O veterano produtor Ant Timpson estreia na direção com “Come to Daddy”, uma enérgica comédia com toques de terror que transita livremente por diferentes gêneros de gênero, criando um híbrido potente e fresco. Com trinta e poucos anos, Norval (Elijah Wood, o Frodo de “O Senhor dos Anéis”) viaja para uma cabana (na floresta, é claro) para ver seu pai, que enviou uma carta para ele. Quando chega lá, uma selfie que sai errada coloca seu telefone fora de ação. A cada confronto, o homem com quem ele está tentando se reconectar fica mais e mais estranho. Sem comunicação e cercado por quilômetros de deserto, ele logo percebe que está preso. Eventualmente, a atmosfera na casa – que nunca foi muito familiar – se transforma em brutalidade.

“Come to Daddy” muda constantemente de forma, com todos os detalhes puxando o público para uma toca de coelho. O primeiro ato acontece como um drama familiar de ritmo lento, mas uma ruptura abrupta coloca tudo em movimento em uma rápida cadeia de eventos. Assim, o filme se transforma em um thriller de invasão de domicílio, e tudo acaba em horror. Na verdade, nunca chega aonde é esperado e nunca fica em lugar algum por muito tempo – e é melhor que assim seja.

ESTREIA CHEIA DE VIDA

Nessa jornada, Norval precisa enfrentar seus sentimentos por seu pai, mesmo que isso tenha um preço: terríveis revelações sobre sua própria vida. No roteiro, escrito por Toby Harvard a partir de uma ideia de Timpson, ele é um jovem que passou por momentos difíceis e que vive ansiando por algo que ele não conhece. Músico aspirante a ator, está desempregado e voltou a morar com a mãe depois de se recuperar do alcoolismo e de tentar suicídio. No entanto, ele se propõe a encontrar o homem que o deixou ansioso para impressionar, uma decisão que acabará por colocá-lo em água quente.

Elijah Wood apresenta um personagem cheio de contradições sem esforço e com uma linguagem corporal perfeita. Ele passa de uma relação sadia e afetuosa com o pai a uma reação cômica a ruídos estranhos em casa à noite, sem grande dificuldade. Aumentando ainda mais o humor, a virada ameaçadora de Michael Smiley como o vilão Jethro é absolutamente hilária.

O diretor mencionou em entrevistas que a inspiração para “Come to Daddy” foi a morte de seu próprio pai. Apesar de todas as suas palhaçadas, o coração do filme é a busca de um filho por amor e reconexão paternais. Nos momentos mais dramáticos, quase se assemelha a uma sessão de terapia, mas quando o conjunto é tão engraçado, quem se importa? Ao combater a dor pela morte de seu pai, Timpson criou um longa-metragem de estreia, cheio de vida.

CRÍTICA | ‘Deadpool & Wolverine’: filme careta fingindo ser ousado

Assistir “Deadpool & Wolverine” me fez lembrar da minha bisavó. Convivi com Dona Leontina, nascida no início do século XX antes mesmo do naufrágio do Titanic, até os meus 12, 13 anos. Minha brincadeira preferida com ela era soltar um sonoro palavrão do nada....

CRÍTICA | ‘O Sequestro do Papa’: monotonia domina história chocante da Igreja Católica

Marco Bellochio sempre foi um diretor de uma nota só. Isso não é necessariamente um problema, como Tom Jobim já nos ensinou. Pegue “O Monstro na Primeira Página”, de 1972, por exemplo: acusar o diretor de ser maniqueísta no seu modo de condenar as táticas...

CRÍTICA | ‘A Filha do Pescador’: a dura travessia pela reconexão dos afetos

Quanto vale o preço de um perdão, aceitação e redescoberta? Para Edgar De Luque Jácome bastam apenas 80 minutos. Estreando na direção, o colombiano submerge na relação entre pai e filha, preconceitos e destemperança em “A Filha do Pescador”. Totalmente ilhado no seu...

CRÍTICA | ‘Tudo em Família’: é ruim, mas, é bom

Adoro esse ofício de “crítico”, coloco em aspas porque me parece algo muito pomposo, quase elitista e não gosto de estar nesta posição. Encaro como um trabalho prazeroso, apesar das bombas que somos obrigados a ver e tentar elaborar algo que se aproveite. Em alguns...

CRÍTICA | ‘Megalópolis’: no cinema de Coppola, o fim é apenas um detalhe

Se ser artista é contrariar o tempo, quem melhor para falar sobre isso do que Francis Ford Coppola? É tentador não jogar a palavra “megalomaníaco” em um texto sobre "Megalópolis". Sim, é uma aliteração irresistível, mas que não arranha nem a superfície da reflexão de...

CRÍTICA | ‘Twisters’: senso de perigo cresce em sequência superior ao original

Quando, logo na primeira cena, um tornado começa a matar, um a um, a equipe de adolescentes metidos a cientistas comandada por Kate (Daisy Edgar-Jones) como um vilão de filme slasher, fica claro que estamos diante de algo diferente do “Twister” de 1996. Leia-se: um...

CRÍTICA | ‘In a Violent Nature’: tentativa (quase) boa de desconstrução do Slasher

O slasher é um dos subgêneros mais fáceis de se identificar dentro do cinema de terror. Caracterizado por um assassino geralmente mascarado que persegue e mata suas vítimas, frequentemente adolescentes ou jovens adultos, esses filmes seguem uma fórmula bem definida....

CRÍTICA | ‘MaXXXine’: mais estilo que substância

A atriz Mia Goth e o diretor Ti West estabeleceram uma daquelas parcerias especiais e incríveis do cinema quando fizeram X: A Marca da Morte (2021): o que era para ser um terror despretensioso que homenagearia o cinema slasher e também o seu primo mal visto, o pornô,...

CRÍTICA | ‘Salão de baile’: documentário enciclopédico sobre Ballroom transcende padrão pelo conteúdo

Documentários tradicionais e que se fazem de entrevistas alternadas com imagens de arquivo ou de preenchimento sobre o tema normalmente resultam em experiências repetitivas, monótonas e desinteressantes. Mas como a regra principal do cinema é: não tem regra. Salão de...

CRÍTICA | ‘Geração Ciborgue’ e a desconexão social de uma geração

Kai cria um implante externo na têmpora que permite, por vibrações e por uma conexão a sensores de órbita, “ouvir” cada raio cósmico e tempestade solar que atinge o planeta Terra. Ao seu lado, outros tem aparatos similares que permitem a conversão de cor em som. De...