O mundo do cinema perde hoje uma verdadeira lenda: faleceu em Londres o ator britânico Christopher Lee, em decorrência de problemas respiratórios e parada cardíaca. Ele tinha 93 anos, recém completados em 27 de maio.

Christopher Frank Carandini Lee não foi apenas um ator prolífico, com cerca de 280 créditos no cinema e na TV. Teve também uma vida fascinante: nasceu em 1922, filho de uma condessa (!), alistou-se na força aérea britânica e acabou lutando na Segunda Guerra Mundial. Com o fim da guerra, juntou-se à Rank Organization e começou a trabalhar como ator. Até a década de 1950, Lee foi visto em vários filmes britânicos do período, mas só começou a se tornar conhecido ao se associar ao estúdio Hammer.

O nome Hammer se tornou sinônimo de terror, investindo nas refilmagens dos clássicos filmes de monstro que fizeram o nome do estúdio Universal durante a década de 1930. Lee estrelou em “A Maldição de Frankenstein” (1957), no qual fazia o papel da criatura, enquanto que seu amigo e eventual parceiro das telas, Peter Cushing, fazia o doutor Frankenstein. Um ano depois, veio o papel pelo qual Lee se tornaria conhecido em todo o mundo, o do Conde Drácula em “O Vampiro da Noite” (1958). Sua interpretação do vampiro foi tão marcante que rivalizou com a de Bela Lugosi, então o mais conhecido Drácula das telas, e Lee repetiu o papel em diversas sequências até a década de 1970.

Christopher Lee em "Drácula: O Príncipe das Trevas" (1966)

Lee em “Drácula: O Príncipe das Trevas” (1966)

Enquanto fazia Drácula esporadicamente, Lee participou de projetos de sucesso como a versão de “O Cão dos Baskervilles” (1959), “A Face de Fu Manchu” (1965), o cult de terror “O Homem de Palha” (1973), e como o vilão Francisco Scaramanga no filme de James Bond “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” (1974). A título de curiosidade, Lee era primo do criador de James Bond, o escritor Ian Fleming, e baseou parte da sua interpretação no seu parente ilustre.

Mais recentemente, Lee foi redescoberto por uma nova geração de fãs ao interpretar dois papéis que, sem dúvida, se beneficiaram da sua aura de vilão e porte nobre. O ator viveu o mago Saruman na trilogia “O Senhor dos Anéis” (2001-2003), a adaptação do diretor Peter Jackson para a obra do autor J. R. R. Tolkien (Lee, inclusive, conheceu Tolkien e era um grande fã do autor); e o Conde Dooku em dois filmes da saga “Star Wars” de George Lucas, “Episódio II: O Ataque dos Clones” (2002) e “Episódio III: A Vingança dos Sith” (2005).

Christopher Lee como Saruman em "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" (2001)

Lee como Saruman em “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel” (2001)

O ator também trabalhou bastante com o cineasta Tim Burton. Como fã dos filmes de terror da Hammer, Burton se divertiu ao escalar Lee para participações em filmes como “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999), “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (2005) e “A Noiva Cadáver” (2005), para o qual emprestou a voz grave e conhecida. O ator foi condecorado pela Ordem do Império Britânico em 2001, virando “Sir” Christopher Lee.

Nos últimos anos Lee chegou a gravar discos de heavy metal – o mais recente saiu ano passado – e voltou a interpretar Saruman na trilogia “O Hobbit” (2012-2014), também comandada por Peter Jackson. Christopher Lee se foi, mas seu trabalho, assim como seu mais famoso personagem vampiresco, permanecerá imortal.