Geralmente, quando algum artista tem o seu auge e depois não consegue alcançar mais a grandiosidade de outrora, a crítica afirma que ele precisa se reinventar, que não é mais o mesmo, ou que os tempos são outros, etc. Já vi gente falar isso de David Fincher. Que ele nunca chegou a cumprir toda a expectativa que envolvia o seu nome, que ele não é o grande diretor que todos esperavam, que os seus melhores dias já passaram, que ele é bom, mas não o bastante…

Até concordo que os seus melhores filmes continuam sendo aqueles que o lançaram para o estrelato, ainda nos anos 90, mas não poderia discordar mais quanto a tese de que os seus melhores dias já passaram. Fincher está em ótima forma, aliás corrigindo, Fincher está em ótima forma desde sempre, apresentando sempre trabalhos desafiadores, com personagens complexos, sempre inseridos em uma sociedade imperfeita, suja, em filmes que nos perturbam e tiram de lugar, tudo isso devido a um diretor com domínio absoluto da linguagem cinematográfica.

E o que mais chama a atenção é o fato do diretor estar sempre envolvido nos chamados “filmes de estúdios”, e mesmo assim inserir a sua assinatura tão forte, alcançando resultados expressivos nas bilheterias. Por conseguir manter sempre a sua altíssima média, é uma tarefa bastante difícil fazer um top 5 do diretor, pois sempre fico com a impressão de que estou cometendo alguma injustiça.

Depois de tanto pensar, e mudar de opinião, aqui vão os 5 melhores filmes do diretor, e por último o seu filme menos melhor, aquele que, de maneira nenhuma, é um filme ruim, apenas não acompanha a grandiosidade dos demais.

zodiac-pres5 – Zodíaco (2007)

Uma farsa. Um suspense que o leva para nada, que te ludibria, que parece que vai te levar à solução do mistério, mas sempre para antes da resolução, mostrando que seguimos uma pista falsa durante um bom tempo, e o faz isso por diversas vezes. E é exatamente isso o que o diretor quis fazer ao contar a estranhíssima história real de um serial killer norte-americano dos anos 70. Este é, na minha opinião, o trabalho mais injustiçado do cineasta, pois aqui Fincher mostra o quanto a sua direção é madura, e como ele é mestre em construir cenas perturbadoras e angustiantes, como a sequência inicial, e a cena que um casal é atacado em um campo. Grande filme, com momentos antológicos.

the_social_network_image4 – A Rede Social (2010)

Lembro bem quando li a notícia de que Fincher dirigiria um filme que falaria da criação do Facebook. Fiquei com receio, perguntava como que o diretor conseguiria impor a sua marca em um filme que parecia ser tão engessado. Para a minha alegria, estava enganado, A Rede Social tem todos os elementos que Fincher aborda em seus filmes, que é um indivíduo que não encontra maneiras de se relacionar no mundo onde vive, parecendo estar sempre angustiado com a sua condição perante os outros. O elenco afiadíssimo, liderado por atuações fortíssimas de Jesse Eisenberg e Andrew Garfield, contribui para o êxito do trabalho, que se tornou uma análise sobre o poder das mídias sociais na sociedade atual.

GoneGirlFincerSpecialShoot3 – Garota Exemplar (2014)

Será que estou sendo precipitado ao já colocar este filme como um dos melhores do diretor? Realmente acredito que não. Garota Exemplar é o Fincher de antigamente, só que muito mais rebuscado, com mais domínio, com mais técnica. É a prova de que o diretor permanece inquieto, permanece interessado na estranheza, que continua na busca por histórias incomuns, lideradas por pessoas com os dois pés na falta de capacidade em se relacionar com o outro, e aqui ainda nos apresenta uma faceta cínica, ludibriante, que ainda não nos havia apresentado. Ben Affleck e (principalmente) Rosamund Pike lideram com maestria este longa que tem tudo pra ficar em nossas cabeças por um longo tempo.

Seven-movie-image-12 – Seven (1995)

Não consigo apontar algum suspense melhor do que Seven. Remexo dentro dos arquivos na cabeça, e não consigo encontrar outro filme tão denso, com uma direção tão… perfeita, que acerta em todos os planos, com um roteiro tão inteligente, que legitima uma história que se estivesse em mãos menos talentosas, tinha tudo pra ser mais um filme policial espertinho, e só. Seven é uma série de acertos acumulados que resulta em um filme que só fica melhor com o tempo, e mostra que o famoso diretor de videoclipes tinha um caminho brilhante pela frente, por filmar a vida urbana moderna do final do século XX, início do XXI, de uma maneira que não havia sido feita por mais ninguém.

fight-club31 – Clube da Luta (1999)

Clube da Luta é mais uma prova de que no mundo das artes a soma de todas partes não é igual ao todo, pode ser menos ou mais. Às vezes um filme faz tudo certinho, e não é bom, e às vezes nem tudo sai bem, mas de alguma forma o resultado final é satisfatório. Neste filme, tudo era correto, e o resultado é muito, muito além de um bom filme. É muito mais, é algo meio místico, tem a ver com energias estranhas, não sei. Clube é ambicioso, misógino, pessimista, de caráter duvidoso, sujo, mas acima de tudo, trata-se de cinema digno dos gênios da sétima arte, com todos os elementos do filme funcionando por música, música eletrônica, ancorados no trio Norton, Pitt e Fincher, que talvez nem soubessem a grandiosidade do que estavam fazendo. Simplesmente genial.

 O Pior

Movie-Photos-the-curious-case-of-benjamin-button-3533401-2560-1713O Curioso Caso de Benjamin Button (2009)

Longe de ser o desastre que muita gente aponta, O Curioso Caso de Benjamin Button é o filme fora da curva, que trata de outros temas, que habitualmente o diretor não aborda, talvez por isso o resultado seja um filme meio sem vida. Adaptando o famoso conto de F. Scott Fitzgerald, Fincher mantém alguns pontos da sua visão sóbria de mundo, como quando resiste ao não cair no melodrama, mas isso retira personalidade deste filme, que mesmo sendo uma produção de qualidade técnica primorosa, é um filme repleto de problemas, que parece não saber bem que caminho seguir, assim como o seu personagem título. Não se trata de uma bomba, mas é claramente o filme em que o diretor está menos à vontade.