Alguns filmes são tão ruins que acabam ganhando carinho dos amantes da sétima arte, os famosos guilty pleasures. “The Room” (2003), bomba homérica do diretor Tommy Wiseau, é um desses filmes e logo no início de “O Artista do Desastre” (2017), vemos diversos nomes conhecidos demonstrando admiração para com o filme, entre eles, Kristen Bell, Kevin Smith e até J.J Abrams (se eles estão falando sério ou não, cabe a você julgar).

Se “The Room” não for o pior filme da história, olha, chega bem perto. Esta alcunha, com certeza, se deve ao diretor Tommy Wiseau. Uma pessoa que chama a atenção no primeiro momento pelo visual, mas, depois pelos modos e sotaque estranhos – ele jura ser de Nova Orleans – no fim das contas, um ser autêntico, apesar da cafonice. A produção é toda errada: trama bizarra, cenas sem nexo, atuações pífias e um Chroma Key que provoca risos. A forma como esse “atentado” ao cinema foi cometido é o que move “O Artista do Desastre”, dirigido por James Franco.

“O Artista do Desastre” acompanha Tommy Wiseau (James Franco) e Greg Sestero (Dave Franco). Os dois tinham um sonho simples: serem astros do cinema. Ao conhecer o desprezo de Hollywood na figura de um produtor, Tommy convida seu amigo para estrelar um filme que ele mesmo iria produzir, dirigir e dividir os créditos.

O que podemos já destacar é o cuidado de Franco em não transformar tudo em uma grande piada, mas, dar até um grau de inocência para o seus personagens e protagonista, seja resmungando se algo não lhe agrada e a postura de permanente desconfiança. O Wiseau construído pelo ator/diretor passa longe de ser uma caricatura tola. Em mãos descuidadas, poderia se tornar até uma figura repulsiva e patética devido as atitudes do personagem no decorrer de sua produção (a cena de sexo é um exemplo), mas, aqui, só acaba por gerar risos desconfortáveis. O que no filme soa engraçado, com certeza, deve ter sido o horror para a equipe naquele estúdio durante os 40 dias de filmagens.

Acertadamente Franco ainda mantém uma cortina de mistério em cima de Tommy, sua origem, sua fortuna sem fim, idade – os outros personagens até questionam – mas o filme, felizmente, não tenta explicar. Em dado momento, podemos ver o personagem tingindo os cabelos de preto, mas não passa disso.

Outro destaque é Dave Franco: ao dar vida a Greg Sestero, acompanhamos o personagem tendo uma clara desilusão com a figura do melhor amigo. Tão sonhador quanto Tommy, a imagem de herói e referência que o rapaz tem de Wiseau vai sendo desconstruída no decorrer da história. O momento que Wiseau o pressiona para tomar uma decisão acerca da produção é de partir o coração. Dave é irmão de James Franco na vida real, mas é interessante que graças a maquiagem e a composição dos personagens não notamos a semelhança de ambos.

A cereja do bolo do filme mesmo é a refilmagem fiel de várias cenas do filme original. O diretor chega a montar, antes dos créditos, a cena original e a do filme lado a lado. Franco ainda enriquece “O Artista do Desastre” ao mostrar através de diálogos que todos os atores, apesar do trauma que era participar da produção, estavam realizando um sonho também. No fim das contas, o filme se trata disso: a realização do sonho dos rejeitados e como, às vezes algo pode fazer sucesso mesmo que seja da maneira diferente do que foi imaginada. James Franco fez um trabalho memorável a partir de um atentado à sétima arte.