Algumas músicas se tornam emblemáticas nas trilhas de filmes, não importando se estes são obras-primas ou nem tão bons assim. No entanto, isso não impede de algumas outras canções sem relação com eles também sejam perfeitas para determinadas obras. Seja pela atmosfera que evocam, seja pela melodia ser a cara de determinado enredo, certas músicas parecem simplesmente certas para filmes e vice-versa. Com isso em mente, essa lista do Cine Set traz 7 músicas que se encaixariam como uma luva como faixa bônus de alguma trilha sonora.

A música n° 1: “Chandelier”, de Sia

O filme: Despedida em Las Vegas (1995)

O motivo: Tudo bem que o personagem de Nicolas Cage não é uma “party girl”. Porém, como não identificar algo do escritor que decide beber até morrer e passa seus últimos dias ao lado de uma prostituta com trechos como “1, 2, 3, 1, 2, 3, beba” que Sia tanto repete antes do refrão, antes de dizer que vai “viver como se o amanhã não existisse”? A pegada autodestrutiva da letra da música e seu ritmo apoteótico e melancólico ao mesmo tempo acabam guardando uma relação inusitada com o filme de Mike Figgis.


A música n° 2: “I Love You Honeybear”, de Father John Misty

O filme: Assassinos por Natureza (1994)

O motivo: Com tantas canções marcantes em sua trilha sonora (“The Future”, de Leonard Cohen, “Shitlist”, de L7, e “Burn”, do Nine Inch Nails, dentre outras), parece até sacanagem querer associar ao filme mais uma música. Mas os versos de “I Love You Honeybear” são bons demais para deixar passar: “Ursinha, ursinha, foda-se o mundo, assim de cara, o mal-estar, pode ser que apenas nós o sintamos”. E que tal “O futuro não pode ser real; eu mal sei quanto dura um momento a não menos que estejamos nus ficando doidões num colchão, enquanto o mercado global entra em colapso”. Diga se não se lembrou dos assassinos em série Mickey e Mallory Knox?


A música n° 3: “Garota”, de Alípio Martins

O filme: O Desprezo (1963)

O motivo: O filme que uniu Jean-Luc Godard e Brigitte Bardot traz a personagem Camille (Bardot) cambaleando entre tentar salvar seu casamento ou pular fora dele. Regado com discussões existenciais, o fato é que seu marido, o diretor Paul Javal (Michel Piccoli), tenta de tudo para ficar com a atordoada esposa, embora não tenha lá muita ideia do que fazer. Tal como o cantor brega canta: “Garota, não seja louca não. Veja pra quem dar seu coração. Sei que todo mundo quer você. Quem mandou você crescer com este corpo de mulher? Por acaso se me escolher, eu prometo te fazer tudo que você quiser, meu bem!”.


A música n° 4: “Jealousy”, de Marina and the Diamonds

O filme: O Lobo Atrás da Porta (2013)

O motivo: “Ciúme” é um nome de canção que tem tudo a ver com o tema do premiado filme brasileiro estrelado por Leandra Leal. Para além do título, a canção de Marina and the Diamonds expõe o caráter doentio do sentimento na letra, permeada por momentos como “O que está tomando conta de mim? Ciúme! Um borbulhar dentro de mim? É o ciúme! Controlando-me, está vindo atrás de mim. É tão fácil, quando você não pertence a mim”. E quando o filme brasileiro vai se tornando cada vez mais intrincado, passam a combinar bem os versos “Acho que estou bem, acho que sou durona, Até que eu vá e me apaixono. Sempre tento muito esconder, mas quanto mais eu escondo, pior me sinto”. Assiste lá e me diz se não combina de uma maneira estranha…


A música n° 5: “Triad”, de Jefferson Airplane

O filme: Vicky Cristina Barcelona (2008)

https://www.youtube.com/watch?v=XKV9WFxDSfg

O motivo: Claro que uma das bandas mais ripongas dos anos 1960 tinha que ter pelo menos uma música sobre amor livre. No caso de “Triad”, o tema é o ménage à trois, exatamente a combinação amorosa de “Vicky Cristina Barcelona”. Com versos do tipo “Eu não vejo motivos para não tentarmos ficar os três juntos, nós nos amamos e é simples assim”, fica fácil traçar o paralelo, ainda mais com um instrumental que investe nos violões e que permite imaginar uma atmosfera hispânica para a canção. Sobrou até um trecho para a desequilibrada Maria Elena, interpretada por Penélope Cruz: “O que podemos fazer é tentar algo novo, e se você é louca também, não vejo porque não”.


A música n° 6: “Psycho Killer”, do Talking Heads

O filme: Clube da Luta (1999)

O motivo: Ok, esse é mais um filme de trilha sonora que fala por si só. Mas dá até pra dizer que o roteiro foi escrito ao som de “Não pareço quem possa encarar os fatos. Estou tenso e nervoso e não consigo relaxar. Não consigo dormir porque a minha cama está em chamas. Não toque em mim, estou realmente eletrificado”? E não dá pra pensar na relação de mestre e aprendiz entre Tyler e “Jack” com os versos “Você está falando bastante, mas você não está dizendo nada”? Entendeu por que o sacrilégio de pensar em adicionar uma faixa a essa trilha sonora?


A música n° 7: “I’m Still Standing”, de Elton John

O filme: Ela é o Diabo (1989)

O motivo: Se você assistiu à Sessão da Tarde em algum momento dos anos 1990, deve se lembrar da comédia irônica em que uma senhora gordinha perde o marido para a amante, interpretada por Meryl Streep, e depois dá a volta por cima abrindo seu próprio negócio enquanto se vinga dos dois. Sim, é tão brega quanto parece, mas delicioso de ver. Exatamente como o é a música de Elton John, com versos do tipo “Olha só pra mim, estou de volta outra vez. Tenho o sabor do amor do jeito mais simples, e se você quer saber, enquanto ainda estou de pé, você está se desmanchando. Saiba que ainda estou de pé, e melhor do que já estive antes”. Nada como combinar teclados e ombreiras num mesmo post.

* Texto original alterado para substituir a equivocada expressão humor negro.