No mundo do cinema, a injustiça sempre esteve presente. Não apenas nos enredos, mas também com aqueles que sempre se dedicaram a sétima arte e nunca foram reconhecidos. Se isso é comum de acontecer na grande Hollywood, imagina no cinema de horror. Já começa que o próprio gênero em si é mal visto pela crítica e pelo grande público. Para completar, a injustiça não vem sozinha, ela também vem acompanhada pelo esquecimento e logo você é jogado no limbo cinematográfico.

Não é a toa que até mesmos os maiores mestres do terror definham para realizar seus trabalhos. O último filme de John Carpenter para o cinema foi Aterrorizada de 2010. Ele já disse em várias entrevistas sobre as dificuldades em trabalhar “Na França, eu sou um autor; na Alemanha, um realizador; na Grã-Bretanha, um diretor de gênero; nos EUA, um vagabundo.” George Romero abandonou projetos autorais para voltar ao mundo dos zumbis porque é a única forma de ter seus trabalhos financiados pelos Estúdios. Dario Argento sacrifica a cada ano sua bela filmografia com filmes ruins. Lucio Fulci e Wes Craven já partiram desta para melhor.

Para prestar um belo tributo a estes “Outsiders” renegados do gênero, esta lista do Cine Set vai honrar alguns nobres diretores injustiçados ou esquecidos. Grande parte deles marcaram gerações com suas obras, ajudando a criar vínculos afetivos pelos caminhos tortuosos do terror. Quem sabe recitando o nome deles em voz alta ou de frente para o espelho retiramos estes injustiçados do limbo das trevas. Se esta lista ajudar você caro leitor ou leitora a pelo menos procurar por um destes trabalhos destes gênios incompreendidos, já me darei por satisfeito.

Dan O’BannonDan O’Bannon (1946-2009)

Sem dúvida, foi o “último romântico” do cinema B e deixou um belo legado no cinema fantástico da Sci-Fi Horror. Começou a carreira com o amigo John Carpenter na estreia deste no cinema em Dark Star (1973), onde trabalhou no filme como roteirista, supervisor de efeitos e ator. Até hoje é conhecido pelo roteiro que deu vida a criatura de Alien, o Oitavo Passageiro (1979), obra que mescla os dois gêneros favoritos do escritor: Ficção Científica e Terror Gótico. Foi também responsável pelo trabalho cult da década de 80 que ajudou a revitalizar o gênero de zumbis no cinema, A Volta dos Mortos-Vivos (1985), na qual dirigiu e roteirizou. Neste aspecto, ele nunca escondeu nas entrevistas que preferia escrever a dirigir. Tanto que até o seu final da sua vida dirigiu apenas mais um, a adaptação Lovecrafitiana Filhos das Trevas (1991). Por uma daquelas coincidências estranhas morreu no dia da estreia de Avatar (2009) em 18 de dezembro de 2009, uma produção que abusava dos efeitos especiais, diferente do estilo B que O’Bannon gostava.

Melhores filmes: Alien, o Oitavo Passageiro (1979, roteiro); A Volta dos Mortos-Vivos (1985, direção e roteiro) e O Vingador do Futuro (1990, roteiro adaptado do conto de Philip K.Dick)

Filmes que você precisa conhecer: Força Sinistra (1986, roteiro), Filhos das Trevas (direção e roteiro adaptado do conto de H.P.Lovecraft) e Mortos-Vivos (1981, roteiro)

Filmes para serem esquecidos: Invasores de Marte (1986, roteiro) e Assassinos Cibernéticos (roteiro adaptado do conto de Philip K.Dick);

Curiosidade: Trabalhou nos efeitos visuais do primeiro filme de Star Wars, na concepção da Estrela da Morte.


William Lustig

Se falam que todo nova-iorquino é maluco, imagina aquele nascido no Bronx? Brincadeiras a parte, William Lustig trouxe ao cinema de horror uma mistura interessante entre violência e caos urbano. Sua estreia no cinema foi o brutal e cru O Maníaco (1980), onde um psicopata fascinado por manequins, atacava mulheres em Nova York. Recentemente , o filme ganhou um remake com Elijah Wood no papel principal. O seu trabalho mais famoso foi a franquia Maniac Cop (clássico do Cine Trash) sobre um policial psicopata que assassinava inocentes na querida Big Apple americana. Os filmes de Lustig funcionam como visões cínicas e críticas em relação a violência urbana e as instituições de poder (policia, militares e governo sempre foram os principais alvos), tudo isso embalado por um espirituoso formato retro de um filme B.

Melhores Filmes: Franquia Maniac Cop – três filmes (1988, 90 e 93, direção) e O Maníaco (1980, direção)

Filmes que você precisa conhecer: Os Vigilantes (1983, direção) e Mensageiro da Morte (1996, direção)

Filme para ser esquecido: Execução Sumária (1995, direção não creditada)

Curiosidade: É um dos criadores da Produtora Blue Underground responsável por financiar e lançar filmes independentes de terror.



Larry Cohen

Larry Cohen é a figura mais estranha deste grupo. Escreveu roteiros para os filmes do primeiro escalão de Hollywood que se tornaram sucessos de bilheterias como é o caso de Por um Fio (2002) e Celular – Um Grito de Socorro (2004). Só que o seu grande amor é pelo cinema B de horror norte-americano, onde deixou um belo e celebrado legado. Dirigiu clássicos de baixo orçamento e cultuados como Nasce um Monstro (1974) e A Coisa (1985), além de ser o responsável pela criação do personagem Maniac Cop da trilogia dirigida por William Lustig. Inclusive já deixou claro nas entrevistas que adora escrever e realizar filmes de histórias bizarras do que estar envolvido com o cinema mainstream. Realmente é o pai dos filmes B.

Melhores filmes: Nasce um Monstro (1974, direção e roteiro); A Volta do Monstro (1978, direção e roteiro) e A Coisa (1985, direção e roteiro);

Filmes que você precisa conhecer: Q – A Serpente Alada (1982, direção e roteiro) e A Ambulância (1990, direção e roteiro);

Filme para ser esquecido: A Ilha dos Monstros (1987, direção e roteiro)

Curiosidade: Já escreveu roteiros para cineastas renomados como Sidney Lumet e John Flynn.


Christopher Smith

Da safra nova de diretores, Smith não tem o oba-oba de diretores como Alexandre Aja, Robert Rodrigues ou Eli Roth, mas possui diversos trabalhos que até superam em quesito horror alguns destes citados. Começou a fazer filmes que funcionavam como homenagens aos subgêneros de horror, principalmente ao horror italiano e aos slasher americanos, como é o caso de Plataforma do Medo (2004) e Mutilados (2006). Depois alçou voos maiores com obras mais maduras e inventivas dentro do cinema fantástico como é o caso do misterioso Triângulo do Medo (2009).

Melhor filme: Triângulo do Medo (2009, direção e roteiro);

Filmes que você precisa conhecer: Morte Negra (2010, direção e roteiro) e Mutilados (2006, direção e roteiro).

Filme para ser esquecido: Até agora não pisou na bola.

Curiosidade: Seu nome está envolvido na antologia de contos chamada Paris I´ll Kill You,  uma versão de horror do filme Paris, Te Amo, ainda sem previsão de ser lançado.


Michele Soavi

Sem dúvida, depois de Argento e Fulci, foi o diretor mais interessante do cinema italiano. Seus filmes são carregados de um visual onírico com enredos que misturam o cinema mais clássico ao fantástico. Começou a carreira como diretor de segunda unidade em filmes de Argento e Lamberto Bava. Sua estreia foi em  O Pássaro Sangrento (1987), um filme híbrido entre o Slasher e o Giallo. Atingiu o auge artístico com o poético e estranho Pelo Amor e a Morte (1994). Infelizmente com a decadência do cinema italiano de horror, migrou para TV, dirigindo seriados e filmes televisivos. Seu último trabalho no cinema é datado de 2008.

Melhores filmes: Pelo Amor e Pela Morte (2009, direção e roteiro) e Catedral (1989, direção);

Filmes que você precisa conhecer: Pássaro Sangrento (1987, direção) e Arrivederci Amore, Ciao (2006, direção).

Filme para ser esquecido: Francesco (2010, direção – um desperdício ver Soavi dirigindo um drama barato produzido diretamente para TV).

Curiosidade: Adora atuar como ator, sempre fazendo pontas nos seus filmes e de outros diretores principalmente do amigo Lamberto Bava. Também foi diretor de segunda unidade de dois filmes de Terry Gilliam: As Aventuras do Barão Munchausen (1988) e Os Irmãos Grimm (2005).


Fred Dekker
 

Toda vez que revejo A Noite dos Arrepios (1986)  penso: Por que diabos não fazem mais filmes divertidos assim? Qual o motivo para Fred Dekker desaparecer do mapa? Talvez ele seja o cara mais azarado e injustiçado no planeta. Deve ter feito algo de ruim em vidas passadas para receber um castigo tão grande como esse. Californiano, Fred Dekker mostrou ser um grande fã de cinema e de filmes B em geral. Começou a carreira com o roteiro de A Casa do Espanto (1986), dirigido por Steven Minner. Nos anos seguintes estreou na direção com dois roteiros da sua autoria, o já citado A Noite de Arrepios (1986) e Deu a Louca nos Monstros (1987), uma apaixonada homenagem ao cinema B – é a versão dos Goonies de horror. Escreveu também o roteiro da divertida comédia Espião por Engano (de 1991), outro clássico da Sessão da Tarde. Em 1993 dirigiu a terceira parte de Robocop (1993) que acabou sendo um grande fracasso comercial enterrando de vez a carreira de Dekker e ele nunca mais dirigiu outro filme Realmente o mundo é um lugar injusto para se viver.

Melhores filmes: A Noite dos Arrepios (1986, direção e roteiro) e Deu a Louca nos Monstros (1987, direção e roteiro);

Filmes que você precisa conhecer: Casa do Espanto (1986, roteiro) e Espião por Engano (1991, roteiro).

Filme para ser esquecido: Robocop 3 (1993, direção e roteiro).

Curiosidade: Tirando o seu grande fracasso Robocop 3, nenhum dos outros filmes do cineasta foi lançado em DVD nem mesmo nos USA. Pelo menos uma boa notícia: Dekker está escrevendo junto com Shane Black do novo filme do Predador.