Em 2018 o Marvel Studios lançou Pantera Negra, um fenômeno cultural de grande impacto em termos de representação nas telas, e Vingadores: Guerra Infinita, outro… bem, fenômeno de impacto sobre a cultura pop e o próprio universo que vinha sendo construído ao longo de uma década. Frente a essas duas bombas atômicas, é inegável que Homem-Formiga e a Vespa é o filme “menor” do estúdio em 2018. Mas, felizmente, quando se trata da Marvel, até estes filmes menores têm valido o ingresso e comprovam que o estúdio, a maior força de Hollywood e da cultura pop no momento, simplesmente não sabe mais errar – sério, o último filme da Marvel do que ainda se falou (um pouco) mal foi Vingadores: Era de Ultron (2015), há três anos, e de lá para cá não foi lançado um filme Marvel que não fosse, no mínimo, bom.

Um dos que foi lançado nestes últimos três anos foi o primeiro Homem-Formiga (2015), uma acertadamente despretensiosa mistura de aventura, comédia e filme de roubo que levou para as telas aquele que deve ser o mais bobo herói Marvel. Esta continuação reúne quase todos os participantes do primeiro e se ambienta pós-Capitão América: Guerra Civil (2016). Scott Lang está em prisão domiciliar por ter se envolvido na guerra dos heróis e quer obedecer à lei, mas é chamado de volta à ação por Hope (Evangeline Lilly) e Hank Pym (Michael Douglas) para ajuda-los num plano para trazer de volta do encolhimento absoluto Janet (Michelle Pfeiffer), a primeira Vespa, esposa de Hank e mãe de Hope.

Quem também retorna é o diretor Peyton Reed, que se mostra ainda mais à vontade com os efeitos visuais do filme, tornando-o mais inventivo visualmente do que sua primeira investida. As cenas de ação são muito dinâmicas e criativas, mostrando personagens encolhendo e aumentando de tamanho em ritmo frenético, e algumas delas devem ficar na memória do espectador, como a da Vespa correndo ao longo de uma faca ou uma perseguição de carros – com ao menos um deles minúsculo – pelas ruas de San Francisco.

Outro momento divertidíssimo criado pelos efeitos visuais é quando vemos o ator Paul Rudd em “escala menor” na cena da escola. Isso revela o maior mérito de Reed, a sua condução da história, leve e despretensiosa. Homem-Formiga e a Vespa tem um tom meio de Sessão da Tarde, o que não é demérito – nem todo filme de super-heróis precisa envolver salvar o mundo; aliás, a Marvel já apontou que é a variação que permitirá a este subgênero ter uma vida longa. É uma aventura familiar – não à toa o tema familiar, de pais e filhas, famílias se reencontrando, é forte dentro do filme, sem ser martelado na cabeça do espectador de uma forma óbvia ou opressora. Scott Lang só quer ser um bom pai, Hope Van Dyne só quer sua mãe de volta. Os heróis desta vez são “gente pequena” no sentido de terem motivações pequenas ao invés dos seres superpoderosos, milionários e deuses de outras produções do Marvel Studios, o que representa um refresco, um alívio depois dos dramas dos filmes mais recentes.

O elenco também é outro acerto do filme. Paul Rudd e Evangeline Lilly continuam muito carismáticos, como qualquer espectador do primeiro filme pode lembrar, e a Vespa recebe várias oportunidades para demonstrar sua força e competência como heroína. Mas mesmo eles de vez em quando têm cenas roubadas por outros nomes como a pequena Abby Ryder Fortson, no papel da filhinha de Lang, e os divertidos Walton Goggins e Michael Peña. É o tipo de filme no qual se percebe a diversão dos indivíduos em frente às câmeras, e felizmente essa diversão passa para o lado de cá da tela.

Claro, é um filme com alguns problemas pontuais. A situação da vilã Fantasma (Hannah John-Kamen) é estabelecida de forma meio vaga e o filme às vezes se move rápido demais para o seu próprio bem: certas desenvolvimentos da trama poderiam ser mais explorados. Mas, para seu mérito, o roteiro esperto zoa com sua própria fixação na física quântica como explicação para tudo na trama e com a sua busca por um MacGuffin atrás do outro. Então embora haja alguma lombada ocasional no meio do caminho, o filme oferece boas ideias o suficiente para não atrapalhar a diversão.

E diversão é o objetivo aqui. Para seu próprio bem, os realizadores de Homem-Formiga e a Vespa sabem que seu filme é menor dentro do Universo Marvel. Porém, conseguiram fazer da segunda aventura de Scott e Hope algo mais divertido, mais seguro e criativo que a primeira, uma leve e gostosa sobremesa depois das duas grandes refeições servidas este ano, demonstrando assim a inteligência do pessoal do Marvel Studios. Afinal, um filme menor não é necessariamente sinônimo de um filme pequeno.