Quando vi a primeira vez o trailer de “Rampage” há algumas semanas, pensei que tinham projetado errado e posto o trailer de Jumanji. Estava enganada, mas nem tanto. A produção dirigida por Brad Peyton é mais uma de suas obras estrelada por Dwayne Johnson e que se apoia no carisma e propensão a atos heróicos do ator.

‘Rampage: Destruição Total’ é inspirado no game de mesmo nome, lançado em 1986, era do arcade, no qual o jogador controlava três monstros que fugiam de ataques das forças militares. O filme tenta se organizar partindo do motivo que leva a situação projetada no game. De forma despretensiosa o longa passeia por alguns gêneros até conseguir se firmar na ação que envolve a perseguição aos animais alterados geneticamente.

Não é novidade a dificuldade encontrada para adaptar narrativas de games para o cinema. “Rampage” não é uma exceção e apesar das nuances cômicas, efeitos visuais e até planos fotográficos interessantes, a condução da trama não chega a ser um clichê, mas sim inconsistente, ainda mais levando-se em consideração o tempo de duração da projeção.

Entre as fraquezas mais pontuais da obra está o trabalho não feito com os personagens. Apesar de saber que por sua condução o roteiro é inclinado a ser cinema de peripécia e não de personagem, não dá pra passar a mão na cabeça de uma narrativa que tira seus propensos vilões de cena, sem que eles realmente tomem atitudes que possa designá-los realmente por antagonistas da trama. Como é o caso do personagem de Joe Manganiello, que tem todas as características visuais para acreditarmos que terá relevância na trama, mas o seu tempo em cena é suficiente apenas para desapontar.

Caso semelhante é de Jeffrey Dean Morgan, que parece não ter saído do set de The Walking Dead já que o agente Russel parece ser só um disfarce de Negan, com todo o egocentrismo, sarcasmo e senso de humor que Morgan efetivou em torno do personagem. Se não fosse por isso, a situação de seu personagem seria tão ruim quanto a de Manganiello, apesar da tentativa de alívio cômico entre ele e Johnson.

Johnson, por sinal, é o grande propulsor do filme, sendo mais do mesmo dentro do tabuleiro de personagens rasos que ficam eclipsados por ele ou pelos monstros. Isso inclui Naomi Harris e Malin Akerman, que usa sua expressão facial para entregar uma vilã caricata e que prende a frieza na poker face.

Afora essa construção precária, os diálogos expositivos, as piadas batidas sem humor e a rapidez com que o roteiro apresenta reviravoltas, que não convencem, só salienta que o grande trunfo de Peyton concentrou-se nas cenas de destruição de Chicago e sua tentativa paralela de recriar e homenagear icônicas cenas de animais destruindo torres em prédios de grandes metrópoles norte-americanas. O que soou mais uma vez inconsistente.

Rampage pode até ser um filme divertido, rodeado de vergonhas alheias, mas suas precariedades dificultam que valha a pena seu tempo de duração e que algo se fixe ao fim da sessão. Quem sabe não sejam esses monstros que Dwayne Johnson realmente precise combater em seus próximos projetos.