Em tempos políticos conturbados em que as emoções estão a flor da pele, a arte sempre foi uma forma de expor, refletir, apontar sentimentos e fazer denúncias. “A Rebelião”, novo filme do diretor Rupert Wyatt (“Planeta dos Macacos – A Origem”), parecia ser mais um bom exemplo de ficção científica com toques de denúncia contra a repressão e limitações de liberdade de expressão e privacidade como visto nos livros de George Orwell. Mas, o que é possível encontrar nos longos 109 minutos de duração – sim, não tem nem duas horas – são excessos de conceitos, tramas confusas e maçantes com personagens sem carisma.

“A Rebelião” se passa em um futuro não tão distantes em que alienígenas fazem contato com o nosso planeta e facilmente tomam conta de tudo. Ao se tornarem nossos líderes, os aliens, em parceria com o “governo”, executam total domínio das liberdades individuais e todos os cidadãos são monitorados permanentemente pela polícia. O Comandante Mulligan (John Goodman) é um policial que acredita que uma rebelião pode estourar a qualquer momento e se mostra implacável na investigação para mitigar qualquer tentativa humana de contra-atacar os nossos hóspedes.

Com uma grande lista de suspeitos, o policial trata com muita desconfiança o rapaz Gabriel Drummond (Ashton Sanders, de “Moonlight”), que já vem de uma família de rebeldes. Tudo que o rapaz quer é fugir com a namorada e com o amigo para longe do conflito iminente, mas ele nem imagina que talvez seja a chave para o fim de um mistério.

AS CHAVES PARA O FRACASSO

O primeiro ato é até bem-sucedido ao entregar uma atmosfera de tensão e um tom de urgência que poderia seguir o filme inteiro. “A Rebelião” possui uma curiosa atmosfera de conspiração política que vai afundando no seu decorrer. Para tentar entender o que deu errado com o filme, é preciso olhar primeiro para seus personagens. É possível compreender que, no fim das contas, o objetivo dos que querem fazer a revolução são maiores do que eles, mas não existe qualquer conexão com quem está assistindo, fora que são todos aborrecidos – compreensível pelo momento em que vivem, mas não há qualquer escape. Maior sintoma disso acontece quando o protagonista de “A Rebelião” some para que acompanhemos o desenrolar de um plano, naquilo que torna-se o melhor momento da produção.

Isso se agrava quando o roteiro do próprio Wyatt em parceria com Erica Beeney (somente escreveu “O Nerd Vai à Guerra”, em 2003) reforça que todos os personagens correm risco de perder alguém que amam durante a batalha. Não à toa vemos um sujeito observar à distância a esposa e o filho, enquanto, em outro momento, um soldado dispersa seu protegido para longe do perigo. Infelizmente, como já dito acima, não há empatia suficiente para que nos importemos com o que ocorre em cena.

Se não existe conexão entre o público e os protagonistas, faz-se necessário criar essa ligação com ação ou qualquer outro elemento, porém Rupert Wyatt sabota qualquer chance disso acontecer, pois “A Rebelião” não conta com qualquer sequência relevante. Quando algo de impacto ocorre, o diretor censura o próprio filme ao colocar o selo de transmissão interrompida na tela, como se fosse um órgão censor de ditadura.

Pelo menos, o design de produção do aparato alienígena revela-se digno, sendo explorado de maneira até discreta. As naves possuem o aspecto rochoso e as armas são definitivamente letais quando entram de encontro a um humano, transformando-o literalmente em sangue em pó. Uma das criaturas causa até certa tensão em um primeiro momento, mas em uma determinada cena acaba transformando o que seria horror em humor pastelão involuntário. Vale ainda as recordações a um passado não tão antigo como a internet discada e a cada vez mais ultrapassada mídia impressa. Não deixa de ser engraçado, entretanto, ver pessoas que não importa o futuro ainda circulam com pincel anúncio de classificados.

Com um plot twist no seu final de certa forma previsível – não seria possível a obra chegar a algum ponto sem isso – “A Rebelião” quando engrena enfim, já está nos seus créditos finais. Esquecível, dispensável, com brechas e dúvidas a serem respondidas em uma continuação, que para mim é não deve sair do papel.