Existem coisas tao surreais e distantes que você nem se atreve a considerá-las. Quando eu soube que o Quentin Tarantino viajaria a São Paulo justamente durante a semana em que eu estaria lá, mandei (com a ajuda do Caio, editor-chefe do Cine Set) o pedido de credenciamento, já achando que seria ignorada ou que levaria um não. Afinal, estamos falando de um dos maiores nomes do cinema atual, um vencedor de dois Oscar e da Palma de Ouro e responsável por alguns dos melhores títulos da sétima arte nos anos recentes.

Para a minha surpresa, alguns dias antes da viagem recebi um telefonema do pessoal da Diamond Films, confirmando o meu nome na coletiva e na cabine do filme “Os Oito Odiados”. Então eu não apenas veria o Tarantino e o Tim Roth, como também teria a chance de assistir ao novo filme deles em primeira mão – o Brasil foi a primeira parada da press tour dos “Odiados”.

A maratona Tarantinesca seria em uma segunda-feira. Cheguei a São Paulo no sábado com a difícil missão de me manter calada. Afinal, seria uma bela surpresa aos leitores do Cine Set. Quem conhece, sabe que pedir segredo a uma pessoa 100% ansiosa é como pedir ao David O. Russell que não escale a Jennifer Lawrence. Contei para algumas pessoas mais próximas e, por ter muita coisa para fazer em Sampa, acabei nem tendo tempo de espalhar a novidade. Dormir na véspera, porém, foi uma tarefa difícil.

Bom, mas vocês querem saber como foi o dia da cabine e da coletiva e não como funciona a minha ansiedade, né? Eu tinha que estar no shopping JK Iguatemi às 8h para a cabine. E lá estava eu, uns 20 minutos antes do horário combinado. Cheguei e vi um monte de gente no hall que dá acesso ao cinema. Como não conhecia ninguém e não sou habitué das cabines (em Manaus, o esquema é bem diferente e o número de sessões para a imprensa, ínfimo), fiquei no meu canto, observando. Vi o Roberto Sadovski chegar com a Lully, assim como a Luisa Michelletti, do Multishow e a Bete Luchesi, da Globonews. De rostos conhecidos, foram esses que percebi. Claro, devia ter mais gente que eu já havia lido ou até assistido em algum vlog desse mundo gigante da internet. Pelo que vi na coletiva, tinha gente do Estadão, R7, Pipocando, Omelete etc.

Como “Os Oito Odiados” só estreia nos EUA no fim de dezembro e no Brasil no dia 7 de janeiro, tivemos que assinar um documento, que “embargou“ as nossas críticas até o próximo dia 21 (mais precisamente, às 3h, horário de Manaus). Ou seja, estou literalmente proibida de falar qualquer coisa sobre o filme em si.

Para que nenhuma informação e/ou imagem do filme vazasse, o pessoal da Diamond pediu que guardássemos as nossas câmeras em um armário colocado logo na entrada do cinema. Segundo o pessoal com quem conversei, esse processo é bem raro – o normal é você chegar, assistir ao filme e ir embora, mesmo. Os celulares também foram confiscados. Desliguei o meu e deixei em um saco plástico lacrado junto com o pessoal da Diamond. Só pude retirar a câmera e o aparelho depois que as três horas de sangue na telona terminaram.

Ao fim do filme, fomos levados em uma van para o hotel Grand Hyatt, onde seria realizada a coletiva. Antes da entrevista, almoçamos em pé, no hall (era muita, mas muita gente! Bobeou, perdeu o lugar). A comida, assim como a do coffee break, estava ótima, se vocês querem saber. Em seguida, me dirigi a uma das funcionárias da Diamond para saber onde seria a entrevista. Tinha que garantir um bom lugar, né. Ela apontou para uma porta, só que eu confundi com outra e entrei. Com quem eu dei de cara? Ele mesmo, o queixo mais protuberante do cinema! Foi tao rápido que eu só percebi que era o Tarantino quando eu fechei a porta. O pessoal da segurança foi bem simpático e riu da minha confusão, em vez de me expulsar. Ufa!

Entrei na sala ao lado e peguei um lugar bem na frente. O resumo sobre a coletiva, vocês já podem ler no Cine Set. Teve tiro, porrada e bomba para cima do Spike Lee, assim como uma engraçada pergunta sobre um potencial filme de vingança gay (afinal, Tarantino já filmou as vinganças dos judeus, das mulheres e dos negros…). Apesar de estar na frente, não consegui fazer uma pergunta. Foi bem concorrido. Mas tudo bem. Ver o quão alto Tarantino é e o quão baixinho e simpático é o Tim Roth (que, coitado, ficou de escanteio perto do carismático e verborrágico cineasta) valeu qualquer noite mal-dormida e qualquer almoço em pé.

E o filme? Dia 21 eu conto.