A câmera está num lugar alto. Parece que está em cima de algum morro, ou coisa do tipo. Há muitos metros dali é possível ver uma estrada pouco movimentada, com carros passando em alta velocidade. O plano comunica a que veio, mas permanece em cena. Aliás, permanece por bastante tempo.

Então, vemos um carro que encosta na beira da estrada, para, e retoma o movimento.

No plano seguinte vemos dois adolescentes no local onde o carro parou. Eles estão com algum desentendimento, parece que acabaram de ter uma briga, e estão retomando-a. Vemos os dois se acalmando, enquanto esperam alguma coisa na estrada. E esperam. A direção quer que esperemos junto com eles, e é isso o que fazemos. Até que, eles desistem de esperar e tomam uma atitude.

O início (aí se vão 20 minutos de filme) de Eles Voltam é extremamente eficaz ao dizer como será o filme que iremos acompanhar dali em diante. Trata-se de uma história de descoberta de si mesmo da sua protagonista através de um trauma (se é que se pode chamar o ponto de partida como um trauma), que a direção não tem a finalidade de explicar os acontecimentos que vieram antes daquilo, e utiliza-se de um naturalismo extremo para conduzir a trama.

E o diretor Marcelo Lordello não abre mão de cumprir de maneira rigorosa essas “diretrizes”. Por conta disso o que vemos é um trabalho sério, digno de elogios pelo seu rigor, mas que, com o perdão da expressão, é torturantemente chato e arrastado por ser tão carrancudo.

É muito importante deixar claro que o filme possui qualidades. O estilo pretendido por Lordello é muito bem executado, utilizando-se sempre de planos longos e abertos, e principalmente de uma representação muito naturalista, que é muito bem desempenhada pelo seu competente elenco, assim expondo um olhar muito verdadeiro sobre aquele recorte de história. Vemos algo pela janela, algo indiscutivelmente muito parecido com a realidade.

Mas a questão é que se trata de cinema. Cinema não precisa ser a representação da realidade. É mentirinha, é faz de conta, é enganar, manipular pessoas a sentirem as sensações que eu quero que elas sintam. Mas o filme se esforça bastante para deixar aquela história o mais parecida possível com a realidade (negligenciando até falhas graves de dicção do elenco, visto que perdemos informações dos já escassos diálogos), como se isso desse maior legitimidade e potência ao trabalho.

Não necessariamente.

Mesmo que a riqueza de detalhes trazidos pela direção nessa questão do naturalismo seja digna de elogios, visto que ele se prestou a desenvolver uma linguagem, e foi bem sucedido no que pretendeu, isso não muda o fato de que vemos uma trama que não sabemos de onde veio, tem uma protagonista que tem possibilidades estreitíssimas, e uma história que apresenta sucessivamente momentos enfadonhos de tão cotidianos e ordinários.

A garota que é deixada a beira da estrada por seus pais, e busca encontrar alguma explicação para aquilo enquanto tenta chegar a algum lugar que nem ela sabe direito, é um belo ponto de partida. Mas falta o diretor seduzir a quem assiste, fazer com que sintamos algo por aquela menina, que ela, de alguma forma, interfira de alguma maneira na vida das pessoas que ela for encontrando, e que consigamos entender o que passa em sua cabeça, e quais são as suas motivações. Ficamos de fora, vemos a distância (como o diretor impõe em seus planos) o que acontece, presenciamos aquelas situações como se estivéssemos numa viagem em que podemos ver pessoas, acompanhar suas rotinas, mas não podemos conversar com elas, nem saber o que sentem, como sentem, se sentem.

É bem verdade que a protagonista modifica-se com os acontecimentos que se seguiram, e evidentemente esse arco é o que de melhor acontece no filme. Mas ainda assim, isso não muda o fato de que vimos uma hora e quarenta de um trabalho arrastadíssimo, de um ritmo muito problemático, tornando a experiência de assistir a esse filme um verdadeiro exercício de paciência.

NOTA: 5,5