De todas as artes, o cinema é uma das mais capazes de despertar emoção. Já disse o Ingmar Bergman: “Nenhuma forma de arte vai tão além da nossa consciência ordinária quanto o cinema, direto para as nossas emoções, dentro da sala crepuscular da alma”.  Os convidados desta nova edição do Filme da Minha Vida do Cine Set realmente falaram do cinema como meio de emoção, expondo abertamente sobre como alguns filmes realmente conseguem nos tocar, por diferentes motivos.

E eu descobri, ao perguntar a eles sobre qual o filme da vida de cada um, que tenho amigos de muito bom gosto cinematográfico.


SALEYNA BORGES, Gerente da Amazonas Film Comission – Lanternas Vermelhas

“Tenho vários filmes da minha vida. E os mais especiais são aqueles onde mulheres são protagonistas. Escolho Lanternas Vermelhas justamente por abordar a condição feminina dentro das culturas tradicionais. É um drama com poesia, visualmente lindo e triste ao mesmo tempo. Tenho o DVD e sempre que sinto vontade de chorar, assisto”.


DAVI PENAFORT, cineasta e produtor audiovisual – Procurando Nemo

“Procurando Nemo, meu primeiro filme no cinema, é sem dúvida um dos filmes da minha vida. Lembro que fiquei ansioso pra entrar na sala de exibição de tal forma que fiz meu pai entrar comigo numa sessão que já estava na metade. Em seguida, pra poder entender o filme e assistir a primeira parte, nós ficamos na sala de cinema esperando a próxima sessão iniciar, e dessa forma pude assistir ao filme inteiro. Foi mágico, pra mim, ver esse filme dessa forma. Eu praticamente o assisti de trás pra frente, e o mais legal foi que eu ficava tentando entender o funcionamento da história partindo desse ponto. Acho que esse foi o grande start no meu amor pela sétima arte”.


BRUNA CHAGAS, jornalista – As Damas do Bosque de Boulogne

“As Damas do Bosque de Boulogne (1945) é um filme literalmente de olhares que transborda emoções e sentimentos pelo silêncio e revela a alma das personagens em cada cena, em especial a da anti-heroína Hélène, interpretada pela atriz espanhola Maria Casarés, responsável por deixar os amantes de cinema fascinados ao roubar a cena com suas expressões de mágoa, vingança e amor… Um dos filmes inesquecíveis da minha vida”.


THAÍS ALMEIDA, estudante de Engenharia de Produção – A Viagem de Chihiro

“A viagem de Chihiro foi um dos primeiros filmes que assisti na vida e até hoje ocupa um lugar muito especial no meu coração, lembro como se fosse hoje do dia em que aluguei o DVD (na época em que as locadoras ainda bombavam) de forma quase despretensiosa, uns dez anos na cara. A primeira experiência foi marcada por uma mistura de (muito) medo e fascinação, o que mais tarde viria a ser a porta de entrada para um encantamento particular pelo folclore japonês e pelo cinema asiático como um todo. O universo fantástico no qual se desenrola a viagem espiritual da pequena Chihiro consegue balancear lindamente seus elementos alegóricos, seu teor sombrio e sua narrativa sensível e singela. Todas as vezes em que o assisto são como se fossem a primeira”.



TAIANA BURLAMAQUI, bancária – O Homem Elefante

“O Homem Elefante, um dos primeiros filmes dirigidos por David Lynch, é baseado na história comovente e real de John Merrick, portador de uma doença rara que deforma seu corpo quase por completo. Considerado uma criatura débil mental, é terrivelmente maltratado, explorado, sendo forçado a se exibir em um circo (de horror). Sua vida muda quando um médico decide tratá-lo e então conhecemos um ser muito humano, gentil e extremamente bondoso apesar de tudo o que sofreu. É um filme que toca a alma”.


FERNANDO IMPERATOR, Fundador do CONACINE: Congresso Nacional de Cinema – Kill Bill

Kill Bill (Volumes 1 e 2) foi um divisor de águas para mim, e me mostrou o cinema é capaz de nos fazer sentir. Foi o primeiro filme do Tarantino que eu assisti, portanto comecei sem muita ideia do que viria. Imaginava um filme cheio de violência e ação, mas era muito mais do que isso e assisti aos dois filmes sem pausa entre eles. Saí dali arrebatado. Não só um filme sobre violência e vingança, mas sobre justiça, liberdade, honra, ética, superação e, sobretudo, uma história de amor. Lembro até de ter comprado uma flautinha de madeira para aprender a tocar, igual ao Bill 🙂 Será que pega mal se identificar com o “vilão”?

Mas o mais importante: este filme me despertou duas grandes curiosidades. Primeiro, de conhecer toda a obra do Tarantino, que por sua vez me fez cavar cada vez mais fundo no fértil terreno da história do cinema. Mas também de querer entender melhor os mecanismos que o cineasta utiliza pra impactar o público daquela forma, para que um dia eu também pudesse fazer o mesmo e contar as minhas histórias. Mesmo que com 18 anos eu talvez não tivesse muito que contar. Se hoje eu leciono sobre linguagem cinematográfica e história do cinema para as centenas de alunos do CONACINE, é por filmes como Kill Bill que despertaram em mim este interesse e essa conexão com a arte do cinema de forma tão profunda. Toda busca intelectual começa mesmo no coração.