“O Que é Ser Diretor de Cinema”, de Cacá Diegues, é tão direto quanto seu título: o  livro traz lições (e ossos) do ofício desse titã do cinema brasileiro que, a despeito de não ser um nome costumeiramente associado ao cinema de vanguarda, tem uma trajetória longeva em um país onde se fazer cinema é complicado por inúmeros aspectos (vários dos quais ele aborda no livro) e muita história para contar.

Resenha: O Que é Ser Diretor de Cinema, de Cacá DieguesO tom de memória da obra, estruturado como uma grande entrevista (seu conteúdo foi compilado a partir de depoimentos), confere uma informalidade ao livro e o torna ótimo para quem não faz a menor ideia de para onde o cinema vai, dando várias referências a personalidades da Era de Ouro de Hollywood, bem como de movimentos como a Nouvelle Vague e o Cinema Novo – Diegues foi associado a esse último por um período e foi parceiro de Glauber Rocha, diretor que virou sinônimo dele.

Nessa parte, a primeira das quatro que compõem o livro, Diegues se permite digressões sobre o que o atraiu ao cinema para início de conversa, sua trajetória acadêmica, como veio a conhecer Glauber e outros cineastas da época, em um tom bastante pessoal que se mantém até o final da obra, o que meio que entrega a maior limitação do texto: é difícil, senão impossível, abordar todo o escopo do que seria, efetivamente, ser um diretor de cinema, e os realizadores, no fundo, só podem falar do que lhes sucedeu, o que, às vezes, prejudica o material.

No entanto, considerando que o público-alvo da série “O Que É”, de acordo com seus organizadores, são jovens em idade de definição profissional, o tom até faz sentido: é um público que costuma buscar muita identificação no que lê (ainda mais se tratando de uma leitura que poderá influenciar seu futuro) e que responde bem a um estilo de escrita baseado na pessoalidade, com um quê de troca de experiências.

Do ponto de vista prático, as melhores partes da obra são as partes dois e três, que se debruçam sobre o processo cinematográfico em si e um pouco da ética da profissão, e são os momentos em que Diegues consegue achar um tom mais universal para falar do cinema, se utilizando como exemplo, mas não se detendo em sua própria atividade.

Além disso, a última parte, em que o diretor discute aspectos de sua filmografia obra a obra (até “Deus É Brasileiro”, a última dirigida quando o livro foi escrito) também é um achado, principalmente para quem se interessa por cinema brasileiro.

Por fim, as notas de rodapé são um show à parte (em vários trechos, elas ocupam quase que a totalidade da página), provendo uma espécie de glossário para os nomes indispensáveis para quem quer conhecer cinema: Jean-Luc Godard, Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, Stanley Kubrick, entre outros. Elas, combinadas com a extrema clareza do texto, dão uma aura bastante didática ao livro, tornando-o uma pequena introdução à sétima arte ideal para não iniciados e válido como orientação para quem quer trabalhar com ela.