagem criada pelo medo de amar.

O olhar fílmico em relação ao amor: As Pontes de Madison abrange de forma madura e delicada, temas de difíceis decisões da alma humana como o amor proibido e o sacrifício. E toda vez que vejo o anoitecer chegando, lembro da frase de Francesca: Quando as mariposas alçarem voo…”. Sim,  amor é isso.

4. Eu Estava Pensando Justamente em Você (2014) – Disponível no Now

Dirigido por Sam Esmail, o mesmo criador da série Mr.Robot é uma mistura de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças com pitadas de Antes do Pôr do Sol. Mostra a relação de Kimberly (a adorável Emmy Rossum) e Dell (Justin Long) depois de se conhecerem durante uma chuva de meteoros. A partir disso, acompanhamos os seis anos de relacionamento deles, com seus altos e baixos. “Eu Estava Pensando….” basicamente é um filme que fala sobre paixões, as neuroses das relações e o quanto nossos desejos geram inseguranças e conflitos não apenas no outro como em nós mesmo. Ponto para Esmail que consegue realizar um trabalho mágico que vai do poético ao melancólico com uma facilidade tremenda.

O olhar fílmico em relação ao amor: Praticamente temos, o retrato das relações instáveis, onde os laços humanos são fragilizados pelas inseguranças. A letra da música do Legião “que o pra sempre, sempre acaba” cai como uma luva para entendermos as fases da relação de Dell e Stephanie.

5. Não Amarás (1988) 

Tom é um rapaz de 19 anos que se apaixona por sua vizinha mais velha e solitária do prédio em frente e passa as noites lhe vigiando por meio de uma luneta. Não Amarás é dirigido pelo genial polonês, Krzysztof Kieslowski, mais conhecido do grande público pela Trilogia das Cores (A Fraternidade é Azul, A Igualdade é Branca e A Fraternidade é Vermelha), porém, é aqui que ele denota dentro de uma história de amor, o seu grande olhar caridoso e humano das relações humanas, onde o amor entre um voyeur e uma solitária ao trocarem de papéis e lugares na história, passam a compreender um ao outro.

O olhar fílmico em relação ao amor: Em um mundo onde a incomunicabilidade das relações adquire tons perversos, Não Amarás mostra que o amor serve como base para compreensão e fraternidade.

6. Amantes (2008) – Disponível no Netflix

 Amantes é uma obra grande e o cineasta James Gray, mais que diretor, é mesmo um cineasta. Temos um melodrama amoroso sobre pessoas e sentimentos reais.  Leonard (Joaquin Phoenix, à beira da perfeição) é um homem bipolar e solteiro que mora no Brooklyn, em Nova York. Quando duas mulheres completamente diferentes entram em sua vida, ele vê tudo virar de cabeça para baixo ao ficar dividido entre ambas. Gray explora com maestria, o sufocamento dos laços afetivos do amor nos relacionamentos. É tão consistente, que sua atmosfera é totalmente bipolar, indo do delicado ao melancólico com uma rapidez absurda.

O olhar fílmico em relação ao amor: Em Amantes, o amor funciona tanto como a energia motriz que move as pessoas para as mudanças como é o círculo vicioso da paixão. Sonhar e amar são suspensões da realidade.

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7. O Segredo dos Meus Olhos (2008) – Disponível no Netflix

Não podemos falar de amor, sem citar a terra do tango, a Argentina. Segredo retrata Benjamín Espósito (o sempre magistral Ricardo Darin), um funcionário público aposentado que escava velhos traumas das suas memórias de um caso que investigou em 1974 , ao mesmo tempo que relembra um romance com sua chefa e amiga Irene. Por detrás do enredo policial esconde-se sua verdadeira essência: um filme sobre paixões, daquelas que movem as pessoas e suas obsessões. O cineasta argentino pincela isso em um texto rico de metáforas que muitas vezes homenageia o próprio cinema no seu estado romântico mais puro.

O olhar fílmico em relação ao amor: O roteiro é hábil em encenar o quanto a paixão move nossas ações e sentimentos obsessivos, jamais mudando e que se revela, no contexto geral, nos pequenos olhares e nas pequenas obsessões.

8. Amor à Flor da Pele (2000)

Qualquer filme de Wong-Kar-Wai é obrigatório, contudo Amor à Flor da Pele é sua obra mais magistral e estupenda, de trabalhar o olhar do amor de forma arrebatadora e delicada quando a paixão surge entre dois cônjuges que estão sendo traídos pelos seus respectivos parceiros, no caso a sra Chan (Maggie Cheung, divina), e o sr Chow Mo-wan (Tony Leung, perfeito). Com um dos trabalhos mais lindos de direção de arte e fotografia, Amor à Flor da Pele é pura sedução, sensualidade e ardor. Sua grande beleza é como Wong manipula as imagens, sons e cenários para criar um mundo particular e fascinante.

O olhar fílmico em relação ao amor: O amor destruído pela traição, serve como força motriz para unir pessoas dentro de uma paixão avassaladora, levando a diversos questionamentos morais da culpa e do sentimento reprimido.

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9. Blue Jay (2016) – Disponível no Netflix

Sensível trabalho realizado de Alex Lehmann, apoiado pelo roteiro singelo do ator Mark Duplass, onde um casal de ex-namorados se reencontra após muitos anos e passa a relembrar da relação. Extrai um olhar ao mesmo tempo romântico e melancólico sobre a história de um amor interrompido. É uma obra que transita entre o despojado do cinema indie e o intelectual amoroso, sem se tornar refém de ambos estilos, estabelecendo a sua própria identidade.

O olhar fílmico em relação ao amor: Blue Jay apresenta o amor do passado como um “fantasma” da felicidade para duas pessoas desajustadas dentro do seu presente emocional. Discute os sentimentos adormecidos dentro de uma relação a dois, revelando o quanto as memórias podem ser ao mesmo tempo mágicas e dolorosas dentro de um relacionamento. Sarah Paulson está fantástica.

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10. Flores Partidas (2013)

O cinema nacional não poderia ficar de fora da lista, com esta cinebiografia muito bem filmada por Bruno Barreto, aliadas às fortes interpretações de Glória Pires e Miranda Otto que ajudam a imprimir a intensidade e dramaticidade exigida para retratar uma história de amor conturbada relação entre a poetisa norte‐americana Elizabeth Bishop (Otto) e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Pires). Flores Raras rompe com as barreiras do preconceito, se revelando uma obra delicada e de valor inestimável.

O olhar fílmico em relação ao amor: Mostra história de amor sem distinção de sexualidade, quebrando os paradigmas dos tabus de um Brasil conservador da época.

11. Os Amantes do Círculo Polar

Poderia muito bem citar qualquer trabalho de Almodóvar como um ótimo representante do amor dentro do cinema espanhol, mas para fugir do óbvio, gostaria de prestar homenagem a este pequeno grande filme de outro conterrâneo do cineasta espanhol: Júlio Medem.  Os Amantes do Círculo Polar é um daqueles filmes que discute o amor sobre o prisma da poesia pura. O filme é centrado em torno da relação de amor entre Anna e Otto, cujo o destino os leva a se conhecerem na infância, apaixonando-se, porém, enfrentando um dilema quando a mãe de Anna casa com o pai de Otto, tornando-os irmãos.  Devido a várias desventuras, separam-se, mas acabam se encontrando em várias fases da vida. A grande magia de Medem, é transformar a vida e o amor na forma circular. Ela é feita de ciclos. Medos, amores, encontros e desencontros, tudo isso vai e vem, regido pelo destino. O roteiro retira dos fatos cotidianos, a poesia do amor com um universo mágico repleto de metáforas visuais e narrativas.

O olhar fílmico em relação ao amor: O amor como representativo da certeza de estar com alguém, onde nem o acaso, coincidências ou a própria proximidade da morte, podem afastar o amor eterno dos amantes do hemisfério polar. Uma das obras mais poéticas e mágicas do cinema espanhol.

  1. Esse eu deixo para você contar como foi seu filme de dia dos namorados….ou então citar nos comentários seus filmes favoritos de romance.