Para usar uma analogia musical, Pets: A Vida Secreta dos Bichos é como o chamado pop “chiclete”, o tipo de música que fez a carreira de Britney Spears e Backstreet Boys outrora, e de Rihanna, Katy Perry e Taylor Swift hoje: inegavelmente divertido, agradável e até memorável (pense nas obras de Max Martin para essa turma), mas tão calculado e impessoal que dificilmente vai atrair quem busca mais do que uma batida alegre, ou uma melodia (para cunhar uma expressão) melosa. A nova animação da Illumination Entertainment, da série Meu Malvado Favorito (e de seu filho arrasa-quarteirão, Minions) é tudo isso – ou apenas isso.

Divertido, agradável e quase memorável, se não lembrasse demais o primeiro Toy Story (1995), dos estúdios Pixar, Pets: A Vida Secreta dos Bichos é um trabalho simpático, alto-astral e que certamente deve atrair um público vasto (só na semana de estreia, o filme já fez 104 milhões de dólares, a maior abertura do gênero fora das produções Disney), mas que não traz personagens inesquecíveis ou uma trama particularmente inventiva. Trata-se de um filme que se contenta em ser um passatempo – e, se você espera mais do que isso, e não aceita condescendências com uma animação voltada para o público infantil (como se as produções para crianças devessem ser apenas bonitinhas e descartáveis, como um brinquedo), o resultado final pode ser frustrante.

Max (Louis C. K./Danton Mello no Brasil) é um Russell Terrier alegre e tranquilo, absolutamente apaixonado pela dona, Katie. Os dois levam uma vida sem sobressaltos até a chegada de Duke (Eric Stonestreet/Tiago Abravanel), um cão enorme e peludo, que é adotado por Katie depois de ser encontrado na rua. A disputa de poder dos animais, como a de Woody e Buzz naquele outro filme, acaba levando-os a se perder de casa e cair nos domínios do rebelde Bola de Neve (Kevin Hart/Luís Miranda), um coelho abandonado por seus antigos donos, que lidera uma comunidade subterrânea de rejeitados e maquina um plano para acabar com a humanidade insensível. No encalço de Max e Duke está Gigi (Jenny Slate/Tatá Werneck), uma Lulu da Pomerânia apaixonada pelo protagonista, e que recruta os amigos e vizinhos de Max – os cães Mel e Buddy, a gata Chloe, o falcão Tiberius – para encontrá-los na vastidão de Nova York.

Não é só a trama a única similaridade entre Pets e Toy Story. A sacada de fazer dos animais uma coisa quando os donos estão por perto, e outra completamente diferente quando saem, também é emprestada daquele filme. Aqui, pelo menos, isso rende algumas ótimas gags, como a do cão Leonardo, um poodle empertigado que, assim que o dono sai, troca a música clássica do MP3 para se sacudir com heavy metal. Infelizmente, como eu disse lá em cima, tudo é altamente previsível, e tanto pior, para Pets, se você assistiu ao filme da Pixar. A falta de um vilão mais marcante, como o Sid de Toy Story, ou de um senso maior de perigo para os protagonistas – só na sequência da víbora e no final você sente que eles correm algum risco sério – também pesa contra a obra do diretor Chris Renaud (co-autor da série Malvado). Um elemento que poderia ser um diferencial, a música de Alexandre Desplat (das belas trilhas de Moonrise Kingdom e O Discurso do Rei) também desaponta: só o tema inicial, ouvido na abertura e nos créditos do filme, chama a atenção, e o uso reiterativo de canções pop (Taylor Swift na abertura, que homenageia Nova York; Queen no sonho de amizade de Tiberius) diz muito sobre a vontade de Pets de agradar, mesmo que pela via mais fácil e óbvia.

Nem tudo no filme é repetição – o destaque dado a Gigi, o bom desenvolvimento dos coadjuvantes, a mensagem de amor aos animais, o visual esfuziante, hipercolorido, que vem se tornando a marca das animações Illumination –, mas não deixa de incomodar a falta de uma personalidade mais própria para a produção, dados os grandes sucessos e as crescentes possibilidades do estúdio. Ao fazer um filme tão redondo, tão talhado para vender – tão “chiclete”, afinal –, a empresa desperdiça uma oportunidade de dar um salto criativo, um departamento onde a DreamWorks, a Blue Sky e até a própria Pixar, com suas trajetórias irregulares nos últimos anos, vêm desapontando. Pets 2 pode até vir a ser um grande filme, mas, aqui, pelo menos, a turma por trás de Malvado também derrapou.