A linguagem do cinema é construída, em boa parte, através de convenções. São elas que nos permitem compreender, por exemplo, segmentos filmados de diferentes ângulos e posteriormente editados para parecerem contínuos (ao passo que a vida “real” não tem cortes).

No entanto, há elementos que são repetidos à exaustão nos filmes, mas que não necessariamente fazem parte desse código que diz ao espectador o que é “normal” ou não para o filme. Nesse caso, eles se tornam clichês, sendo geralmente usados quando falta inspiração ou para fazer uma brincadeira metalinguística. E é em tom de brincadeira que o Cine SET preparou uma listinha de grandes clichês do mundo do cinema. Confira:

Alívio cômico nos filmes de ação/aventura/fantasia

Se você vai assistir a um filme no estilo “Transformers”, “Piratas do Caribe” ou mesmo animações como “Shrek”, pode ter certeza de que haverá um personagem pronto para fazer gracinhas entre uma cena de ação e outra. Esse tipo de personagem traz o chamado alívio cômico à trama, garantindo satisfação nos momentos em que as cenas mais importantes não estão em foco, e muitas vezes ganham o coração dos espectadores, tal como o pirata Jack Sparrow ou o Burrinho de Shrek.

Bomba desarmada no(s) último(s) segundo(s)

Esse é outro clichê clássico dos filmes de ação e aventura. O protagonista e seu parceiro coadjuvante (quase sempre uma pessoa de outra etnia) descobrem uma bomba e eles tentam desarma-la. A tensão segue até que, num ato impulsivo, um deles corta um fio (aleatório ou não) que desarma a bomba quando ela está prestes a explodir. Nenhum espectador acredita de verdade que o explosivo estouraria na cara do Keanu Reeves ou do Mel Gibson, mas sempre rende um pouco de ansiedade.

“Feia” que fica “bonita”

Um clichê utilizado em filmes voltados ao público feminino, em especial em comédias românticas. Uma garota “feia” passa por um arco evolutivo (geralmente por causa de um rapaz) em que transforma sua aparência, revelando ser uma linda mulher. Na maioria das vezes, a “feia” se torna bonita simplesmente indo ao cabeleireiro, botando quilos de maquiagem na cara e comprando roupas da moda. Há centenas (talvez milhares!) de comédias românticas que seguem esse mote, e alguns conseguem tornar a transformação interessante ao associa-la com uma mudança de mentalidade da personagem feminina, tal como em “O espelho tem duas faces” ou “O feitiço da Lua”. Em “Não é mais um besteirol americano”, a piada fica por conta da personagem feia que fica bonita simplesmente tirando os óculos.

No final do filme, “foi tudo um sonho” (ou similares)

Há vários filmes, em sua maioria dentro do gênero de ficção ou fantasia, em que a trama inteira se desenrola e, ao final, é revelado que tudo não passou de um sonho ou de uma fantasia do personagem principal. Filmes como “O mágico de Oz”, “Donnie Darko” ou “Vanilla Sky” até deram certa dignidade para os finais estilo “foi tudo um sonho” e similares, conseguindo expressar bem o alívio ou a estranheza da situação ao distorcer a perspectiva da trama apresentada ao espectador, mas não podemos deixar de lembrar quantos filmes esquecíveis se utilizaram desse recurso sem a mesma originalidade.

Transformações físicas extremas que rendem Oscar

O Oscar consegue ser tão pop que, ao longo de sua história, conseguiu criar seus próprios clichês. Um deles é premiar atores que passam por grandes transformações físicas para interpretar um personagem. Foi assim com Charlize Theron em “Monster”, Hillary Swank em “Meninos não choram”, Robert DeNiro em “Touro indomável” e Christian Bale em “O vencedor” estão entre os artistas que aceitaram ganhar ou perder muito peso, encarar próteses ou horas de maquiagem e usar figurinos nada belos para se transformarem em seus personagens. Ainda bem que não foi de graça…

Personagens que acordam lindos(as), maquiados(as) e sem bafo!

Nos filmes, é comum que o casal, após uma tórrida noite de amor, acorde juntinho; até aí, nada de mais, senão fosse por um detalhe: a mulher está com cabelo e maquiagem perfeitos, e o casal não tem receio de trocar sussurros ou beijos, porque aparentemente não tem bafo nenhum! Ah, se a vida real fosse assim. Esse é, sem dúvida, um dos clichês mais utilizados em comédias românticas com fotografia trabalhada nos tons pasteis. Metade da filmografia da Jennifer Aniston ou da Kate Hudson serve de exemplo para esse clichê.

Crianças “espertinhas”

É de longe o clichê mais recorrente em filmes infantis, apesar de as crianças espertinhas impregnarem toda sorte de gênero cinematográfico. Filmes da Lindsay Lohan ou das gêmeas Olsen quando crianças se encaixam nessa categoria, apesar de outros como “Jerry McGuire”, “Rushmore” ou “Escola de rock” conseguirem tornar os pequenos até bacanas, mesmo não sendo tão naturais como as crianças que você provavelmente conhece. Há ainda exceções como o filme argentino “Valentin”, cujo personagem-título tem a eloquência de um escritor de trinta anos, mas consegue ser tão fofo que se torna impossível não se apaixonar por ele!

Clichê adicional: Johnny Depp interpretando um personagem esquisito e afetado

Impossível não citar a equivocada guinada que Johnny Depp deu em sua carreira. Nos últimos anos, ele interpreta, filme após filme, uma variação de seu Hunter Thompson em “Medo e Delírio”! Duvida? Compare esse personagem com Jack Sparrow de “Piratas do Caribe”, Chapeleiro Maluco em “Alice no país das maravilhas”, Tonto em “Cavaleiro Solitário”, Tony em “O mundo imaginário do Dr. Parnassus” e Willy Wonka em “A fantástica fábrica de chocolate” para perceber que a única coisa de diferente entre todos esses personagens é o figurino.