• “Operação Fronteira” (2019). Direção: J.C Chandor. Elenco: Ben Affleck, Oscar Isaac, Pedro Pascal, Garrett Hedlund. Disponível na Netflix.

A responsabilidade sobre os nossos atos é um dos mantras da vida adulta. A ética e a questão moral batem muito forte, principalmente, em tempos de crise em que vivemos como agora. O diretor J.C. Chandor traz como marca da pequena filmografia até agora – “Margin Call”, “Até o Fim” e “O Ano Mais Violento” – passeia sobre o comportamento humano em determinadas situações e oportunidades. “Operação Fronteira” continua a abraçar as ideias do diretor, mas, dessa vez, no campo da ação.

“Operação Fronteira” foi um projeto cercado de polêmicas antes de sair do papel. Troca de diretores (Kathryn Bigelow, por exemplo, iria comandar o filme, mas, acabou virando produtora executiva); Ben Affleck chegou a sair, mas, voltou; Leonardo DiCaprio, Johnny Depp, Mark Whalberg, Denzel Washington, Sean Penn chegaram a ligados ao projeto; os países que fazem parte da Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai), demonstraram bastante descontentamento com a ideia do filme por mostrar os perigos da região e, assim, trazer uma imagem negativa para o turismo local, entre outras questões.

Apesar de tudo isso, o suspense conseguiu sair do papel e chega à Netflix nesta semana. Deixando claro ser uma ficção apenas ambientada na região, “Operação Fronteira” começa com Santiago (Oscar Isaac) descobrindo uma casa repleta de dinheiro pertencente a um traficante local. Pensando em tirar proveito financeiro da situação, o soldado deixa o governo de lado, convoca um grupo de amigos ex-militares para cometer um assalto e ficar com a grana.

Além das boas cenas de ação, o filme conta com um elenco estelar que desempenha muito bem seus papéis e que possui total entrosamento. Isso permitir que Ben Affleck, Charlie Hunnam, Garrett Hedlund e Pedro Pascal convençam sobre a sintonia daqueles personagens sem forçar a barra.

A fotografia de Roman Vasyanov é interessante do ponto de vista em explorar muito bem os locais em que os soldados trafegam, sejam pelas montanhas com neve, rochedos ou densas florestas. Já a trilha sonora exibe um pouco da personalidade de cada um dos soldados através do bom e velho rock: se o som pesado do Metallica e do Pantera embalam a vida dos personagens antes de entrarem em um conflito, a balada do Fleetwood Mac e seu The Chain mostra o despertar de um soldado adormecido.

Então um filme com tantas qualidades, possui algum ponto fraco?

Sim e tem nome e sobrenome: Mark Boal.

Parceiro habitual de Kathryn Bigelow em produções como “Guerra ao Terror” (premiado com o Oscar), e “A Hora Mais Escura”, Boal traz o roteiro mais problemático da carreira até aqui. Apesar do filme se passar em uma região cheia de problemas ligado ao contrabando, narcotráfico e terrorismo, pouco da região da Tríplice Fronteira é explorado de fato. Exceto por um momento em que aparece uma placa escrita Brasil, mal dá para distinguir onde tudo ocorre.

O comentário político do filme é apenas pincelado. Do que se trata? Poderia ser guerra às drogas ou a intrusão norte-americana nos países sul-americanos com seu imperialismo? Nada disso é aprofundado: no fim das contas, vemos o “Operação Fronteira” se transformar de um “Mercenários” com grife em um bom e velho “Heist Film” – na tradução, o filme de assalto. Não é ruim, mas um pouco mais de ambição poderia tornar o filme em algo memorável.

A situação somente não é pior pelo fato de “Operação Fronteira” mostrar a omissão do governo americano com os seus militares. Mesmo assim, passa longe de ser algo novo.

No fim das contas, a ironia maior é o filme falar sobre a Tríplice Fronteira e, metaforicamente em sua mensagem, não ultrapassar nenhuma.

“Operação Fronteira” é um bom filme, mas nada além disso.