Inspirado em uma história real, “Pureza” retrata a história de uma mulher homônima, interpretada por Dira Paes, na incessante busca por encontrar e libertar o filho. O jovem Abel (Matheus Abreu) saiu de casa na esperança de conseguir trabalho no garimpo, mas some sem dar notícias.

Dirigido por Renato Barbieri (“Cora Coralina – Todas as vidas”), o longa utiliza uma abordagem exagerada em sua narrativa, perdendo a mão no drama e situações que tenta criar para emocionar o espectador. Pureza acredita que o filho foi levado para uma fazenda no interior do Pará, onde está submetido a trabalho análogo à escravidão. A trama embarca nas adversidades que a protagonista precisa encarar para salvar Abel.

FALTA DE DESENVOLVIMENTO MÍNIMO

Desde a montagem utilizando flashbacks nada sutis até a trilha sonora carregada, “Pureza” se estabelece como um filme apelativo. A gravidade do tema retratado somada à luta real de Pureza Lopes Loiola, ativista contra o trabalho escravo e de cuja história se baseia o filme, não sustentam uma obra cujo desempenho narrativo é irregular.

Tudo soa caricatural no filme, uma obra distanciada dos personagens, sejam protagonistas ou vilões. A abordagem destinada aos antagonistas da história é protocolar, quase vazia, submetendo quem assiste ao filme ao dever moral de odiá-los.

Não se desenvolvem os aspectos econômicos e políticos da situação apresentada, uma maior investigação sobre o tema ou mesmo sobre a região onde “Pureza” se passa o filme.

GENERALISMO PREDOMINA

A personagem de Dira Paes é unidimensional, uma retratação que, na ânsia de glorificar uma personagem grandiosa, acaba por diminuí-la, como se seus feitos por si só garantissem uma construção adequada, como se as ações fossem o apelo natural de uma mãe e não tratados concretos de uma pessoa específica em uma situação específica.

O generalismo em torno da figura materna também pode ser visto na construção imagética da obra. O calor nortista retratado da forma mais comum possível, o amarelado em tela construindo uma imagem até estereotipada dessa região do país, principalmente quando colocada em contraposição a Brasília que aparece no filme, uma cidade fria, mais apática, onde urge as falsas intenções e promessas dos políticos.

Tudo muito simplório, transformando uma história real impressionante em algo raso, apelando para a construção de uma emoção que nunca chega. “Pureza” decepciona por construir um universo óbvio, apostando apenas na força de sua temática, mas com um pobre desenvolvimento audiovisual.

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