Dirigido por Niki Caro e estrelado por Jennifer Lopez, “A Mãe” é uma junção de vários filmes de ação dispostos no catálogo da Netflix e também daqueles que vieram antes dos serviços de streaming – e iam direto para as locadoras. Formando um Megazord de narrativa, cenas de luta e motivações sem sentido, o resultado é uma produção genérica e insípida.    

Estamos diante de uma versão feminina dos personagens de Liam Neeson da ultima década: alguém traumatizado, reservado e com habilidades militares que pode salvar sua família do perigo. Tais características também dizem muito sobre o filme, uma vez que acompanhamos a protagonista, sem nome, saindo de seu esconderijo de mais de uma década para proteger, no primeiro momento, de longe, a filha que virou alvo de seus inimigos do passado.    

Uma premissa problemática 

 

O problema se inicia justamente nessa premissa. O filme é sobre uma mãe que quer proteger a filha de si mesma e das coisas que a acompanham, no entanto, o roteiro, a direção e a montagem não conseguem dialogar entre si, tornando a projeção maçante ao longo de suas quase duas horas. Confesso que gosto de “Mulan” de Caro, vejo muitos mais aspectos positivos do que negativos, mas, em “A Mãe”, a diretora neozelandesa se perde dentro de sua própria construção.   

O fio narrativo não flui, parece que temos várias histórias dentro de um único projeto, o que não conecta início, meio e fim. A condução das cenas de ação deixa a desejar, o público não consegue ver o que acontece como um todo, ora porque a montagem tenta ser descontinuada na tentativa de criar um ritmo frenético, ora porque a iluminação é escura demais para acompanharmos os movimentos em tela. No final, temos um caos instaurado, deixando a projeção confusa e enfadonha.   

Personagens caricatos 

 

Parte disso se deve também aos personagens caricatos e as interpretações burlescas de Gael Garcia Bernal e Joseph Fiennes. A presença dos dois atores experientes não serve nem como uma participação de luxo dado o quão risíveis e fora de tom estão suas caracterizações. Quem sofre mais com isso é Bernal, que tem pouco tempo de tela e é ainda mergulhado no estereótipo de vilão latino e traficante. Uma falta de senso, observando quem é a grande condutora da produção. Para completar, não há um mínimo de carisma e química entre eles e Lopez, o que deixa a vingança programada por ambos um tanto solta. 

 “A Mãe” bebe de filmes de vingança e, no primeiro bloco, este parece ser o caminho a ser tomado. A grande questão é que os motivos não ficam a vista e as ameaças feitas por Fiennes são fracas e não se concretizam; o personagem até tenta passar a vibe de misterioso e cruel, mas seus planos são falhos e ele parece mais recalcado e obcecado do que alguém frio e calculista como os diálogos expositivos querem mostrar.   

O roteiro escrito a seis mãos – incluindo duas de Misha Green que brilha quando o assunto envolve raça e gênero vide Lovecraft Country – procura ainda trazer uma dose de drama discutindo a relação da protagonista com sua filha Zoe (Lucy Paez), mas as interações escolhidas são superficiais, geram um pouco de vergonha alheia como a cena final e a briga pelo celular, além de reforçar o estereótipo de adolescente chato, cheio de si e ingrato, já que a filha não consegue perceber as situações que a rodeiam. Paez ainda é inexpressiva perto de Lopez.    

Falta originalidade, simpatia e carisma ao projeto, assim como um roteiro consistente e uma direção organizada. Isso deveria servir de alerta a Caro, uma vez que as escolhas problemáticas de enredo a vem acompanhando a algum tempo.