Cresci em meio a filmes de ação. Sempre foram os favoritos de meus pais e embora pareça que há adrenalina em cada cena, chega o momento em que eles se tornam cansativos e repetitivos. Parece haver uma sequência de ações que permeiam esse gênero cinematográfico, há o mocinho com corpo atlético, tez sisuda e um bom coração, um vilão oculto ou não que o persegue durante toda a película, uma moça bonita regalada a segundo plano, perseguições irreais e pancadaria. Bourne, Bond, Mad Max e a maioria dos personagens de Mel Gibson, Chuck Norris, Steven Segal seguem esse storyline nos filmes que protagonizam. Tom Cruise, que há algum tempo incorporou o hall do gênero com Ethan Hunt, parece querer se firmar no gênero com Jack Reacher.

Escrito por Lee Child, Jack Reacher é o protagonista de 21 títulos que trazem o militar que pediu baixa para virar andarilho e rendeu resultados mais positivos que negativos entre críticos e público. O diretor e roteirista McQuarrie demonstrou elegância na direção e nos diálogos, aprimorando sua técnica carregada de charme e sedução que já havia lhe premiado com um Oscar por Os Suspeitos, atrelado às presenças de Rosamund Pike e Werner Herzog como vilão, na primeira aparição do herói nos cinemas em 2012. Alguns anos depois e parece que todo esse sucesso conquistado não teve o retorno almejado.

A nova aventura de Jack Reacher no cinema existe sem realmente ter a necessidade de existir. Diferentemente no filme anterior, há uma ausência de estilo e até mesmo de lógica na concepção do filme. Primeiramente, vamos a trama que possui um mote até mesmo com certo tom cavalheiresco. Reacher troca telefonemas com a major Susan Turner (Cobie Smulders) de sua antiga base em Virginia. Ao decidir ir até ela e convidá-la para um jantar, descobre que esta foi presa. O filme se desenrola no casal em busca da “inocência”, enquanto Reacher tem que lidar com a presença de uma suposta filha (Danika Yarosh) que nunca conviveu.

O problema, como em muitos filmes do gênero, é que a ideia central do filme é óbvia, clichê, mas é confusa em um primeiro momento, justamente pela motivação que acarreta o envolvimento do protagonista para o cerne do ocorrido, que não faz tanto sentido se observado do ponto de vista lógico da trama. É tanto, que os primeiros 30 minutos de exibição se assemelham bastante a uma comédia. O texto é carregado de piadinhas e trocadilhos, que embora ofertem um tom menos recheado de adrenalina e violência, leva as gargalhadas fáceis do público. E esta pode ser a única coisa de novo visto em Jack Reacher – Sem Retorno.

Nada do que é visto em tela pode ser considerado original. O filme tem fragmentos de Jason Bourne e James Bond. Por mais que ele seja divertido e arranque algumas risadas fáceis, tudo isso é atrapalhado e esquecível devido ao desenrolar previsível do roteiro. As revelações praticamente não existem e as sequências oferecem pouca emoção e percepção se comparadas a outras peças do gênero, inclusive ao primeiro filme da sequência.  Isto se deve, entre outros fatores, a: pouca imaginação para a sinopse, um elenco que não corresponde tanto, a ausência de um roteiro que chame atenção ou uma história que as prenda e uma direção pouco cuidadosa.

Dos itens a ser lembrados ainda na história é a sagacidade de Cobie Smulders como Major. Embora não tenha tanto espaço em tela quanto seu parceiro de filme, a personagem tem sacadas interessantes e é a figura mais ousada da película, embora tenha partes que sucumba aos ideais de Reacher. A Major procura ser independente e conquistar seu lugar como profissional e não pelo gênero que lhe é sempre dominante quando é testada por seus superiores. Unindo-se a suposta filha de Reacher, Samantha Dayton, ambas possuem um discurso que procura quebrar paradigmas, silenciar o machismo e o padrão pré-estabelecido. Mesmo assim, as duas são pouco exploradas, um problema que decorre com todos os personagens e a trama do filme.

Jack Reacher poderia até ter profundidade se focasse em que tipo de trama gostaria de contar e realmente dê-se atenção aos seus personagens, sem se importar com as cenas de pancadaria e tiroteio, que parecem ser a solução para qualquer problema. Isso torna o longa raso e esquecível depois de instantes que a sessão termina. Fazendo com que o filme seja realmente sem retorno.