Personalidades curiosas não faltam na região amazônica, e muitas podem servir como matéria-prima para a produção audiovisual local. O documentário Dom Kimura é prova disso: o divertido filme de Flávia Abtibol aborda a inusitada “mudança de carreira” do Dom Kimura do título, apelido de Raimundo Maia Ismael, falecido  alguns anos antes de este documentário ficar pronto.

O Dom Kimura era lutador de “telecatch” e depois virou radialista e fundador da Voz Praiana, programa de rádio comunitária da região portuária perto da escadaria dos remédios e do mercado Adolpho Lisboa. Essa história peculiar é contada por velhos conhecidos de Kimura – alguns, ex-lutadores – e pela sua filha Ana, que trabalhou por vários anos seguindo os passos do pai e mantendo a Voz Praiana no ar. Os depoimentos são divertidos – em certo momento, dois senhores embarcam numa pequena discussão sobre se as lutas de “tele-catch” eram “marmeladas”, e em outro um entrevistado é interrompido por um conhecido no meio do depoimento. Além disso, o ritmo ágil do documentário e a trilha sonora ajudam a manter um ritmo descontraído.

O documentário também faz uso de imagens de arquivo do velho mercado, contrastando-o com o novo, e de um trecho do programa “Tele Ring” que transmitia as lutas locais. E tudo isso ainda é intercalado com divertidas animações, muitas em estilo colagem, inseridas entre os depoimentos. Esses elementos contribuem para fazer de Dom Kimura um ótimo exemplar da nova safra do cinema local, um curta que aposta no caminho de resgate do passado, de histórias sobre quem nós somos, e que se tornam cada vez mais importantes à medida que o tempo passa, como os momentos finais do documentário parecem sugerir. E o faz com graça e humor.