A eleição do Conselho Municipal de Cultura de Manaus acontece no próximo dia 14 de julho. A cadeira do audiovisual é disputada por cinco profissionais do setor:  Liliane MaiaMichelle Andrews, Walter Fernandes Jr, Zê Leão e Zeudi Souza.

O Cine Set segue a série de entrevistas com os candidatos, em ordem alfabética, nesta quinta-feira (13) com Zê Leão:

Cine Set – Como tem sido a sua atuação no audiovisual amazonense nos últimos anos?

Zê Leão –  O cinema amazonense estava adormecido desde o Festival de Cinema do Norte, em 1969. Nos anos 1980, participei de oito longas-metragens como assistente de direção para a televisão estatal da Alemanha, sendo seis na Amazônia, um em São Paulo e outro na África. Nestas viagens por aqui, me deparei com a falta de incentivo e qualquer iniciativa para o cinema no Estado. Quando eu voltei para o Amazonas em 2000, tinha uma carência muito grande no tripé do cinema: formação, produção e exibição. Desde lá, eu comecei a fazer oficinas de cinema, primeiramente gratuitas no espaço da Livraria Valer. Estas atividades foram as grandes responsáveis para eu formar pessoas tanto em Manaus quanto no interior.

Passados esses 17 anos, com a Amacine desde 2003, mais de 6 mil pessoas participaram de 150 oficinas em mais de 30 cidades do Amazonas. Além disso, produzi os festivais do Minuto, Quatro Minutos, para cegos e surdos, além de um festival de cinema cristão.

Cine Set – Como você avalia o trabalho do Concultura nos últimos anos?

Zê Leão – Vou analisar estas duas últimas gestões porque antes o Concultura não tinha nenhum tipo de força política, não tinha nada para gerir, sendo apenas uma reunião de intelectuais da cultura. Nos últimos anos, porém, o Conselho atuou para criar a Lei de Incentivo Municipal à Cultura. A gestão anterior a atual foi muito brigado quanto a isso, sempre insistindo para que isso fosse feito e o prefeito ficava sempre de assinar no aniversário de Manaus, mas, isso não foi feito. Os conselheiros atuais conseguiram quase perto do fim do mandato deles.

Acredito que esta lei é um verdadeiro passo para a democratização da cultura. A partir de agora, esta cultura pode chegar nas zonas norte, leste, sul e oeste de Manaus se a gente conseguir fazer com que os artista entendam que é uma lei que serve para todos. O que a gente tem visto hoje é que a cultura local não tem dado muitas chances para os jovens talentos e a lei vem de encontro a isso: tentar estimular o surgimento de revelações e trabalhar novos olhares para pontos pouco privilegiados da cidade.

No final da contas, o trabalho dos dois últimos conselhos foram muito produtivos por terem conseguido criar e implementar a lei. O Concultura tem um papel fundamental para a democratização da cultura em Manaus.

Cine Set – Para você, quais os maiores problemas enfrentados pelo audiovisual aqui em Manaus?

Zê Leão – A gente está mal no tripé formação, produção e exibição. É verdade que a Prefeitura de Manaus tem feito muito mais pelo audiovisual  do que o Governo do Estado com a regularidade dos editais. O calcanhar da cultura aqui é a falta de compromisso dos nossos tutores. O artista, claro, precisa achar outras maneira de fazer o seu trabalho, mas, a partir do momento em que você conta com órgãos estaduais e municipais voltados especificamente para o setor, você passa a ter um tutor. É o papel deste tutor tratar a cultura de uma forma ampla.

A Prefeitura tenta aproximar a cultura de todas as áreas quando faz os editais, mas, você não vê o Governo do Estado atuando assim. Vemos a gestão estadual privilegiando artes que nem sejam a nossa identidade cultural como são os casos da ópera e do jazz. Isso piorou mais ainda quando perdemos o Amazonas Film Festival, o Festival Folclórico, o nosso carnaval é cada vez mais pobre, não há preocupação de se fazer produtos culturais na periferia. Acho que a cultura tem um papel fundamental na formação intelectual das pessoas e estamos devendo muito no consumo interno. Poucos consomem a cultura amazônica.

Cine Set – Quais são seus planos caso seja eleito conselheiro do audiovisual no Concultura?

Zê Leão – Democratizar a lei. Não podemos achar que esta lei só será feita para pessoas que sabem lidar com ela. Essa lei tem que ser para as pessoas em geral utilizá-la, aplicarem, buscarem a formação cultural. A Lei Municipal de Incentivo à Cultura precisa focar no tripé com atenção nas zonas ribeirinhas e rurais, esquecidas nas políticas públicas do setor.

Quero dizer para todo mundo: ‘existe uma lei, um fundo’. Ensinar as pessoas como gerir este fundo, como buscar o apoio até mesmo assessorar quem tem projetos sensacionais, mas, podem não saber formatá-lo na maneira mais adequada. O conselheiro cultural precisa ter na cabeça a ideia de transformar a lei em algo plural. Nós temos muito potencial espalhado por aí e precisamos aproveitá-los.

Temos que chegar no empresariado e fazê-lo entender que este 2% do ISS pode fazer um grande efeito ao modificar uma realidade social e cultural da nossa cidade. Seria legal produzir pelo conselho uma cultura exportação, ou seja, sair do limite da capital, levar esta arte para fora, mostrar a cultura manauara em outras praças. Acho que o conselheiro também pode trabalhar para que essa lei seja uma forma de difundir a nossa arte aqui e Brasil afora.

Cine Set – Como você pretende manter um canal de comunicação com a classe caso seja eleito?

Zê Leão – O audiovisual amazonense tem uma grande vantagem em relação a vários Estados do Norte: pela grande quantidade de gente produzindo, nós conseguimos ser mais brigador e arraigado politicamente. De 2000 para cá, muita coisa mudou. Pode-se dizer que o audiovisual em 2000 era zero. Hoje, temos uma classe muito capacitada.

O conselheiro quando for lidar com a classe precisa sempre ouvir muito as sugestões, as novas pautas e ser um canalizador destas informações, explanando isso nas reuniões do Concultura. Acho que a pessoa eleita deve pegar o mapeamento existente do audiovisual local e conversar com estas pessoas, pautando reuniões, passar dinâmicas, fortalecer os fóruns já existentes. Isso ajuda a difundir como a lei vai funcionar.

Paralelo ao conselho, tem a Manauscult da qual o conselheiro deve se aproximar mais para levar as demandas da classe para o órgão, além de negociar com os empresários locais para incentivar o investimento no audiovisual. Aproveitar empresas consolidadas como parceiras da produção amazonense para chegar nelas com este novo mundo trazido pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura.