Música estranha, “non sequiturs”, tema macabro. O dito cinema alternativo tem esse nome por uma razão, gente, e o diretor Antônio Carlos Júnior coloca vários chavões do estereótipo à prova em “Cuspe”, sua mais nova produção.

O filme, com exibição na Mostra de Cinema Amazonense esta semana, tem um quê de autorreferência, citando textualmente seu material-base (no caso, um conto). Algumas breves cenas com luz estouradas e outras com excesso de teatralidade na performance dos atores não conseguem estragar as intenções modestas, mas precisas do roteiro.

Considerando os altos e baixos da produção local, “Cuspe” funciona bem, pois estabelece corretamente (e benza deus, dispensando falas diretas) seus principais pontos: a loucura da mulher (Érica Guedes) e o carinho que seu companheiro (Rodrigo Langbeck) sente por ela. Em particular, a contenção de movimentos de câmera mostram, ainda que inadvertidamente, a segurança de Antônio Carlos com o material (ele também o escreveu), fugindo do clichê da representação da insanidade com um frenesi de imagens.

De maneira geral, o que pesa contra “Cuspe” acaba sendo seu desfecho um tanto quanto apressado, que advém bem quando nos familiarizamos com as personagens e nos inserimos em seu drama, dando um tom meio inconsequente a toda a empreitada – com seis minutos de duração, ficou muita exploração psicológica de fora, claro.

Fosse um média ou um longa, talvez Antônio Carlos tivesse tido como explorar melhor sua ideia, no entanto, como é normal curtas precederam o desenvolvimento de longas, talvez a ideia tenha sido justamente essa. De qualquer maneira, “Cuspe” vale o tempo (ainda que curto) do espectador e contém uma das cenas mais interessantes do ano envolvendo um frango – não contem comigo para spoilers 😉