As indicações do SAG Awards e Globo de Ouro solidificaram os caminhos pela disputa do Oscar 2015. Nomes considerados fortes começaram a ruir, enquanto outros apenas confirmam a tendência de favoritos. Surpresas não poderiam deixar de acontecer assim como ausências importantes marcam as listas das duas premiações. O Cine Set analisa a partir de agora pelas respectivas categorias:

PicMonkey CollageMELHOR FILME

Os prêmios conquistados juntos ao críticos de Los Angeles e Nova York credenciaram “Boyhood” como um dos cabeças na briga pela principal estatueta do Oscar 2015. As indicações ao SAG e ao Globo de Ouro mantém a produção bem forte no páreo. O filme, entretanto, não reina mais sozinho como o franco favorito.

Isso se deve, principalmente, ao peso ganho por “Birdman” nesses últimos dias. O filme foi recordista de indicações tanto no SAG (4) quanto no Globo de Ouro (7), onde, aliás, deve vencer fácil na categoria de Melhor Comédia/Musical. Pesa a favor da produção ter Michael Keaton indicado a ator principal, algo que Ellar Coltrane não conseguiu com “Boyhood”. Mesmo sendo considerado uma comédia, o tom existencialista e até biográfico de “Birdman” com um ator tentando restabelecer a carreira após um sucesso como super-herói pode fazer com que o longa seja mais aceito do que se apenas fosse uma série de gags ou clichês do gênero.

Correndo por fora assim como ocorreu com “Trapaça” neste ano está “O Jogo da Imitação”. Produção empatou no número de indicações com “Boyhood” no SAG (3) e Globo de Ouro (5). Há de se observar sempre a força do marketing do executivo Harvey Weinstein o qual observa no filme a maior chance de levar estatuetas para casa e a temática adorada por Hollywood: superação + drama histórico sobre a Segunda Guerra Mundial + jovens atores talentosos (Benedict Cumberbatch e Keira Knightley) + cinebiografia. Como fator negativo está o fato de não ter conquistado a crítica especializada do mesmo modo como “Boyhood” e “Birdman”.

Mesmo sendo nome certo entre os indicados a Melhor Filme, “A Teoria de Tudo” deve entrar apenas como coadjuvante no Oscar. Nem mesmo o carisma de Stephen Hawking pode ajudar a produção. Depois da derrapada no SAG ao não ser indicado para nada, “Selma” readquiriu forças ao concorrer em quatro categorias do Globo de Ouro e deve se favorecer pelo bom momento da Academia de Hollywood com o presidente Barack Obama ao emplacar mais uma obra com temática racial na disputa.

“O Grande Hotel Budapeste” e “Foxcatcher” dependem muito do bom humor da Academia. A comédia de Wes Anderson e o pesado drama sobre um lado sombrio da América não são tipos de temáticas adoradas pelos votantes do Oscar, porém, a qualidade dos dois projetos e a aclamação da crítica pode fazer a balança pender para o lado da dupla. “Budapeste” conseguiu emplacar no SAG e no Globo de Ouro, enquanto “Foxcatcher” somente teve chance no segundo, sendo esnobado na categoria de Melhor Elenco no Sindicato dos Atores.

O drama independente “Whiplash”, o suspense “Garota Exemplar”, o musical “Caminhos da Floresta”, o policial “A Most Violent Year” e o inglês “Mr. Tunner” devem disputar as vagas restantes para Melhor Filme do Oscar. Candidatos considerados fortes nas últimas semanas, quatro filmes não resistiram o passar do tempo e a repercussão da crítica especializada: “Invencível” (nem mesmo o Globo de Ouro conhecido por badalar as estrelas indicou o filme de Angelina Jolie), “Sniper Americano” (revelações recentes sobre as torturas como política de Estado em práticas antiterroristas utilizadas durante o governo Bush deixam qualquer drama de guerra neste momento sob desconfiança), “Interestelar” (Christopher Nolan não deve repetir o sucesso de “A Origem”) e “Vício Inerente” (Paul Thomas Anderson esnobado pela segunda vez seguida).

PicMonkey CollageMELHOR DIRETOR

Richard Linklater parece ser o nome imbatível da categoria neste ano. Comandar um filme ao longo de 12 anos com todos os riscos possíveis de dar errado (mortes, problemas de saúde, atores não voltarem, questões sociais) já seria algo digno de aplauso. O cineasta de “Boyhood”, entretanto, lembra Hollywood sobre a necessidade de contar boas histórias antes da quantidade de investimento milionária e dos efeitos especiais de última geração. Tipo de lição moralista que os estúdios americanos adoram promover no Oscar para aliviar o peso na consciência e seguir fazendo blockbusters.

Alejandro González Iñarritu é quem está mais próximo de impedir a vitória de Linklater. O cineasta responsável por “Birdman” pode se aproveitar do bom momento do filme para crescer as chances de conquista. O grande empecilho para essa vitória seria o último premiado de Melhor Diretor: Alfonso Cuáron. Apesar de terem a carreira marcada por produções americanas, Cuáron e Iñarritu são diretores nascidos no México, o que seria um tiro no orgulho de Hollywood e do cinema americano em geral premiar realizadores vindos de outro país por dois anos consecutivos.

Ava DuVernay por “Selma” e Wes Anderson com “O Grande Hotel Budapeste” são nomes com 90% de chances de disputar a estatueta de Melhor Diretor ambos com possibilidades mínimas de vitória. Sobra uma vaga na disputa.

Caso resolva ir pela coerência em indicar o cineasta de um filme com muitas indicações, a Academia dá a vaga para o novato Morten Tyldum por “O Jogo da Imitação”. Se optar por um diretor considerado um dos melhores do cinema americano dos últimos anos, crescem as chances de David Fincher com “Garota Exemplar”. Há também a possibilidade dos diretores queridinhos da Academia surgirem como Mike Leigh por “Mr. Turner” e Bennett Miller com “Foxcatcher”. As surpresas podem ficar por conta de Damien Chazelle por “Whiplash” ou J.C Chandor com “A Most Violent Year”.

Angelina Jolie, Clint Eastwood e Christopher Nolan irão assistir o Oscar 2015 de casa.

PicMonkey CollageMELHOR ATOR

Sem dúvida, a categoria de Melhor Ator é, de longe, a mais imprevisível de todas. Se em 2014, Matthew McConaughey (“Clube de Compras Dallas”) e Leonardo DiCaprio (“O Lobo de Wall Street”) se destacavam dos demais, a disputa para 2015 mostra muita gente embolada e com possibilidades de vitória.

Vamos aos nomes certos: Michael Keaton (por “Birdman”) será o representante do resgate feito pela Academia para atores que voltam ao sucesso depois de uma longa série de fracassos; Benedict Cumberbatch (por “O Jogo da Imitação”) vai se consolidar como a mais nova  estrela de Hollywood capaz de participar de produções sérias assim como super-heróis (no caso, ele será o “Doutor Estranho”); Eddie Redmayne (por “A Teoria de Tudo”) entra na cota de aposta de futuro talento de Hollywood e interpretação corporal do ano.

Favorito? Por ora, Keaton.

Vez da turma com boas chances de pegar as duas vagas restantes: a indicação de Steve Carell (por “Foxcatcher”) pode representar uma oportunidade da Academia em prestigiar um talentoso ator fazendo um papel desafiador e uma chance única para nomeá-lo, já que a comédia continua sendo um gênero desprezado no Oscar; Jake Gyllenhaal (por “O Abutre”) seria o reconhecimento a um sujeito que está vivendo a melhor fase da carreira, mas ainda não conseguiu transformar isso em prêmios; David Oyelowo (por “Selma”) interpreta o ativista Martin Luther King, o que por si só já o coloca com boas possibilidades.

Possíveis surpresas: Timothy Spall (por “Mr. Turner”) traz como credenciais a vitória de Melhor Ator no Festival de Cannes deste ano e o carinho que a Academia tem com intérpretes ingleses; Ralph Fiennes (por “O Grande Hotel Budapeste”) depende muita da força como o filme vai chegar no Oscar, pois, o tom bem-humorado do personagem pode atrapalhar pela preferência constante por atuações dramáticas; Oscar Isaac (por “A Most Violent Year”) luta para conseguir aparecer em uma produção com poucas chances em outras categorias.

Azarões: Bill Murray (por “Um Santo Vizinho”), Milles Teller (“por Whiplash”), Joaquin Phoenix (por “Vício Inerente”), Ellar Coltrane (por “Boyhood”) e Bradley Cooper (por “Sniper Americano”).

PicMonkey CollageMELHOR ATRIZ

Há certos momentos em que se torna consenso dentro indústria do cinema a necessidade de premiar um ator/atriz/diretor com um Oscar. Isso serve para mostrar o reconhecimento àquela figura e celebrar toda uma trajetória artística nunca reconhecida pela Academia. Martin Scorsese (por “Os Infiltrados”), Kate Winslet (por “O Leitor”) e Christopher Plummer (por “Toda a Forma de Amor”) foram exemplos recentes desse tipo de caso.

Chegou a vez de Julianne Moore receber o primeiro Oscar da carreira. O prêmio seria o tal reconhecimento a uma ótima atriz que resolveu deixar de lado tranqueiras como “O Vidente” e o remake de “Carrie – A Estranha” para se concentrar em produções mais conceituadas. Se não tem chances de concorrer por “Mapa das Estrelas” pelo fato do filme não ter sido lançado a tempo de conseguir indicações na temporada de premiações, ela deve ser consagrada pelo filme “Para Sempre Alice”. E o projeto tem a cara de premiação do Oscar: mulher bem-sucedida começa a sofrer os primeiros sintomas do Mal de Alzheimer.

Como a Academia não pode simplesmente entregar a estatueta para Julianne Moore, será preciso indicar outras quatro atrizes. O retorno de Reese Whiterspoon com o drama de auto-ajuda “Livre” deve render uma nomeação. As revelações Felicity Jones por “A Teoria de Tudo” e Rosamund Pike em “Garota Exemplar” são outras apostas certeiras na categoria de Melhor Atriz.

Resta uma vaga. E aí, o negócio fica feio.

Se o mundo e a Academia fossem justos, Marion Cotillard seria recompensada por uma das duas excelentes atuações (“Era uma Vez em Nova York” e “Dois Dias, Uma Noite”) feitas neste ano. A atriz francesa, porém, foi simplesmente sacada tanto do SAG quanto do Globo de Ouro, apesar dos elogios unânimes da crítica americana. Jennifer Aniston com o filme “Cake” aproveitou o vácuo e arrebatou duas indicações nas premiações. Emplacar a ex-estrela da série “Friends” seria uma forma de Hollywood estimular uma atriz carismática e popular a buscar projetos mais ousados para vir mais forte em temporadas de premiações no futuro, fora a possibilidade de atrair audiência no mundo inteiro.

Mesmo com um filme pouco badalado (“The Homesman”), Hilary Swank nunca pode ser colocada como carta fora do baralho. Vale lembrar os dois Oscars na prateleira por “Meninos Não Choram” e “Menina de Ouro”. Antes apontada como possível concorrente, Amy Adams viu as chances despencarem com a fraca repercussão de “Grandes Olhos” e Shailene Woodley precisa de um baita milagre para disputar com o drama “A Culpa é das Estrelas”.

PicMonkey CollageMELHOR ATOR COADJUVANTE

A Academia terá que se decidir entre dois atores queridos pelo público e na indústria do cinema: J.K Simmons conseguiu deixar o estigma de ser um coadjuvante de luxo sem grande coisa para fazer e rouba a cena em “Whiplash”; já Edward Norton sempre foi respeitado por ser um dos melhores atores surgidos nos EUA nos últimos 20 anos e volta a fazer um grande filme com “Birdman”. Ambos são favoritos e a disputa deve ser cabeça a cabeça.

Dois nomes certos na disputa são Ethan Hawke com “Boyhood” e Mark Ruffalo por “Foxcatcher”. Ambos conseguem dar um salto no que vinham fazendo ao longo da carreira e apresentam trabalhos marcantes. São indicações capazes de fortificar um futuro Oscar.

Robert Duvall deve fechar a lista pelo trabalho em “O Juiz”. Grande nome da história do cinema americano, o ator se esforça o quanto pode para melhorar o nível de um filme fraco. Há uma pequena chance dele surpreender e levar a estatueta, pois, seria a forma da Academia dar o segundo Oscar da carreira de Duvall.

Josh Brolin em “Vício Inerente”, Tom Wilkinson por “Selma” e Chris Pine com “Caminhos da Floresta” tentam uma surpresa de última hora.

PicMonkey CollageMELHOR ATRIZ COADJUVANTE

O favoritismo de Julianne Moore na categoria principal se transfere para Patricia Arquette como Melhor Atriz Coadjuvante. Ao lado de Ellar Coltrane, ela consegue ser a alma de “Boyhood” e vai dar o prêmio de atuação para o grande candidato a Melhor Filme. Será também a oportunidade de fazer um resgate nos moldes do que pode ocorrer com Michael Keaton.

Keira Knightley por “O Jogo da Imitação” e Emma Stone com “Birdman” serão lembradas com indicações e mostram como a Academia reconhece o esforço das duas atrizes em crescer profissionalmente com escolhas de papéis mais adultos e desafiadores. Pode servir para amadurecer o processo de uma futura estatueta.

Para variar, a Academia não deve deixar Meryl Streep de fora por dois anos seguidos. Indicação garantida por “Caminhos da Floresta”. Naomi Watts lembrada no SAG por “Um Santo Vizinho” e Jessica Chastain nomeada no Globo de Ouro com “A Most Violent Year” disputam a vaga restante. Pela emocionante atuação em “Livre”, Laura Dern pode ser a zebra da categoria.

* Texto original alterado para substituir a equivocada expressão humor negro.