Antes de tudo, uma confissão, leitor, em nome da honestidade: eu me desliguei de Star Wars desde o final de 2019, quando fui ao cinema testemunhar o desastre A Ascensão Skywalker. Sério, o filme do J. J. Abrams conseguiu realizar a façanha de pegar meu entusiasmo pela franquia e colocá-lo numa geladeira dentro da minha alma. Não vi O Mandaloriano, não vi O Livro de Boba Fett, nem sequer revi algum dos filmes antigos desde então. Foi nesse nível em que fiquei com a franquia: meu desânimo foi maior que a minha curiosidade a cada vez que estreava alguma nova série de Star Wars no Disney +.

Agora, retorno à galáxia muito, muito distante para fazer a cobertura semanal de Obi-Wan Kenobi para o Cine Set. As duas primeiras partes da minissérie, que trazem de volta ninguém menos que Ewan McGregor ao papel do mestre Jedi, foram o suficiente para reacender meus sentimentos pela franquia? Ainda não, mas são dois bons episódios, sem nada demais a não ser pela atuação de McGregor, que entretêm e possuem algumas qualidades. Vamos ver se até o final da temporada volto a amar Star Wars…

Ambientada entre os Episódios III e IV da saga no cinema – e dez anos após o extermínio dos Jedis – a série retoma Kenobi, escondido no planeta desértico Tatooine e vigiando de longe o crescimento do pequeno Luke, filho do seu ex-amigo e agora tirano intergaláctico Anakin Skywalker, o Darth Vader. Os Inquisidores, uma casta de Siths, ainda caça os últimos remanescentes dos guerreiros que antes protegiam a galáxia, e ao menos um deles, a sinistra Reva (Moses Ingram), se mostra determinada a encontrar Kenobi. Este, por sua vez, é o típico guerreiro samurai relutante, que não quer se envolver com nada. As coisas mudam quando acontece algo envolvendo Leia, a outra filha de Anakin, e o velho mestre Jedi se vê forçado a voltar à ação.

Claro, o grande destaque destes primeiros episódios – e suspeito, da minissérie inteira – é o trabalho de McGregor, agora com mais rugas e sentindo o peso da tragédia dos Jedis sobre os ombros. O ator aqui traz um pouco da melancolia que tão bem lhe serviu, por exemplo, em Doutor Sono (2019), e nos fornece indícios da força de um samurai/caubói que vai aos poucos emergindo durante a narrativa. E assim que McGregor fala, aproximando-se da cadência e do tom do lendário Alec Guinness que viveu o personagem na trilogia original, o ator demonstra a inteligência e a facilidade com a qual retorna ao personagem – é como rever um velho amigo, agora mais triste e cansado, mas é bom reencontrá-lo mesmo assim.

A Parte 1, basicamente construída em torno dessa melancolia com algumas doses de suspense causadas pela presença dos Inquisidores, é a melhor, justamente por mexer com esses arquétipos – o herói, os vilões, o cenário de western – e dar-lhes vida com a atuação do protagonista e com o trabalho da diretora Deborah Chow. E para dar mérito ao roteiro, o fato de enfocar Leia ao invés de Luke, que já teve muito espaço, ajuda a narrativa a escapar um pouco do óbvio e a trazer um frescor para a minissérie.

Quando a aventura começa de fato na Parte 2, entramos num território mais familiar para Star Wars, com a ação se passando em um planeta que lembra a Los Angeles de Blade Runner (1982). Há correria, ação e um pouco de humor. Claro, a interação entre McGregor e a pequena Leia (vivida pela atriz Vivien Lyra Blair, a definição da fofura) é legal, mas o episódio comete o pecado de colocar dois personagens que sabemos que vão sobreviver em perigo constante. Além disso, as motivações para o comportamento de Reva e do trambiqueiro Haja (interpretado por Kumail Nanjiani) até o momento ficam muito mal explicadas.

Os próximos episódios prometem alguns desdobramentos interessantes para esse período de lacuna narrativa dentro do universo Star Wars. Obi-Wan Kenobi, até o momento, não reinventa a roda nem faz nada de muito criativo, mas a ambientação e a presença de McGregor tornam esses primeiros episódios agradáveis. Se o presente imediato da franquia pertence às séries, ao menos esta aqui teve um bom começo. Não ótimo, mas ao menos interessante e satisfatório.