Menos de cinco minutos de filme. Michael J. Fox e o fisioterapeuta dele saem de um prédio e começam a caminhar. A estrela de Hollywood mostra-se sempre solícita com quem o reconhece. Fala com um, fala com outro. E, de repente, PÁ! Cai no chão. A câmera acompanha tudo parada, distante, como uma testemunha sem saber o que fazer. Para quem não vive neste planeta e ainda não sabe, o ator lida desde o início dos anos 1990 com o Mal de Parkinson, doença degenerativa caracterizada pelos tremores involuntários. 

Tal momento define muito bem “Still: Ainda Sou Michael J. Fox”, documentário disponível no Apple TV e forte candidato ao Oscar 2024 da categoria. A produção dirigida por Davis Guggenheim (“Uma Verdade Inconveniente”) se sobressai não apenas por se tratar de um astro querido por 11/10 cinéfilos do planeta e protagonista da amada trilogia “De Volta Para o Futuro”, mas, principalmente, por ser um relato dos mais honestos já vistos por alguém deste porte em Hollywood. 

Não que até o Parkinson a trajetória de Fox seja muito diferente de outros profissionais que tentam a vida artística: relação difícil com o pai, dureza para pagar as contas, muitos trabalhos difíceis, vida solitária, a ajudinha do acaso rumo ao salto para o estrelato, os excessos da fama até encontrar o grande amor da vida. O achado de “Still” para fugir da monotonia se dá através de uma fluida e bem-vinda montagem que utiliza materiais provenientes dos próprios filmes e séries estreladas pelo astro. A forma como tudo se encaixa é surpreendente a ponto de você pensar que foram feitas lá nos anos 1980 só para se encaixar no documentário. Guggenheim ainda é hábil o suficiente para fazer pequenas recriações espirituosas, tornando tudo delicioso de se acompanhar. 

FAZER O BEM AO PÚBLICO

Como não poderia deixar de ser, “Still” ganha força mesmo ao abordar a relação de Michael J. Fox com o Parkinson. Mesmo que seja necessário relevar um ou outro momento mais de propaganda da fundação dele, voltada para o combate à doença, e a relação familiar à la comercial de margarina, o filme traça um panorama muito intimista e até bem-humorado sobre todo este processo.  

Diz muito sobre a abordagem do documentário e Michael J. Fox para com “Still” a saborosa história de quando era moleque e saiu correndo de casa sozinho com dinheiro em mãos para ir comprar doces servir de paralelo com a incapacidade de ficar quieto por conta da doença. Desta forma, a câmera posicionada em frente a ele no escritório funciona muito mais do que a óbvia analogia do espelho e sim como espaço onde Fox pode ser maior do que tudo e onde fica mais à vontade. 

Soa, então, natural que se abra a ponto de revelar como fez para tentar controlar o Parkinson e escondê-lo do público. A sequência de cenas com os truques utilizados por Fox remete a um ilusionista criando uma distração enquanto realiza a mágica. O preço para ele, entretanto, eram as dores, a exaustão psicológica, o alcoolismo, o medo e a busca por ser outra pessoa através dos personagens de seus filmes para esquecer do que vivia intimamente.  

No fim, “Still” é sobre um cara que sempre dedicou a vida a fazer o público bem. E nós só podemos agradecer a ele por tudo.