Envolto em uma nuvem densa de polêmicas pelas ocorrências atrás das câmeras, “Não Se Preocupe, Querida” estreou nos cinemas e a impressão geral foi ruim. Ruim porque o filme, que se propõe a ser uma metáfora pungente sobre o aprisionamento de mulheres tidas como perfeitas – as trophy wife ou esposas troféu -, fabricadas, como a primeira-dama e artífice do bolsonarismo Micheque, na verdade, naufraga muito pela falta de imaginação da cineasta que o dirige.  

Olivia Wilde, tendo como suporte a também cineasta Catherine Hardwicke (que assine a produção executiva do filme) e a roteirista Katie Silberman, que já tinha escrito a ótima comédia “O Plano Imperfeito” e colaborado com Olivia no roteiro de “Fora de Série”, não consegue mesmo tendo um ambiente propício desenvolver um filme bom e maduro. Talvez seja exigir demais que, em seu segundo filme, ela tivesse um traquejo e uma autoralidade, mas, a expectativa criada após “Fora de Série” cai por terra com um filme tão obtuso quanto confuso como esse estrelado por Florence Pugh.  

As confusões envolvendo atriz e diretora começam no set e se cristalizam ao longo da carreira de divulgação do filme, com Pugh soltando o verbo para denunciar, segundo apuração da Vulture, que Olivia tratou o filme com descaso e se ausentava demais das gravações acompanhada do namorado Harry Styles. Em determinado momento ela estaria dando direções sobre as cenas e confrontou Wilde, que não gostou nada e passou a evitá-la. E esse desencontro fica visível em casa frame de “Não Se Preocupe Querida”.  

APATIA TOTAL 

Estereótipo tradicional de um casamento perfeito dentro da estrutura patriarcal, “Não Se Preocupe, Querida” trata de casais perfeitos que vivem numa cidade que integra o supersecreto projeto Vitória. No centro da narrativa está o despertar de Alice Chambers, a personagem de Pugh que começa a notar que o marido, Jack (Harry Styles) e todos ao seu redor, como a vizinha (vivida por Wilde) e o suposto guru, Frank (Chris Pine) e sua esposa (Gemma Chan), escondem algo dela. Trazendo à tona temas como opressão, controle, obsessões e relações abusivas na premissa, Wilde não consegue construir um suspense clássico inspirado em ” Mulheres Perfeitas” e que bebe muito em uma estética lynchiana – especialmente evocando em frames visualidades que lembram a terceira temporada de “Twin Peaks” 

A previsibilidade da trama e falta de brilho na orquestração das mesmas deixaram “Não Se Preocupe Querida” parecendo um belíssimo bolo de confeitaria decorado com pasta americana e delicados floreios cujo sabor é insípido e esquecível. A revelação da realidade em que está inserida Alice e o real objetivo do local onde vive com o marido Jack bem como o plano de Frank é desinteressante, pois tudo é tão previsível na progressão da história que não causa nada diferente de apatia.  

Talvez um salto muito ambicioso, esse drama com ingredientes de thriller e temática distópica para Wilde ou talvez o descompasso em frente e atrás das câmeras seja resultado de uma rivalidade entre mulheres que é alimentada por essa indústria cultural e sociedade misógina. Tristemente, a contenda entre a atriz e diretora Olivia Wilde e sua atriz-protagonista, Florence Pugh, ganhou um alcance maior do que o filme que as uniu (e, aparentemente, desuniu), colocando “Não Se Preocupe Querida” em um limbo cinematográfico.