A comédia é um gênero com o incrível potencial de ser genial ou medíocre. No primeiro caso, o riso geralmente se estende à reflexão ao travar um diálogo entre o cômico e o tocante, a exemplo de um “Tempos Modernos” (1936), de Charles Chaplin; no segundo caso, temos produtos como “Os Estagiários”: você assiste, dá uma risada ou outra e nada muda na sua vida após isso. Se tal característica é negativa ou não, cabe a cada espectador julgar.

Em “Os Estagiários”, acompanhamos as peripécias (mais ou menos) engraçadas de Billy (Vince Vaughn) e Nick (Owen Wilson), quarentões que decidem tentar a sorte como estagiários do Google após serem demitidos de seus empregos anteriores. Aceitos de maneira nada ortodoxa na competição pela vaga, eles enfrentam desafios como não entender lá muita coisa de tecnologia e terem colegas de trabalho com perfis completamente diferentes dos seus, tais como um geek que não desgruda do smartphone ou o nerd asiático, dentre outros personagens estereotipados.

Considerado por muitos como uma propaganda disfarçada do Google, o filme aposta no carisma (não tão carismático assim) da dupla Vaughn e Wilson para dar vida aos momentos cômicos. Pelo fato de estes nem sempre funcionarem, a impressão de comercial que força a barra ao adentrar no espaço da sala de cinema acaba se fortalecendo no decorrer dos nada curtos 119 minutos de duração.

Mais que deixar o espectador na dúvida de quão forçado o fator publicitário é nesse filme, “Os Estagiários” comete um erro primário para uma comédia: muitas das situações “cômicas” não têm tanta graça, gerando mais sorrisos amarelos que gargalhadas para uma boa fatia do público. Percebe-se aí que a tentativa de repetir o sucesso da parceria de Vaughn e Wilson em “Penetras Bons de Bico”, também calcada muito no improviso e no “charme” dos atores, necessitaria de um melhor suporte do roteiro para dar certo novamente em “Os Estagiários”.

Verdade seja dita, seria demais esperar um filme maravilhoso de Shawn Levy. O cara dirigiu os péssimos “Doze é Demais” (2003) e “A Pantera Cor de Rosa” (2006), além dos minimamente aceitáveis “Uma Noite no Museu” (2006) e “Uma Noite Fora de Série” (2010); porém, não se pode negar que o público compareceu razoavelmente às sessões de cada uma dessas comédias insossas, e nenhuma grande rejeição foi relatada (pelo menos não pela parte do público; já pela parte da crítica…).

O mais provável é que esse mesmo movimento de repita em relação a “Os Estagiários”, apesar de o filme ter tido uma recepção nada calorosa nos Estados Unidos. Dessa forma, o filme é mais recomendável para o público que busca apenas 120 minutos de descanso mental acomodado na poltrona do cinema com sua pipoca e refrigerante em mãos. Se esse não é o seu caso, é melhor esperar pela próxima leva de estreias nos cinemas.

Pôster de Os Estagiários, com Owen Wilson e Vince Vaughn