Enquanto assistia “Minimalism: A Documentary About the Important Things”, dois personagens da ficção alternavam em meus pensamentos: O primeiro é Tyler Durden de “Clube da Luta” e o segundo é Don Draper de “Mad Men”.

Do personagem de Brad Pitt eu lembrava da frase: “compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar as pessoas que não gostamos”. Já do Jon Hamm: “Propaganda é baseado em uma coisa: felicidade. E você sabe o que é felicidade? Felicidade é cheiro de carro novo. É a liberdade pelo medo. É o outdoor na rua gritando ao reafirmar que o que você fizer estará ok. Você estará bem”. Não existem personagens com ideias mais antagônicas.

Uma das teclas que o documentário dirigido por Matt D’Avilla é justamente isso, felicidade. A forma como a publicidade vende a ideia de felicidade a partir do maior número de coisas que conseguimos comprar e reter. Crescemos bombardeados por propaganda enaltecendo produtos e a necessidade de adquiri-los, de que precisamos, e no fundo é tudo fruto de uma pressão imposta tanto pela sociedade, e principalmente pelo mercado.

“Minimalism…” conta a história de dois amigos (Joshua Fields e Ryan Nicodemos) que insatisfeitos com a vida que levavam, encontram a felicidade ao abdicar das coisas materiais e apenas viverem com aquilo que consideram essencial. O documentário mostra também a missão dos dois de transmitirem suas experiências e forma de vida através de palestras pelos Estados Unidos. E além de contar essa aventura da dupla, o filme intercala pautas e depoimentos de especialistas, estudiosos e pessoas que aderiram a causa, desse movimento que vem ganhando novos adeptos a cada dia, e que busca lutar contra o consumo desenfreado.

A montagem é inteligente ao intercalar esses depoimentos de maneira natural à medida em que o filme vai avançando com a dupla, o que o transforma em uma espécie de road movie em que fica clara a evolução do trabalho dos dois. Observe a maneira como eles vão sendo recepcionados com desconfiança nos primeiros locais e a medida em que as palestras vão acontecendo, elas vão ficando cada vez mais cheias.

A forma como ele enquadra os entrevistados é interessante, pois alguns deles já encontram-se em seus locais transformados, em suas novas vidas, alguns morando em locais bem pequenos, e é incrível a sensação de espaço que poderia soar claustrofóbica e fica longe disso, já que praticamente alguns abdicam de móveis que não usam e possuem guarda-roupas menores. Já em outros que moram em locais maiores, o espaço fica infinitamente maior, observe por exemplo a cozinha de uma das famílias adeptas ao minimalismo. Tudo isso ajuda a passar a sensação de uma vida menos complicada, de uma casa menos bagunçada, poluída e menos sufocante.

Ainda para reforçar a ideia é interessante como a direção opta em mostrar através de panorâmicas os cenários urbanos e das estradas, como se as pessoas estivessem presas a uma ideia, a uma “matrix” como diz um dos convidados em um momento e deixando de lado as coisas que realmente importam passarem. A sociedade hoje fica grudada na mídia, na tela do smartphone, nas redes sociais, esperando próximo celular da moda, roupas e acessórios inúteis e como isso acaba respingando na geração futura. As crianças desde pequena já são iniciadas nesse mundo já que muitas já vivem penduradas em tablets e smartphones, e o filme faz questão de mostrar isso, com recortes de imagens. E as promoções acabam por fomentar ainda mais essa visão, e o filme também não poupa o espectador de imagens de pessoas se espremendo em filas, portas de lojas e se agredindo em promoções como blackfridays e lançamentos de novos produtos.

Tecnicamente bem feito e montado, vamos falar dos grandes problema do filme. A começar pela falta de representatividade, e sim isso quase leva toda a ideia do documentário pro buraco. Pois quando “Minimalism” trata de diversidade ele falha bastante, primeiro por todo mundo ali ser claramente bem sucedido. Poderiam mostrar pessoas de outras classes que vivem ou tentam viver assim. Outra coisa é o foco, os homens claramente se mostram adeptos mais fáceis ao minimalismo, enquanto as mulheres tem maior apego a suas coisas, e o documentário sutilmente dá a impressão de reforçar que mulheres são fúteis em dois momentos. Por exemplo um dos participantes (homem) de uma palestra diz que não vai se livrar da sua coleção de livros e a dupla responde que tudo bem, ele pode ser minimalista mesmo assim, se sentir a necessidade de que aquilo o satisfaz, e depois em outro momento Ryan diz que a namorada não é minimalista, pois ela tem 20 pares de sapatos, o que claramente entra em contradição.

Bem intencionado, o documentário é até claro em sua mensagem, mas falha no quesito representação, profundidade (não se aprofunda em como se tornar um minimalista, não mostra o impacto real em suas famílias, em suas vidas) e se contradiz em alguns momentos. No fundo é ironicamente uma propaganda bonita.