Proposto como o primeiro episódio de uma série documental, “NO Controle” joga o foco da câmera para o problema da depressão, reconhecendo a necessidade cada vez mais urgente de se discutir o tema para além dos muitos chavões pré-concebidos sobre a doença. Nessa espécie de episódio-piloto/curta-metragem, acompanhamos o relato de luta de Beto Rocha, diagnosticado com Síndrome de Burnout.

Concebido como produto de uma disciplina de alunos do curso de Tecnologia em Produção Audiovisual da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), “NO Controle” se destaca por, desde o começo, buscar de imediato se distanciar dos aspectos de uma mera entrevista jornalística. Assim, ao depoimento contado por Beto em off se sobrepõem imagens do próprio protagonista que nem sempre correspondem aos seus dizeres – um recurso parecido com aquele usado por Wim Wenders em “Pina” –; imagens gravadas pela equipe em pontos diferentes de Manaus; ou até mesmo cenas de outros trabalhos audiovisuais, que se ligam à história por sua temática, estética ou valor simbólico. Aqui reside a maior qualidade do trabalho dirigido por Henrique Saunier e montado a dez mãos, à medida que costura a história de seu entrevistado com imagens que vão de um abatedouro e de Kim Jong-un a cenas retiradas de filmes de Dziga Vertov e clipes de Placebo e The B52’s.

Em alguns momentos, a metáfora soa óbvia – como o loop temporal em que uma menina se prende em um ponto de Manaus –, e em outros a escolha das imagens parece não casar tão bem com o relato – como as cenas gravadas no festival Grito Rock –, mas, no geral, o saldo é positivo e rende belos momentos que convidam à reflexão, como o que em Beto conta sobre sua relação com a música, e como ela foi afetada pela depressão.

Sofrendo por conta de uma trilha sonora irregular que insiste em perdurar durante quase todo o filme, às vezes beirando até o piegas e transitando de música para outra através de cortes bruscos, “NO Controle” funciona por mostrar passos interessantes para um futuro trabalho expandido acerca do tema. Seja curta ou série, pode-se melhorar consideravelmente e, acima de tudo, consolidar seu papel como um polo de discussões e informações sobre a depressão.