A abertura de Nascer, Crescer, Negar mostra imagens do efeito que a passagem do tempo deixou em uma arquitetura manauara. São cenas que ilustram uma parte clássica do centro da cidade, abandonada e devastada em decorrência do envelhecimento natural do tempo. Por sinal, envelhecer e aceitar a realidade como ela é a essência deste novo trabalho de Emerson Medina, depois do interessante Et Set Era (dirigido em parceria com Rod Castro) que ganhou os prêmios de curta e melhor atriz no 9º Amazonas Film Festival em 2012.

Walmir (Wander Luiz) é um homem com dificuldades de aceitar a própria idade e que se apaixona de forma platônica por uma fotógrafa, uma mulher mais jovem (Iana Porto) que ele conhece apenas por imagens na internet. Ao mesmo tempo, ele se vê envolvido com uma mulher da mesma faixa etária, Adriana (Erismar Fernandes) recém-separada que é apresentada por uma colega de trabalho de Walmir. Logo, ele se vê preso em um triângulo amoroso que envolve um conflito entre uma escolha real e imaginária.

Integrante do grupo Planos em Sequência, formado em 2012, Medina filmou Nascer, Crescer e Negar em 2014, mas só finalizou o trabalho em 2015 em razão dos compromissos profissionais, gerando que parte da pós-produção do curta, como a mixagem de som e da trilha sonora fosse finalizada quase um ano após as filmagens. Em comparação ao seu trabalho anterior – uma homenagem espirituosa ao cinema, seus filmes e diretores – o novo curta do diretor indica uma segurança maior de trabalhar com um tema mais complexo e maduro, no caso, o sentimento de solidão e inadequação de um homem na casa dos 40.

Medina utiliza-se basicamente das imagens para delinear as dificuldades do seu protagonista. Não há muitas falas ou diálogos que expliquem os conflitos. A obsessão de Walmir é vista nos pequenos detalhes da lente do curta, como o seu fascínio por uma moça que entra no ônibus, no amor platônico pela jovem fotógrafa que observa na rede social e na dificuldade de interagir com Adriana no encontro. Esse processo de alienação do personagem em aceitar a realidade a sua volta – ou seu próprio envelhecimento – é filmado de forma bem introspectiva e melancólica pelo diretor, sem jamais recorrer às informações expositivas do seu personagem.

Vale observar que, neste aspecto, o curta faz insinuações de forma suave ao retratar as ações de Walmir nos seus comportamentos que cada vez se distanciam da realidade, como a compra de uma máquina fotográfica – um belo indicativo da sua obsessão em relação à sua paixão platônica, que é fotógrafa na vida real – e o jeito como observa as jovens em uma loja, um representativo do seu apreço por uma jovialidade perdida e que não retorna mais. Esta fuga da realidade é bem pontuada pela obra quando compara o sentimento de inadequação social de Walmir na sua relação com Adriana, onde ele não apresenta qualquer desejo ou iniciativa, totalmente diferente de como age nos seus devaneios.

De certa forma, Walmir lembra a essência obsessiva e passional dos personagens hitchcockianos e o trabalho de Medina carrega em si a dosagem certa do cinema introspectivo de Cassavetes. O trabalho de montagem desenvolvido pelo diretor é bem interessante, permitindo uma fluidez à narrativa que casa com a sobriedade do seu roteiro subjetivo. A jornada do personagem principal é tão interessante de ser acompanhada que até mereceria um desenvolvimento maior, talvez em um longa-metragem.

Para um trabalho que foi feito na base da camaradagem, como dito pelo diretor nas entrevistas, Nascer, Crescer, Negar é um salto interessante de Medina do cinema descontraído que permeava o curta anterior, para um trabalho mais maduro e seguro. Se o início do curta, com suas imagens de objetos e arquiteturas devastadas pelos efeitos do tempo, representa um sentimento de acomodação das coisas e fatos da vida, o seu encerramento é inquietante, onde o ruído de um objeto indica uma modernidade cada vez mais alienante na vida dos seres humanos.