Não é raro no curta-metragem vermos a experimentação técnica ou narrativa do realizador e equipe se sobrepor à necessidade real para o filme em si daquele recurso escolhido. Isso está longe de ser um crime, afinal, o curta traz esta liberdade maior, sendo, inclusive, um campo de aprendizado em que acertos e erros são muito bem-vindos. 

Quando esta experimentação casa com a essência da produção, tudo se potencializa. É o que acontece em “Nazaré: Do Verde ao Barro”, curta dirigido e roteirizado por Juraci Júnior. O único candidato de Rondônia na Mostra Norte da quarta edição do Festival Olhar do Norte traz como característica principal ter passado por um processo de ilustração em aquarela feito por Roberta Marisa e, posteriormente, animados em rotoscopia por Rone Mota. Tudo isso a partir do material filmado com atores e locações reais. 

Aqui, o uso da aquarela vai além de recurso estilístico de desafio técnico: ela se incorpora à protagonista de “Nazaré: Do Verde ao Barro”, a água. Afinal, é através dos movimentos dos rios e das chuvas que a família ribeirinha da região de Nazaré constrói e enfrenta os desafios de uma vida. Os pigmentos ao surgirem na tela reforçam este elemento fundamental como se aquelas memórias estivessem permeadas intrinsicamente pela água.  

Além de criar momentos visualmente poderosos como a passagem de tempo pelos rios da Amazônia e da família em uma pequena lancha a motor diante daquela imensidão de água do Rio Madeira, a técnica da aquarela realça a humanidade dos personagens ribeirinhos quase como seres poéticos em sua aliança, comunhão e compreensão da natureza.  

Pena a curta duração – são pouco menos de 8 minutos se contarmos apenas a trama em si – não permitir que seja desenvolvido melhor os protagonistas da história, tirando um pouco do peso emocional com aquilo que é visto em cena, apesar da bela trilha composta Tullio Nunes tentar conduzir o público a isso. Tais problemas, entretanto, não impedem “Nazaré: Do Verde ao Barro” de fazer um relato sensível e representativo destas vidas ribeirinhas e das ligações delas com a natureza e, especialmente, os rios da Amazônia.