Isabel Wittmann é colaboradora de um dos maiores sites brasileiros sobre cinema, o Cinema em Cena, fundado pelo crítico Pablo Villaça. Nascida em Blumenau, ela reside em Manaus há dois anos, é mestranda em Antropologia Social pela UFAM e também é autora do blog Estante da Sala.

No entanto, quem lê seus ótimos textos no seu blog ou no site para a coluna “Vestindo o Filme”, dedicada a analisar os figurinos de obras famosas do passado e do presente, nem imagina que a autora passou grande parte da vida afastada do cinema.

Nesta entrevista concedida ao Cine Set – ou melhor, um bate-papo – ela fala um pouco da sua vida, da forma curiosa como veio a escrever para o Cinema em Cena, e sobre a importância do figurino para a narrativa cinematográfica.

Cine Set: Como foi seu primeiro contato com o cinema?

Isabel Wittmann: Na verdade, meu contato com o cinema é até bastante tardio, porque durante a minha infância, meu pai tinha um videocassete, mas não tinha o hábito de pegar filmes na locadora e eu também não tinha acesso ao cinema propriamente dito, por motivos financeiros. Então, durante a minha infância eu fui ao cinema três vezes, para ver Lua de Cristal, O Rei Leão e Alladin (risos). Depois, na minha adolescência comecei a frequentar mais o cinema, como uma coisa mais “social”, digamos assim. Eu morava em cidade pequena, então as opções de lazer não eram muitas, e geralmente eu ia com os amigos ao cinema. Depois, fui pra faculdade e perdi novamente um pouco o contato com o cinema e eu também não tinha internet, que já tinha se popularizado, com toda a questão dos torrents… Nessa época também não tinha DVD em casa, então por isso eu digo que tenho um contato tardio com o cinema – praticamente só vim a mergulhar realmente nele depois de formada, isso já há uns cinco, seis anos.

Cine Set: O que despertou seu interesse específico nos figurinos dos filmes?

Wittmann: Quando eu era criança gostava de ver filmes de fantasia. Era aquela época de A História Sem Fim, de A Lenda… Meu contato com filmes, como eu falei, ficava resumido à Sessão da Tarde, que apresentava muitos filmes de fantasia, alguns também de época, e me atraía muito a parte visual deles. Minha avó trabalhava como costureira e eu tinha contato com essa parte de construção de roupas por causa dela. E comecei a pegar com ela alguns retalhos para costurar as roupas das minhas bonecas. Fazia roupas temáticas: terninhos, roupa de marinheira, de 1850… (risos). Roupas de épocas variadas. Então peguei esse lado da construção, embora nunca tenha tido uma prática profissional, digamos assim. Depois fui me interessando por moda em geral, lendo mais sobre o assunto e fui juntando isso. Aí, quando redescobri aquela minha paixão pelo cinema nos últimos anos, acabei juntando isso e fazendo um “nicho” meu, que era essa coisa da moda dentro do cinema, o figurino.

Cine Set: Foi quando você começou o seu blog?

Wittmann: O meu blog veio um pouco depois, em 2009. Ele ainda era um espaço “misto”, para escrever sobre várias coisas. Em 2011 foi quando eu tentei escrever sobre figurinos, especificamente. Escrevi umas duas ou três postagens e aí abandonei a ideia até ano passado, que foi quando retomei a coisa de escrever sobre figurinos.

Cine Set: Como você veio a colaborar para o Cinema em Cena?

Wittmann: Foi uma história meio louca (risos). Como vários cinéfilos do Brasil, eu lia e acompanhava o site há alguns anos, ouvia os podcasts e tudo, sempre mandava e-mails, sempre comentava… Então, era uma leitora como vários outros do site, que não são poucos.  Aconteceu que no ano passado, um podcast específico dele foi sobre o Além da Escuridão: Star Trek, e eu enviei um e-mail comentando a questão do figurino do filme, que trazia de volta o mesmo esquema de cores, com aquelas camisas amarelas, azuis e vermelhas, da série original de Star Trek. Fiz mais alguns comentários a respeito da textura, dos tecidos, esse tipo de coisa. E esse e-mail foi lido no programa e comentado, o que gerou mais comentários positivos. Aí eu me coloquei pra eles, digamos assim, entrei em contato pelo Twitter e indiquei meu trabalho no meu blog, e disse que se eles quisessem eu poderia escrever material nesse sentido para o Cinema em Cena. Eles gostaram da ideia e foi assim… Para mim, essa história toda é meio louca porque eu era uma fã do site e agora sou parte da equipe (risos).

Cine Set: Que aspectos você procura observar quando analisa o figurino de um filme?

Wittmann: Acho que o primeiro aspecto que chama a atenção é o uso das cores porque, geralmente, o figurinista cria paletas de cores específicas para cada personagem. E as cores também passam mensagens em relação à própria composição do personagem. Há também a questão da construção da roupa, se ela é mais justa ou mais folgada, por exemplo, e isso também influencia a nossa percepção do personagem. No caso de figurinos de época, vejo se ele é um figurino fiel à época que ele retrata, ou se usa elementos para criar uma estética mais estilizada. Quando era criança, embora meu contato com o cinema fosse limitado, eu costumava ler muito, e isso me ajuda muito a fazer essas análises da parte de design de produção e de figurino. Gostava muito de ler sobre história da arte, pintores e períodos, mitologia grega e egípcia, essas coisas. Isso foi me dando referenciais de épocas e períodos.

Cine Set: Quais os seus trabalhos de design de figurinos favoritos no cinema? Escolha um clássico e um recente.

Wittmann: De trabalhos recentes, eu escolheria o da Jacqueline Durran, que trabalha nos filmes do Joe Wright (diretor de filmes como Orgulho e Preconceito, Desejo e Reparação e Anna Karenina). Gosto muito do figurino de Anna Karenina. Dos clássicos, vou ser clichê e escolher a Edith Head, especialmente pelo trabalho dela com o Alfred Hitchcock, os terninhos das heroínas dele… Em Um Corpo que Cai, gosto daquela aparência contida que se revela vulgar no final. Nesse caso específico, o figurino é chave para o disfarce na história. Engana o James Stewart e o espectador também.

Cine Set: Que figurino do cinema você gostaria de usar na vida real, em alguma ocasião?

Wittmann: Não exatamente numa situação da minha vida real, mas eu diria que o figurino que mais me inspira é o de E o Vento Levou. Foi um dos filmes que vi na infância e que me encantou, pela variedade dos trajes, pela época que ele retratava… Foi um dos filmes que me deu esse estalo, que me despertou esse gosto pelo nicho do figurino dentro do cinema.