Bernardo Ale Abinader nunca teve problema em debater assuntos espinhosos da vida urbana nos curtas que fez como diretor. O primeiro trabalho da carreira foi sobre relacionamentos abusivos em “Os Monstros”. Em seguida, ele comandou “Amém”, uma produção sobre intolerância religiosa. O terceiro filme dele será com foco sobre a classe média e é fruto do trabalho de conclusão do curso técnico em produção audiovisual da Universidade do Estado do Amazonas.

Em “A Goteira”, Isabela Catão interpreta uma dona de casa com uma goteira na torneira da cozinha dela. Durante os 15 minutos do curta, ela fica à procura de uma solução para o problema. Com gravações realizadas em dezembro, o elenco ainda conta com Dimas Mendonça e Rafael César.

Apesar do mote simples, Bernardo considera este o trabalho mais político que já realizou. A inspiração para os personagens veio da própria vivência do diretor. “O curta tem muito das pessoas com quem convivi, especialmente, no ambiente de trabalho. Fui professor de inglês por 10 anos, agora, sou da Ufam, mas, eu tive muito contato com pessoas da classe média e classe média alta, além de fazer parte dela. As personagens são uma espécie de retalhos de várias pessoas que conheci. Há também o aspecto de eu ter um domínio sobre o assunto, o que torna mais confortável em falar sobre este tema. É uma zona de conforto para mim”, afirmou.

A equipe do curta-metragem conta com Valentina Oliveira na direção de fotografia, Allan Gomes de assistente de direção, além de Rafael Dias nas funções de diretor de arte, figurino e maquiagem. A expectativa de Abinader é lançar “A Goteira” ainda neste primeiro semestre.

Fita Crepe, UEA e planos para 2018

Ao lado das amigas e companheiras de profissão, Ana Oliveira e Valentina Oliveira, Bernardo criou a Fita Crepe Filmes e Artes Cênicas em 2015. Voltada para o circuito do audiovisual e teatro, a produtora já conta com dois espetáculos teatrais previstos para este ano. Quanto ao cinema, a ideia é acelerar o processo no decorrer de 2018. “Ana conseguiu dois editais para a produções de duas peças. Esta parte do teatro está bem adiantada. No cinema, estamos ainda nos especializando. Quero fazer mais curtas”, declarou.

O diretor e roteirista conversou com o Cine Set no Festival Olhar do Norte e reparou em uma necessidade da produção local: a evolução técnica. “Quando eu vejo os curtas de outros Estados em um festival como o Olhar do Norte, fica uma sensação mista: fico orgulhoso de produzirmos aqui e não ter uma diferença tão grande, mas, acho que precisamos melhorar muito na parte técnica. Estamos muito aquém. Estou ainda insatisfeito com questões técnicas como som e fotografia dos meus filmes. Claro que há falta de verbas e fazer sem grana é bem difícil”.

Com planos de tirar o papel um filme sobre o porto de Manaus que precisou ser adiado devido aos altos custos, Bernardo Abinader conclui, agora, em março o curso da UEA. “Acho que o curso é melhor do que nada, apesar de ter ficado muito aquém. Aprendi muito, tive professores muitos esforçados. A progressão que tive no “A Goteira” em relação aos outros dois trabalhos anteriores veio tanto da experiência de filmar quanto no aprendizado na UEA. Mas, ainda há muito o que evoluir”, conclui.