Duas crianças acordam de noite. A casa é escura. Seus pais não estão em lugar nenhum. Alguma coisa está na casa com eles. 

Soa como uma daquelas historietas de terror dos fóruns de internet, mas é a premissa básica deste “Skinamarink” – um filme que existe na intercessão entre o assustador e o irritante. 

Certamente, ele é fruto de anos de consumo de internet – o produto de uma geração que cresceu passando tempo demais olhando pra imagens, que sabe que, se você cortou para um corredor escuro e vazio, provavelmente tem algo a ser visto ali. Vasculhamos entre os grãos da película como avatares do Detetive Virtual. 

A questão é que o grão, aqui, também é virtual. Kyle Edward Ball, o diretor, se mostra partidário desta atitude irritante de minar o potencial do digital em prol de uma emulação barata de uma estética setentista. 

Zoando na Internet

Fica claro que a intenção de “Skinamarink” é habitar aquela zona de desconforto imagético à la “A Bruxa de Blair”, onde o próprio ruído das filmagens, o granulado, as formas abstratas que surgem do registro barato do bosque escuro, são o combustível do horror. 

Mas, porque nós somos uma geração educada pelo ruído, algumas diferenças começam a despontar. O modo como os sons se sobrepõem na paisagem sonora parece ter algo do scroll pelos vídeos de um feed, com mudanças bruscas no volume e estalos intrusivos vindo de lugar nenhum. 

Ainda desse ponto de vista sonoro (haha), “Skinamarink” talvez seja a aproximação mais direta entre o ASMR (Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano) e um longa exibido comercialmente até agora. E, como o ASMR é algo que surge do ruído informacional – vídeos das mais diversas fontes compartilhando o mesmo feed, o que inclui cenas de filme fora-de-contexto – para colocar o ruído sonoro em primeiro plano, o longa parece completar um loop autorreferente, nesse sentido. 

Por essas e outras, toda a empreitada tem uma vibe meio creepypasta. O encadeamento das imagens dos cômodos vazios, para darmos outro exemplo, faz pensar nas imagens tremeluzentes de um circuito de segurança interno. 

Se estou falando demais em termos internéticos, é porque é impossível se livrar da sensação de que “Skinamarink” seria melhor como um vídeo sinistro do YouTube. Só que daí a esticar a coisa por 1h40min são outros quinhentos.  

Naturalmente, todo esse papo dá muito pano para a manga, mas nem só de blábláblá academicista vive o cinema. Diante de todas essas possibilidades (e do bafafá que o longa gerou lá fora), seria até de se esperar que este fosse o filme de terror do século XXI. Mas essa insistência no ruído como artifício evocativo dilui seu poder imediato; o efeito é de distanciamento em vez de imersão, de floreio de estilo em vez de terror. 

Portanto, se você está procurando por uma transmissão internética lo-fi diretamente do inferno para assombrar seus pesadelos, busque por “Império dos Sonhos”, do David Lynch, de quase 20 anos atrás, ou, por que não?, “Príncipe das Trevas”, do John Carpenter, de mais de 30.