A história de um Batman pobre e morador de rua em São Paulo é o mote do terceiro curta-metragem da carreira de Ricardo Manjaro. O amazonense responsável pelos ótimos “A Última no Tambor” e “O Necromante” finalizou “Morcego de Rua” neste mês de agosto. A produção gravada em São Paulo é o trabalho de conclusão de curso do diretor na Academia Internacional de Cinema de São Paulo.

Com 14 minutos de duração, “Morcego de Rua” mostra a história de um sujeito interpretado Paulo Guilarducci que acredita ser o Batman do mundo real com a capacidade de combater o crime. Ele acaba sendo encontrado por uma família que decide ajudá-lo, porém, o protagonista foge para lutar contra o arqui-inimigo Ruivo Sujo, vivido por Germano Pereira. O elenco ainda conta com Maria Tuca Fanchin, Beatriz Pessoa e Breno Castelo, parceiro de Ricardo Manjaro nos dois filmes anteriores.

Em entrevista ao Cine Set, Manjaro revelou que a ideia de um Homem-Morcego das ruas começou quando estava trabalhando ativamente no site amazonense Pulapirata.com. “Fiz umas charges que trazia um Batman sem o maior super-poder dele, a riqueza. Imaginei esse velho louco, vendedor de Picolé da Massa no Mercadão Municipal de Manaus com uma arma 38 em uma mão e o celular na outra, procurando o dono do aparelho. Isso se misturou à minha estadia em São Paulo, uma cidade com cara de Gotham City brasileira, e a ideia voltou”, declarou.

Ambientado em uma São Paulo futurista, o filme teve bastante influência da época de gravação do projeto, ocorrido entre dezembro de 2015 e março de 2016. “Foi um momento bem caótico com a ocupação das escolas públicas, racionamento de água e energia. A quantidade de moradores de rua também cresceu, especialmente, na região onde morava na Avenida São João, próximo ao Minhocão. Isso influenciou a turma a fazer um filme sobre um morador de rua, alguém invisível por natureza, que acha ser um super-herói”, afirmou.


Inspiração em David Fincher

Para financiar “Morcego de Rua”, um crowdfunding foi criado no Catarse para arrecadar R$ 5000. A meta foi alcançada em dois dias, porém, a verba não foi suficiente e o curta acabou custando o dobro com o investimento sendo feito pela própria equipe e familiares. A ideia de fazer um filme mais elaborado justifica este orçamento mais robusto.

Manjaro considera que o novo curta era uma busca para sair da zona de conforto, aprimorando elementos utilizados em “A Última no Tambor” e “Necromante”. Para tanto, o amazonense resolveu se inspirar no estilo adotado por David Fincher, diretor de sucesso como “Seven – Os Sete Pecados Capitais”, “Clube da Luta” e “A Rede Social”. “A teoria que tiramos dos filmes do Fincher é que ele só movia a câmera por um bom motivo. Portanto, decidimos nunca usar a câmera solta na mão, a não ser que precisasse, detalhar todo o processo de filmagem com decupagem do roteiro e um storyboard fechadíssimo: ou os planos funcionavam ou eles não iam se montar na pós-produção. Foi muito mais rígido”, afirmou.

As gravações de “Morcego na Rua” aconteceram na região do Sumaré e na Vila Itororó, lugar histórico de São Paulo, na região do bairro da Bela Vista. Na mesma região da capital paulistana, a equipe alugou um terraço para “emular o Batman em um topo de um prédio como parte da sátira do herói pobre”.

 


Expectativa alta e novas caminhos na carreira

O alto investimento para a produção faz com que Ricardo Manjaro tenha uma expectativa grande com a trajetória de “Morcego na Rua”. A ideia é disponibilizar o filme na internet apenas para quem investiu no Catarse. Com isso, há a manutenção do ineditismo exigido para diversos festivais de cinema Brasil afora. O lançamento no YouTube está previsto para 2018.

Conhecido por referências a um cinema mais pop hollywoodiana com tramas de suspense, Ricardo Manjaro admite que a influência norte-americana sempre estará presente em suas obras, porém, começa a experimentar novos caminhos. “Converso muito com o Diego Bauer, da Artrupe, que me mostrou a força do cinema do Rogério Sganzerla (“O Bandido da Luz Vermelha”). Chega a ser agressivo como o Sganzerla é um grande diretor. Pretendo aprender mais com o que foi feito no Brasil, a anarquia dos realizadores nacionais e a maneira como encaravam fazer cinema sem recurso com muita inventividade e muita voz. Acredito que serei mais influenciado por essa brasilidade daqui para frente”, disse.

Brincando sobre o futuro ao dizer que “vai ficar por Manaus tentando sobreviver de algum jeito se preparando para o próximo filme, Ricardo Manjaro pretende, em breve, partir para um longa independente.